Esse texto contém spoilers. 

Intensa. Essa palavra define a segunda temporada de “Dark”, série alemã criada por Baran bo Odar e Jantje Friese. Respectivamente diretor e roteirista da produção, eles trazem uma história que cresce no volume de acontecimentos, mesmo com dois episódios a menos que a temporada anterior. Viajamos por 1921, 1954, 1987, 2019, 2020 e 2053, numa história que se entrelaça pelo tempo e com personagens influenciando suas versões mais jovens.

E tudo vai muito além das idas e vindas por passado, presente e futuro. “Dark” usa o tempo como um meio para criar reencontros memoráveis, mas que sem as viagens temporais seriam impossíveis. Um deles é entre Jonas (Louis Hofmann) e Michael (Sebastian Rudolph) no sexto episódio. Um filho diante do pai que para ele já havia morrido há um ano já seria suficientemente impactante. Mas a cena vai além. Jonas estava ali para dissuadir Michael da ideia de se matar. Revela saber sobre a real identidade do pai e mostra a carta de despedida. Desesperado pede que ele prometa não fazer isso.

Chocado, Michael demonstra não ter planos suicidas e revela: foi o Jonas quem levou o Mikkel até a caverna para viver em 1986. Ele chega à conclusão de que o destino, através da ida de Jonas, talvez não queira evitar seu suicídio, mas sim mostrar-lhe o que deveria fazer. Evidentemente o filho discorda da ideia, mas a versão idosa de Claudia Tiedemann (Lisa Kreuzer) entra em cena e convence os dois de que aquilo deveria ser feito.

Além de serem emocionantes, “Dark” usa esses encontros para mover a história a diante. Dois desses momentos são vivenciados pela Claudia. Em um deles ela vai até sua filha Regina Tiedemann, personagem que nessa temporada enfrenta os efeitos do tratamento contra um câncer, sendo brilhantemente interpretada por Deborah Kaufmann. Claudia, representada por Julika Jenkins em cenas na idade adulta, estava sem ver a filha há poucas horas, porém a vê já como uma mulher madura e fragilizada pela doença.

Já Regina não via a mãe há 33 anos, desde que Claudia desapareceu misteriosamente. A emoção da cena fala por si sobre a intensidade do momento e juntas elas vão ao bunker, no intuito de escaparem da destruição que ocorre em 27 de junho de 2020. O outro reencontro interessante da personagem é quando ela já idosa vai ver seu pai em 1953. Principalmente pelo pedido de desculpas que mais tarde na série descobriríamos a terrível razão.

Encontros inusitados como esses são uma excelente forma de fazer revelações sobre o passado de personagens. Isso acontece quando Noah (Mark Waschke) aparece para Charlotte Doppler (Karoline Eichhorn) e revela ser o pai dela. Chocada, ela recusa-se a crer e diz que isso é impossível, uma reação natural, afinal como um homem pode ter a aparência mais jovem que a própria filha? Além disso, quem aceitaria uma pessoa que mata crianças como pai?

Noah não revela a Charlotte a identidade de sua mãe, mas nós descobrimos no início do último episódio. Àquela altura dos acontecimentos, “Dark” já havia nos propiciado ótimos paradoxos com a carta de Michael e o livro do relojoeiro H. G. Tannhaus, textos que foram recebidos por seus autores antes de terem sido escritos. Mas a origem de Charlotte vai além. A mãe dela é a própria filha Elisabeth (Carlotta von Falkenhayn / Sandra Borgmann). Simplesmente não sabemos quem deu origem a quem.

Pouco antes da explosão na usina nuclear, ao se abrir um portal entre 2020 e 2053, Charlotte vê uma versão mais velha de sua filha e a comunicação pela linguagem de sinais ajuda a policial a reconhecê-la. Os dedos delas se tocam, quase como quadro “A Criação de Adão” do Michelangelo. Naquele mesmo instante, as versões mais jovens de Elisabeth e Noah (Max Schimmelpfennig) se viam pela primeira vez no bunker.

O Jonas tem novos encontros com seu eu do futuro. Mas não se trata de sua versão adulta, mas sim do Adam (Dietrich Hollinderbäumer), um Jonas já idoso. Além mostrar tratar-se da mesma pessoa, para total choque do rapaz, o Adam fala algo curioso: que ao longo de sua vida nunca acreditou que aquela conversa tornaria acontecer, por nunca ter acreditado ser capaz de dizer aquilo que seu eu mais velho havia dito.

Essa é uma afirmação interessante quando somada com o que vem depois: Adam instruiu o Jonas a tentar salvar seu pai, dizendo que isso mudaria as coisas, quando na verdade ele sabia que estava enviando o rapaz para fazer e viver tudo aquilo que ele já experienciado: a morte do Michael, o envio intencional do Mikkel para 1986 e o assassinato da Martha (Lisa Vicari) pelo próprio Adam. Nos perguntamos: o que acontecerá na terceira temporada para que a versão idosa do Jonas seja capaz de acreditar que esses terríveis fatos são necessários?

A relação entre Jonas e Martha cresce nessa temporada. Duas cenas são especialmente marcantes: a primeira é no lago, quando o Jonas daquela época saí de cena e sua versão um ano mais velha vai até ela, para dizer a moça as palavras que desencadearam o romance entre os dois. A segunda é quando ela vê o Jonas em idade adulta (Andreas Pietschmann) e descobre através da mãe Katharina (Jördis Triebel) ser tia daquele homem.

No final do último episódio, Martha aparece para Jonas de forma assustadora. Enquanto uma versão dela está morta no chão, uma outra surge como uma viajante no tempo. Aparentando ter a mesma idade, mas agora vestida toda de preto, ela surge para resgatar Jonas do apocalipse de Winden. Após dizer que não era quem ele pensava que ela fosse, a jovem é perguntada pelo rapaz sobre de qual época veio. Ela responde: “a questão não é de qual época, mas de qual mundo”, indicando que a personagem terá papel crucial na última parte da série.

Nessa temporada de muitos encontros, há um que fica faltando. O empenho da Katharina em reencontrar o filho Mikkel não é bem sucedido. No momento da explosão na usina nuclear, ela estava dentro da caverna e fica a dúvida se ela sobrevive. Caso esteja viva e consiga passar para 1986, ela vai querer trazer o filho de volta para o presente mesmo com aquele local devastado? Ou por amor ao Mikkel optará por deixá-lo viver em outra época, mas com uma vida digna? Muitas perguntas estão em aberto e a qualidade da série até aqui indica que serão apropriadamente respondidas na última temporada.