Curtas-Metragens em live-action indicados ao Oscar 2022

A busca pela felicidade é intrínseca ao ser humano. E nesse intuito de ser feliz, uma palavra muito importante é a liberdade. Por meio dela, nós podemos almejar conquistar nossos objetivos. Porém, de diferentes formas e por variados motivos, muitas pessoas ao redor do mundo acabam tendo esse direito cerceado. Nesse ano, os curtas-metragens em live-action indicados ao Oscar possuem em comum personagens que se esforçam para serem livres e felizes. Sem spoilers, você confere a seguir a breves análises sobre essas cinco obras:

ALA KACHUU – TAKE AND RUN

Por mais que seus pais e a comunidade ao seu redor deseje que Sezim (Alina Turdumamatova) se case e tenha filhos, a jovem possui outros planos. Visando estudar, ela deixa a zona rural do Quirguistão e parte para a capital do país. Porém, quando estava começando a concretizar sua nova vida, ela é sequestrada e forçada a casar-se com um completo desconhecido.

Nesse país localizado na Ásia Central, ainda é muito comum que mulheres sejam submetidas a esse tipo de situação, até hoje vista como natural por uma parte significativa daquela sociedade. Tocada por essa realidade, a diretora e roteirista suíça Maria Brendle apresenta uma história onde ela rapidamente faz os espectadores também se indignarem com isso.

A mudança drástica na vida de Sezim é difícil de se assistir, principalmente por não se tratar meramente de um ato individual, mas de algo socialmente aceito e até incentivado por outras mulheres. Em cena, a atriz Alina Turdumamatova transmite bem o desespero de sua personagem, além da repulsa a frases que visam naturalizar a situação que ela vive. Ainda que esse curta em certos instantes transmita sensações bem negativas, essa é uma obra muito necessária, pois joga luz em um ato de desumanidade que carece de maior atenção da comunidade internacional.

ON MY MIND

Henrik (Rasmus Hammerich) entra sozinho em um bar e pede um uísque. Quieto, o homem rapidamente toma a bebida, paga sua conta e se encaminha para sair do local. Porém, ele vê um karaokê. Informado de que o aparelho só é ligado aos finais de semana, ele insiste e diz que precisa cantar uma canção para sua amada.

Quase 20 anos após vencer o Oscar de Melhor Curta-Metragem com “Um Sujeito Encantador” (2002), o diretor dinamarquês Martin Strange-Hansen volta a ser indicado. Nesse novo filme, ele nos imerge em uma história tocante envolvendo a música “Always On My Mind” de Elvis Presley. Em cena, assistimos a posições divergentes de dois personagens: um homem pacífico que só quer cantar uma canção e o dono de um bar que quer silêncio ao fazer sua contabilidade.

Ao mostrar esses dois homens em posições opostas, enquanto a bartender busca acalmar a situação, o filme evidencia como existem circunstâncias que se sobrepõem a tudo. “On My Mind” apresenta aquilo que os curtas-metragens podem possuir de melhor: uma grande capacidade de rapidamente conquistar o espectador, apresentar uma história intrigante e um desfecho que dá um sentido profundo ao que assistimos.

PLEASE HOLD

Inesperadamente, Mateo (Erick Lopez) recebe uma mensagem no celular dizendo para ficar parado, pois será preso. Instantes depois, um drone da polícia chega e exige que ele se algeme, sob o risco de receber uma descarga elétrica. Conduzido até a cela da prisão, o jovem segue sem saber qual é a acusação contra ele. Diante de um monitor onde interage com uma inteligência artificial, o rapaz tenta encontrar um meio de ser libertado.

Dirigido pela mexicana-americana K. D. Dávila, autora do roteiro em parceria com Omer Levin Menekse, esse é um curta que se passa num futuro onde até mesmo a Defensoria Pública é uma inteligência artificial. Praticamente sozinho durante todo o filme, o ator Erick Lopez entrega bem a indignação, a perplexidade e o desespero de seu personagem com a situação.

Em alguns instantes, o roteiro flerta com a comédia ao colocar o protagonista em situações que acabam sendo um pouco engraçadas. Todavia, diante da infraestrutura apresentada, o fato dele ficar sem saber do que é acusado não parece muito crível. De todo modo, a obra vale a pena por alertar o quão perigoso pode ser entregar para as máquinas alguns aspectos cruciais da vida em sociedade.

THE DRESS

Enquanto limpa os quartos do hotel onde trabalha, Julka (Anna Dzieduszycka) escuta músicas em um fone de ouvido. Durante breves pausas para fumar, não são muitas as palavras trocadas com uma colega de trabalho. Porém, em seu coração, ela carrega um desejo: ter uma vida plena, na qual o nanismo não seja um impeditivo para sua felicidade.

Ainda no começo do filme, a personagem pergunta para Renata (Dorota Pomykala) se ela lembra de sua primeira vez. O questionamento na verdade era um pretexto para que ela própria passasse a relatar uma ocasião na qual teve a esperança de iniciar uma relação amorosa.

A partir daí, de forma intimista, esse curta-metragem polonês nos apresenta uma mulher que lida frequentemente com o preconceito, seja de forma explícita quando alguém lhe diz algo indelicado, ou quando a sociedade simplesmente esquece de fabricar e vender roupas para pessoas com nanismo. Escrito e dirigido por Tadeusz Lysiak, o filme é um lembrete a todos de que algumas pessoas, simplesmente por nascerem diferentes, acabam vivendo uma solidão que não escolheram e não merecem.

 THE LONG GOODBYE

Em uma casa sem luxos, mas com bastante alegria em seus ambientes, uma família de imigrantes recebe amigos e se prepara para uma comemoração. Enquanto isso, uma TV na sala mostra protestos de grupos de extrema-direita. Pouco tempo depois, os radicais chegam à região onde eles moram e começam a invadir as residências.

Conhecido principalmente por seu trabalho no filme “O Som do Silêncio”, Riz Ahmed não só atua em “The Long Goodbye”, como também escreveu o roteiro junto com o diretor Aneil Karia. Britânico e filho de pais paquistaneses, o ator transmite em cena o sentimento de alguém que muitas vezes não é considerado pertencente ao lugar onde nasceu.

O contraste do início apresentando normalidade com as cenas violentas explicitam a desumanidade, covardia e estupidez de quem acredita ser melhor que alguém por sua origem étnica. Além disso, o curta também é corajoso ao mostrar como certas barbaridades muitas vezes possuem a conivência de policiais. Em um mundo onde muitas vezes o óbvio ainda precisa ser dito, “The Long Goodbye” reivindica o direito dos imigrantes à dignidade de uma maneira que não poderia ser mais compreensível.