Vingança & Castigo (2021)

A família do garoto Nat Love desejava fazer somente uma oração antes da refeição, mas os pecados do passado de Theodore bateram na porta e a vingança deixou o menino órfão de pai e mãe. Ao crescer, ele busca vingar-se dos envolvidos, mas ainda falta aquele que puxou o gatilho: Rufus Buck, o poderoso líder de uma gangue e que acaba de escapar da cadeia.

Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Jeymes Samuel nos apresenta uma obra de faroeste com o tema mais recorrente desse gênero: a vingança. Vivido por Jonathan Majors (Lovecraft Country), o protagonista até tenta seguir com sua vida ao lado de Mary Fields (Zazie Beetz), mas não pensa duas vezes antes de largar tudo quando surge uma nova chance de revanche.

Desde o início, a boa cinematografia chama atenção com um bom uso da luz do dia e das sombras produzidas por ela, pelos movimentos de aproximação dos personagens e por valorizar a ótima ambientação. Por sua vez, a trilha sonora coordenada pelo próprio diretor deixa a desejar, por não saber exatamente o que queria transmitir, indo do reggae até a composições de melodias épicas.

O elenco é de longe o ponto mais forte desse filme. O ator principal consegue transmitir bem a obstinação do Nat pelo que considera justo. Por sua vez, a Zazie Beetz (Coringa) sempre deixa claro em seu olhar o ressentimento da Mary, pois a jovem sente-se traída por ser abandonada pelo companheiro quando ele parte para vingar-se. Todavia, nesse mesmo olhar ela expressa o amor pelo rapaz.

Ao interpretar o Rufus Buck, Idris Elba (O Esquadrão Suicida) vive um vilão daqueles que possuem total consciência da gravidade de seus atos, mas não se importa em agir fora da lei e impor seu poder com violência. No final do filme, Jonathan Majors e ele transmitem emoção verdadeira e entregam juntos a melhor cena da obra. Aliada e companheira do antagonista, a Trudy Smith é vivida por Regina King (Se a Rua Beale Falasse) em uma atuação marcada pela seriedade constante e por um relato sobre a infância.

Já o ótimo ator Lakeith Stanfield (Judas e o Messias Negro) tem uma atuação apagada como Cherokee Bill, pois quando o Buck sai da prisão, seu personagem perde importância e passa a ser só mais um pistoleiro. Destaca-se ainda a participação de Danielle Deadwyler (Watchmen) como Cuffee, jovem que inicialmente atua recepcionando os clientes no saloon da Mary, mas que cresce muito ao longo da trama.

Enquanto apresenta bons personagens, o inicio do filme demora a mostrar o evento que moverá o desenvolvimento da história. O instante em que Nat Love parte para vingar-se de Rufus Buck só ocorre aos 49 minutos. Antes disso encontramos cenas boas como a soltura do vilão, uma das vinganças de Nat e seu reencontro com Mary. Só que o atraso para ir ao que realmente interessa faz esses momentos ficarem avulsos, enquanto uma boa trama deveria apresentá-los como partes de um todo.

A narrativa poderia começar já com a libertação no trem, seguida do encontro do Nat com a Mary e a posterior descoberta da soltura do Buck. Só então, já mostrando o protagonista partindo para sua vingança, a cena inicial da morte dos pais dele seria mostrada. Assim, o filme começaria com um de seus melhores trechos e o interesse do espectador cresceria cena após cena.

Quando a jornada do personagem principal começa de verdade, a trama só cresce. De maneira corajosa, o roteiro apresenta reveses a gangue do Nat, o que testa a união do grupo e a vontade de seu líder. No final, assistimos a um confronto muito bom, cujo único erro é reduzir a Mary e a Trudy Smith a uma luta entre elas duas. Principalmente para quem é fã de faroeste, a obra vale como um bom entretenimento, mas não será lembrada como uma das grandes produções do gênero.