Chegar ao topo a qualquer custo. Essa era a mentalidade do montanhista Heinrich Harrer (Brad Pitt). Quando o objetivo dele se tornou o pico da nona maior montanha do mundo, o Nanga Parbat, um preço a ser pago era deixar a esposa sozinha no final da gravidez e assim não acompanhar o nascimento daquele filho que ele não queria ter. Seu desejo insensato por chegar ao cume lhe faz esconder um ferimento, além de tentar ignorar as péssimas condições climáticas que geram a desistência de seu grupo.

A descida do Nanga Parbat era através da Índia, que na época era território do Império Britânico. O ano era 1939 e nos dias em que os montanhistas estavam isolados escalando se iniciava a Segunda Guerra Mundial. Eles eram austríacos e, portanto, estavam em território inimigo. Assim, após prometer ficar longe de casa por quatro semanas, Heinrich estava preso aquela região indeterminado.

“Sete Anos no Tibet” foi roteirizado por Becky Johnston, que se baseou em fatos reais relatados pelo próprio Heinrich Harrer em um livro com o mesmo título do filme. Lançado em 1997, o longa foi dirigido por Jean-Jacques Annaud, cujo principal trabalho anterior havia sido “O Nome da Rosa” (1986). A produção busca nos empatizar com as pessoas e a cultura do Tibet, ao mesmo tempo em que apresenta uma China cruel, através de seu exército colossal, generais arrogantes e um embaixador manipulador.

Já a inocência tibetana aparece desde a primeira cena ao vermos o Dalai Lama com quatro anos de idade. Mas não se restringe a ele. É apresentada por todo aquele povo, que ao mesmo tempo demonstra simplicidade nos aspectos pessoais, empenho no bem estar coletivo e dedicação em honrar sua crença. Tudo isso soma-se a beleza das paisagens da região, da arquitetura do lugar e das manifestações religiosas. Nos apegamos ao Tibet.

Simultaneamente as andanças do protagonista e seu colega Peter Aufschnaiter (David Thewlis), acompanhamos o crescimento do líder religioso cujo olhar curioso sempre observa o que acontece do lado de fora do seu palácio. E a medida que conhecemos cada vez mais os rituais que cercam Dalai Lama e a personalidade do Heinrich Harrer cresce a expectativa para que os caminhos dos dois se cruzem.

Brad Pitt encarna bem aquilo que seu personagem demanda: uma postura indiferente, arrogante e debochada de alguém que só pensa em si, mudando isso gradualmente a medida em que as suas relações ao longo da história mexem com seu mundo interior. Jamyang Jamtsho Wangchuk, ator que interpreta o líder espiritual a partir dos 14 anos de idade, além de ser parecido com o verdadeiro Dalai Lama, representa bem a postura pacifista e a sede de aprendizado daquele jovem privado de informações sobre o mundo.

Seguindo o ensinamento da cultura que exalta, o filme não tem a pretensão de ser grandioso, ainda que exalte a região do Himalaia com belíssimas imagens panorâmicas e o Tibet através da impecável direção de arte. Apesar de ter a disposição ninguém menos que John Williams, autor de trilhas épicas, os sons mais valorizados vêm do próprio universo da história. Apega-se a uma narrativa simples, mostrando pessoas que passam a lidar com uma realidade inesperada e buscam melhorar diante dos fatos. Assistimos a um convite a convivência, apresentada como algo capaz de transformar um choque cultural em uma experiência positiva.