São diferentes as pretensões dos cinco curtas-metragens de animação que concorrem ao Oscar em 2022. Dois deles se concentram em falar de amor, mas de maneiras bem distintas. Uma das obras recorda dias sombrios, enquanto uma outra busca nos conquistar com situações cômicas. E conforme é tradição nesse gênero, também há um filme voltado especialmente para o público infantil, mas que também cativa os adultos. Sem revelações sobre os respectivos desfechos, confira breves análises sobre cada um dos indicados:
A SABIÁ SABIAZINHA (ROBIN ROBIN)
Em uma noite chuvosa, um ovo caiu de um ninho de passarinho e foi parar no lar de alguns ratos. Lá, Robin nasceu, cresceu e busca agir como parte da família, especialmente quando todos eles entram em residências para procurar alimento. Porém, em uma noite onde essa busca dá errado, ela decide fugir e conseguir comida, mas há uma gata no meio do caminho.
Criado e dirigido por Dan Ojari e Michael Please, o curta de meia hora foi desenvolvido em stop-motion e teve seus personagens feitos com fibra de lã. Apesar da premissa inicialmente remeter a história do patinho feio, a história se difere por ter uma protagonista que é acolhida. Porém, consciente de sua diferença em relação aos familiares, Robin não está satisfeita.
“A Sabiá Sabiazinha” encanta tanto no seu visual, como também na história. A parte musical é um pouco dispensável, mas combina com o clima natalino. Voltada principalmente para o público infantil, a obra reforça a importância de conviver bem com as próprias características, de um modo que incentiva a descoberta de sua melhor versão.
AFFAIRS OF THE ART
Aos 59 anos, Beryl sente cada vez mais a necessidade de expressar-se artisticamente. Sua obsessão atual é tão grande que ela até se lembra de Beverly, sua irmã que desde a infância possui um estranho fascínio pela morte e por corpos conservados em processos como embalsamamento e empalhamento.
Escrito por Les Mills e dirigido por Joanna Quinn, esse curta é o quinto sobre a personagem Beryl, mas sua trama independe das histórias anteriores para ser compreendida. Desenhada a mão, a obra tem em seus traços sua maior virtude, principalmente pelo fato deles ajudarem a trazer a comicidade pretendida pelo filme.
O roteiro também traz momentos divertidos, como o fato de Beverly ter virado comunista porque queria ir ver o corpo do Lênin. Porém, a narrativa se restringe a fatos triviais e o curta não enche os olhos.
BESTIA
Após cuidar de seu cachorro e tomar um café da manhã, Ingrid parte para uma residência na qual trabalha. A partir dessa descrição, essa mulher pode ser vista como uma pessoa comum. Entretanto, sua postura sempre séria, a arma em sua bolsa e seus pensamentos violentos denunciam que há algo de errado com ela.
Escrita pelo diretor Hugo Covarrubias em parceria com Martín Erazo, a trama não apresenta diálogos, mas é inspirada em eventos reais que ocorreram durante a ditadura militar no Chile. Filmado em stop-motion, o curta apresenta personagens criados com aço articulado, tecido e poliuretano.
Por meio de uma montagem que busca alternar entre a rotina da personagem e seus pensamentos sombrios, a narrativa nos intriga durante a jornada para descobrirmos quem é essa mulher. Entretanto, o curta depende muito de um texto no final para situar o espectador no contexto retratado. Além disso, em uma breve pesquisa sobre aquela que inspirou a protagonista, se descobre o quanto foi preciso amenizar a situação para tornar o filme assistível.
BOXBALLET
Vestindo um tutu e dançando de acordo com a coreografia, uma bailarina expressa delicadeza. Ao trocar socos, levantar pesos e ter um rosto calejado, um boxeador mostra como é durão. Mas, quando os dois se encontram, é possível existir amor?
Essa é a pergunta que o curta animado russo “Boxballet” busca responder. Dirigido por Anton Dyakov e com roteiro escrito por ele em parceria com Andrey Vasilyev, a obra tem poucos diálogos e pode ser facilmente compreendida por quem não fala russo. Ao longo de 15 minutos, o filme vai além de sua trama principal, pois apresenta questões problemáticas das áreas de cada um dos dois.
Nesse contexto, a obra mostra como um acaba influenciando o outro, além de saber surpreender e gerar curiosidade sobre o desfecho. A história ultrapassa fronteiras regionais, pois consegue ser divertida e tocante para espectadores de todo o mundo.
THE WINDSHIELD WIPER
Um casal sentado na areia da praia curte a vista para o mar. Levando flores nas mãos, um jovem corre na chuva. Pela internet, duas pessoas trocam mensagens sobre um encontro no dia anterior. Enquanto tudo isso e muito mais acontece, um homem sentado sozinho na mesa de um restaurante escuta diálogos sobre relacionamentos. A todos nós, ele faz uma pergunta: o que é o amor?
Nesse curta cuja tradução literal do título é O Limpador de Parabrisa, o diretor e roteirista espanhol Alberto Mielgo nos faz passear por diversas relações ao redor do mundo. Há cenas que retratam desde conexões profundas, como num instante onde um viúvo aparece diante do túmulo do amor de sua vida. Porém, nós também vemos relações frias, como quando um homem e uma mulher dão likes no Tinder diante das prateleiras de um supermercado.
Há todo momento, a obra apresenta imagens que poderiam ser emolduradas e postas numa parede, pois cada um desses instantes possui uma beleza que independe do contexto geral do curta. Na busca por responder o questionamento feito lá no início, o filme sabe divertir e tocar o coração ao apresentar o amor como um conceito amplo e diverso, capaz de tocar cada um de uma maneira, ao mesmo tempo que nos une enquanto humanidade.