Há cerca de dois mil e cinquenta anos, o ex-cônsul romano Marco Antônio presenteava Cleópatra com três grandes ovos adornados por joias. Os objetos permaneceram como um mito até dois deles serem encontrados no século passado. Agora, um multimilionário egípcio oferece uma fortuna para quem encontrar o terceiro, roubar os outros e levar no casamento de sua filha, numa missão que colocará frente a frente os principais ladrões de arte do mundo.

A premissa era boa, não é verdade? Só que apesar do elenco cheio de estrelas e do orçamento estimado em 160 milhões de dólares, de acordo com o IMDb, o filme mais caro da história da Netflix é decepcionante. Escrito e dirigido por Rawson Marshall Thurber (Arranha-Céu: Coragem Sem Limite), “Alerta Vermelho” até apresenta bons cenários e consegue extrair algumas risadas, mas seu roteiro subestima a inteligência do espectador.

Ao longo de todo o filme, a trama se move sustentando-se em conveniências. Logo no início, quando há uma ação da Interpol em um museu, os agentes entram no local sem cercar o prédio, abrindo o caminho para que o golpista Nolan Booth (Ryan Reynolds) possa escapar. Inclusive, se tem uma coisa que esse longa-metragem faz do início ao fim é desmerecer a organização internacional, incapaz até mesmo de checar as credenciais de seus funcionários e desconfiar das informações de um delator.

O festival de inconsistências não para por aí. Todos sabemos, por exemplo, os danos que o tempo é capaz de causar em um carro abandonado. Pois, qual a chance de um automóvel da década de 30, esquecido a mais de meio século, repentinamente passar a funcionar como um veículo de fuga? Isso sem contar os tiros que não atingem ninguém, além de uma revelação no final que cria um furo de roteiro lá no início da narrativa.

Em relação aos atores, eles fazem o melhor que poderiam com aquilo que tinham em mãos. O Ryan Reynolds (Deadpool) vive um ladrão que vive tentando ser engraçado, mas está sempre com uma conversa chata. Já o Dwayne Johnson (Jumanji: Próxima Fase) faz um agente do FBI cujas pretensões são sempre suspeitas, o que o ator consegue demonstrar muito bem nessa interpretação que não foge do que ele costuma apresentar.

Por sua vez, a atuação da Gal Gadot (Mulher-Maravilha) é o que esse filme possui de melhor. Ela faz sua personagem transmitir uma postura que mistura mistério, sarcasmo, sensualidade e bom humor. A maneira como a intérprete faz tudo parecer fácil para sua personagem ameniza o modo questionável como o roteiro a introduz em algumas cenas. Além disso, a atriz possui um desempenho bastante convincente em cenas de luta.

Recentemente, na crítica do filme “Finch”, escrevi que aquela não era uma obra pretenciosa, mas que entregava um resultado admirável. Pois, “Alerta Vermelho” é o exato oposto: reúne as estrelas do momento, apresenta cenários espalhados pelo mundo, utiliza movimentos de câmera grandiosos, mas não entrega uma história que lhe capture e faça o público esquecer momentaneamente que aquilo é ficção.