É comum encontrar quem diga que grandes filmes começam com bons roteiros, o que é uma grande verdade. Alguns deles chegam a demorar anos sendo escritos. Outros são adaptados de livros e peças teatrais de sucesso. Mas também é um fato que esses textos não são inalteráveis. Quando estão diante de uma cena que não está ficando boa em sua gravação, bons diretores modificam ou até mesmo cortam trechos de diálogos para alcançar um resultado melhor. Em outros instantes, essa mudança é espontânea e chega a partir dos próprios atores. Hoje, relembramos 11 cenas que foram resultados de improvisos nas atuações:

Malcolm McDowell em “Laranja Mecânica” (1971)
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Ao invadir a casa de Frank Alexander, Alex espanca o escritor e se prepara para violentar sexualmente a esposa dele enquanto canta “Singin’ in the Rain”, música famosa pela interpretação de Gene Kelly no filme “Cantando na Chuva” de 1952. Acontece que inicialmente a aparição dessa canção não estava planejada. Em um ensaio, Stanley Kubrick achou que a cena estava muito comum e perguntou se o Malcolm McDowell não poderia dançar. O ator não só dançou como também cantou.
Malcolm McDowell (no centro da imagem) improvisa em “Laranja Mecânica”.

Marlon Brando em “O Poderoso Chefão” (1972)

Logo na primeira cena do filme, na qual o Amerigo Bonasera (Salvatore Corsitto) vai até o Don Corleone pedir justiça pela violência cometida contra sua filha, nós vemos o mafioso italiano com um gato nas mãos. Todavia, a presença do animal não estava prevista. Ele simplesmente apareceu durante a gravação e o Marlon Brando decidiu utilizá-lo em sua atuação.

Marlon Brando com o gato nas mãos.

Richard S. Castellano em “O Poderoso Chefão” (1972)

Ao retornar para o carro, após o Paulie Gatto ser assassinado, o Clemenza deveria dizer apenas “deixe a arma”, conforme indicado no livro e no roteiro. Todavia, o ator decidiu dizer “deixe a arma e pegue o cannoli”. Ao adicionar o interesse pela comida logo após a morte de um homem, Castellano ajudou a demonstrar como matar era algo natural para o seu personagem.

A direita da imagem, Richard S. Castellano improvisa em cena.

Robert De Niro em “Taxi Driver – Motorista de Taxi” (1976)

Na cena em que o Travis Bickle se olha no espelho apontando uma arma, não havia nenhuma frase planejada para ser dita. Entretanto, o diretor Martin Scorsese falou para De Niro que ele poderia dizer algo se desejasse. Então o ator improvisou um “você tá falando comigo? Você tá falando comigo?”.

Robert DeNiro como Travis Bickle.

Dustin Hoffman em “Kramer vs. Kramer” (1979)

A relação do ator com Meryl Streep nas filmagens foi marcada por várias atitudes de Hoffman que desagradaram a atriz. E um desses fatos é relativo a uma improvisação em cena. No momento em que a Joanna Kramer retorna pela primeira vez e conversa com o Ted no restaurante, Dustin quebra uma taça de vinho na parede durante a discussão dos personagens. O gesto não estava previsto no roteiro e foi visto como desrespeitoso pela atriz, pois ele não combinou antes que faria isso.

Dustin Hoffman posicionando o copo antes de atirá-lo na parede.

Harrison Ford em “Star Wars: Episódio V – O Império Contra-Ataca” (1980)

Na cena onde Han Solo está prestes a ser congelado em carbonita, a Princesa Leia se declara e diz “eu te amo”. Estava previsto que o piloto da Millennium Falcon respondesse “eu também te amo”, mas a fala não estava ficando boa. Em uma das tentativas de gravar o momento, Ford disse um “eu sei” em uma improvisação que define bem seu personagem.

Harrison Ford na cena em que Han Solo diz “eu sei”.

Rutger Hauer em “Blade Runner” (1982)

Antes de gravar essa tocante cena final, o ator já havia feito várias alterações no texto, sem mudar seu sentido, mas tornando ele mais natural e emotivo. Todavia, a ideia genial de dizer que as memórias seriam perdidas “como lágrimas na chuva” só surgiu no momento da filmagem com a água caindo sobre seu rosto. Graças a essa frase, aquele discurso é considerado um dos maiores da História do Cinema.

Rutger Hauer em um monólogo inesquecível.

Oprah Winfrey em “A Cor Púrpura” (1985)

Para a gravação da cena em que a Sofia faz um agradecimento, Steven Spielberg pediu que a Oprah apenas dissesse como sua personagem se sentiu quando viu a Celie em uma loja. O resultado foi uma linda demonstração de gratidão, na qual a Sofia diz que soube que existia um Deus ao vê-la. Após as filmagens, Whoopi Goldberg disse a Oprah: “hoje, você se tornou uma atriz”.

Oprah Winfrey como a Sofia.

R. Lee Ermey em “Nascido para Matar” (1987)

Graças a sua experiência pessoal no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos, o ator se sentiu a vontade para acrescentar frases não roteirizadas ao interpretar o Sargento Hartman, ao longo da cena em que recebe e discursa para os novos recrutas.
Lee Ermey grita com o personagem de Matthew Modine.
Anthony Hopkins em “O Silêncio dos Inocentes” (1991)
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Em um diálogo do Dr. Hannibal Lecter com a Clarice Starling, onde o personagem descreve um de seus atos de canibalismo, o ator faz um som não planejado, no qual expressa que o Hannibal achou aquele momento saboroso.
Anthony Hopkins como Hannibal Lecter.

Leonardo DiCaprio em “Django Livre” (2012)

Nossa lista termina com um momento que surgiu de um acidente. Ao bater na mesa várias vezes, enquanto interpretava o fazendeiro racista Calvin Candie, DiCaprio acabou se cortando com um copo de vidro. Todavia, o ator não se importou, seguiu com a cena e usou o sangue para aumentar a dramaticidade do momento. Quando a gravação acabou, ele foi aplaudido pela equipe.

DiCaprio toca o rosto da atriz Kerry Washington com a mão suja de sangue.