No caminho de volta após vencer uma importante batalha, Macbeth (Denzel Washington) se vê diante de três irmãs bruxas que juntas fazem uma profecia: ele se tornará o novo rei. Ao saber dessa informação, a Lady Macbeth (Frances McDormand) o enche de coragem para que ele mate seu primo Duncan (Brendan Gleeson) e se torne o novo monarca da Escócia.
Essa premissa que você acabou de ler possui mais de 400 anos. Escrita por William Shakespeare no começo do século XVII, a história em que se baseia esse filme foi criada para a peça teatral “Macbeth”. Reencenada nos palcos ao longo dos últimos séculos, a obra também foi adaptada para o cinema diversas vezes, inclusive por grandes diretores como Orson Welles, Akira Kurosawa e Roman Polanski.
Escrito e dirigido por Joel Coen (Fargo: Uma Comédia de Erros), este novo filme busca preservar ao máximo as características da peça, como sua linguagem antiga e os personagens expondo verbalmente seus pensamentos. Essa decisão do cineasta torna o filme mais lento e compromete seu ritmo, por mais que a montagem se esforce em deixar a trama sem cenas desnecessárias, em um encadeamento de acontecimentos que sempre deixa uma curiosidade sobre o que está por vir.
Aos olhos de uma parcela do público, a cinematografia em preto e branco pode ser uma razão para afastar-se desse filme. Entretanto, ela propicia uma estética digna de Oscar. Em cenários simples, nos quais não existem muitos objetos, há um extraordinário aproveitamento da luz e das sombras, especialmente quando os personagens estão em deslocamento.
Intérprete do protagonista, Denzel Washington (Dia de Treinamento) exibe bem a transição que seu personagem vive ao longo da trama. Inicialmente, nós vemos um homem inseguro e que teme fazer o que realmente deseja, mas que posteriormente se torna implacável para preservar o que consegue obter. Através de sua atuação, frases que poderiam não soar tão naturais acabam parecendo um pouco mais espontâneas.
Por sua vez, Frances McDormand (Nomadland) transmite no olhar a cobiça que toma a Lady Macbeth quando alcançar a condição de rainha se torna uma possibilidade. Em sua voz, nós encontramos o tom exato de alguém que respeita o marido, mas busca persuadi-lo a ter a coragem necessária para alcançarem juntos aquilo que para ela se torna uma obsessão. Quando o filme se aproxima do final e a personagem já não é mais a mesma, a atriz é brilhante ao mostrar aquilo que ela se tornou.
Ainda que seja apresentada por meio de uma retórica um tanto rebuscada para os dias atuais, a história segue excelente. Mesmo porque, se há algo no mundo que não mudou nos últimos 400 anos, certamente é a maneira como o ser humano lida com a busca por uma posição social relevante.
Pouco importa se será possível dar alguma contribuição ou se manter-se nesse status após alcançá-lo é algo possível. Também não interessam as repercussões pessoais dessa nova realidade. O poder encanta o homem e lhe faz ter atitudes que sequer combinam com sua personalidade. Shakespeare soube entender isso ao ponto dessa trama até hoje seguir verossímil ao comportamento humano.