Pintada na parede, a bandeira de Porto Rico foi manchada pelos Jets. O ato revoltou os Sharks, pois o grupo não aceita ter seu bairro vandalizado. Ao mesmo tempo que os ânimos esquentam na região de Upper West Side, em Nova York, uma jovem porto-riquenha chamada Maria (Rachel Zegler) e um rapaz americano conhecido como Tony (Ansel Elgort) se apaixonam, o que torna quase inevitável um conflito entre as gangues rivais.
Sessenta anos separam os lançamentos das duas versões cinematográficas de “Amor, Sublime Amor”. A trama é inspirada em “Romeu e Julieta”, história escrita por William Shakespeare no final do século XVI. Por isso, vale perguntar: em um mundo com tantas mudanças, o que mantém histórias como essas sempre vivas? Além disso, o que leva um cineasta tão prestigiado como Steven Spielberg a resolver fazer um remake?
Certamente existem várias respostas para a primeira questão. A mais óbvia talvez esteja no fato de que nós valorizamos relações amorosas em nossas vidas, de modo que histórias de paixões proibidas nos fazem rapidamente simpatizarmos com os namorados. Além disso, a história da humanidade é marcada por conflitos territoriais entre pessoas de diferentes origens, o que também nos gera identificações nessa trama.
Em relação ao Spielberg, o diretor já vinha interessado em fazer um musical. A motivação para a realização do remake vem direto de sua memória afetiva, pois ele ouviu o álbum do musical da Broadway pela primeira vez aos dez anos de idade. Além disso, o cineasta entende que a obra está ainda mais relevante nos últimos anos, devido a maior visibilidade de casos de violência relacionados a discriminação racial.
Dito isso, outra pergunta surge: o fato de a história seguir relevante é o bastante para que uma nova versão seja boa? No meu entendimento, a resposta é não. “Amor, Sublime Amor” possui alguns aspectos que nos dias de hoje parecem menos plausíveis, o que requeria que a narrativa passasse por algumas mudanças na forma como é contada. Um exemplo é a dança dos Jets, logo no início do filme, quando eles estão prestes a vandalizar a bandeira de Porto Rico. Por mais que seja um musical e o momento esteja bem coreografado, a cena com membros de uma gangue bailando em sincronia não é algo suficientemente crível para iniciar uma história.
Outro ponto complicado nessa narrativa está no fato de que o amor de Maria e Tony é demasiadamente repentino. Em certo ponto, chega a parecer insano que um casal formado há menos de 48 horas insista na relação após um acontecimento traumático. O novo roteiro deveria ter aumentado o período no qual a história se passa, no intuito de que a paixão entre os dois parecesse mais natural.
Um acerto da produção está na escolha do elenco. Já conhecido pelo público por protagonizar filmes como “A Culpa é das Estrelas” (2014) e “Em Ritmo de Fuga” (2017), Ansel Elgort entrega uma interpretação na qual esquecemos de suas atuações anteriores, uma vez que ele encarna bem o papel de um jovem apaixonado dos anos 50. Por sua vez, a estreante Rachel Zegler sabe transmitir, ao mesmo tempo, certa timidez através da postura e paixão por meio do olhar. Destacam-se ainda as atrizes Ariana DeBose e Rita Moreno.
O ótimo trabalho na fotografia também se sobressai, seja no posicionamento da câmera, na iluminação, no bom uso de planos gerais, de luzes e sombras. Porém, algumas cenas pediam por planos-sequência e um filme desse porte poderia ter entregue isso. Outro ponto forte está na belíssima ambientação, seja em áreas internas como o comércio de Valentina (Rita Moreno), como ao exibir ambientes externos, a exemplo da região que estava sendo demolida. Também é fácil se conectar ao período apresentado graças a itens como os carros e os figurinos de época.
Por fim, vale ressaltar que o desfecho do filme, assim como sua mensagem, ainda seguem impactantes, especialmente para aqueles que tiverem contato com a trama pela primeira vez. O remake tem seu valor por apresentar a história para as novas gerações, além de trazer avanços técnicos. Só que ao prender-se tanto a obra original, o longa-metragem acaba demonstrando que não era tão necessário.