Diante de protestos cada vez mais violentos na TV, Malik Khan (Riz Ahmed) sabe exatamente o que está acontecendo. Após um meteoro chegar à Terra, vários tipos de insetos acabam tendo contato com uma espécie alienígena microscópica. Agora, quando somos picados, os microrganismos tomam nossa mente e nos tornam mais agressivos. Por isso, no intuito de salvar os filhos, o homem vai até a casa da ex-mulher e os leva durante a madrugada. Agora, ele será procurado sob a acusação de sequestro.

Em seu segundo longa-metragem como diretor, Michael Pearce nos coloca em uma trama que busca e consegue ser intimista, ao mesmo tempo em que também insere suspense e ação. No roteiro escrito por Joe Barton (O Ritual) e ele, somos imersos nas visões de mundo e nos sentimentos do protagonista, o que nos gera um vínculo forte com o pai e suas crianças.

“Encounter” é uma obra que pode ser dividida em duas partes. Na primeira, acompanhamos Malik e seus dois filhos rumo a uma “base”, onde o pai com uma trajetória militar prévia afirma existirem cientistas buscando uma cura. Após quase 40 minutos de filme, nos é apresentada a Hattie Hayes (Octavia Spencer), uma profissional que trabalha para o governo e que está preocupada com o sumiço de Malik. E a partir daí a narrativa começa a se perder.

Inicialmente, ao assistirmos aquele rapaz com suas duas crianças em um carro, a maneira como a história se desenvolve é mais natural. Ali estamos basicamente assistindo à reconstrução de sua relação com os garotos, após ele ficar afastado por dois anos. Só que a trama começa a apresentar várias incoerências quando o Malik passa a estar na condição de fugitivo.

Em suas ações, o protagonista não age como alguém que quer minimizar seus riscos, algo que seria instintivo a qualquer um, ainda que numa situação de desespero. Além disso, dois personagens que procuram e posteriormente entram em conflito com Malik são apresentados de modo muito forçado, a princípio pela casualidade com a qual encontram seu carro, mas principalmente por sua abordagem exagerada.

Também há algumas inconsistências envolvendo o menino Jay (Lucian-River Chauhan). Através dos questionamentos que ele faz ao pai, a narrativa deixa claro que ele é esperto. Porém, esse personagem é mal desenvolvido, uma vez que não se encontra nele um comportamento condizente com suas ações anteriores. E no fim, todas essas incoerências são para levar a um desfecho bem fraco.

Riz Ahmed (O Som do Silêncio) vive um personagem multifacetado. Enquanto pai, o Malik demonstra se importar verdadeiramente com os garotos, ter prazer em estar com eles e uma preocupação em deixá-los tranquilos. Quando o filho menor testa sua autoridade e os coloca em perigo, sua fúria parece muito autêntica. Só que o melhor de sua atuação não está no que é dito, nem em alguma reação, mas na sua postura pensativa, preocupada e por vezes deslumbrada. O ator entendeu o que o personagem precisava ser e colocou perfeitamente em cena.

Ao interpretar o filho mais velho, Lucian-River Chauhan representa bem a condição de um menino que tenta processar em sua mente o que está acontecendo, além de buscar proteger o irmão menor e o próprio pai. Em seu primeiro longa-metragem, ele já mostra que pode ter uma carreira promissora.

Por sua vez, o menor é vivido por Aditya Geddada. O ator-mirim faz uma criança alegre, inocente e que expressa sua insatisfação correndo pra longe de quem lhe chateou. Além do elenco desse núcleo familiar, vale falar também sobre a Octavia Spencer (Histórias Cruzadas). Ao viver uma mulher que se sente culpada por ter confiado no Malik, a atriz se sai bem ao interpretar uma personagem bastante séria e comprometida.

O longa-metragem acerta nos aspectos técnicos. Sua montagem deixa a obra com um bom ritmo. A trilha sonora é diversa e vai do heavy metal a Selena Gomez. Já a fotografia capricha especialmente ao apresentar o deslocamento do carro pelo deserto em planos gerais. Além disso, a própria história possui suas virtudes, seja por apresentar personagens cativantes, por saber nos imergir no relacionamento deles ou ainda por jogar luz sobre um importante tema relativo à vida militar. É uma pena que a narrativa vá se perdendo ao longo de seu desenvolvimento e apresente um clímax trivial.