No começo de 1962, ninguém podia imaginar que a mulher mais famosa daquela época iria nos deixar tão cedo. Quando a imprensa informou a morte de Marilyn Monroe, aos 36 anos, o choque se propagou tão rápido quanto a própria notícia. Quase que imediatamente, também começaram a se espalhar diversas teorias sobre as razões de seu falecimento. Algumas totalmente infundadas. Outras com um surpreendente fundo de verdade.
Quando o caso foi reaberto vinte anos depois, no intuito de oferecer uma análise definitiva do ocorrido, o jornalista irlandês Anthony Summers partiu para Los Angeles. Seu intuito era fazer uma investigação paralela em duas ou três semanas. Entretanto, como as circunstâncias eram complexas e muitos não queriam falar, seu trabalho durou três anos e culminou no livro “A Deusa: as vidas secretas de Marilyn Monroe”, lançado em 1985.
A publicação até endossa a versão oficial, na qual sempre se apontou que a atriz faleceu devido a uma overdose de barbitúricos, ocasionada por um consumo exagerado de calmantes em um provável suicídio. Entretanto, Summers sempre considerou importante ir além do resultado da autópsia. Era preciso responder o que levou uma pessoa tão consagrada a essa situação.
Durante sua investigação, o autor fez mais de mil entrevistas, sendo que as mais importantes seguem cuidadosamente preservadas há quase quatro décadas. O vasto conteúdo e a linha de investigação de Anthony Summers são a base para esse documentário da diretora Emma Cooper. Porém, ela tinha um problema: as 650 gravações são em áudio. Era necessário decidir o que iria ser mostrado enquanto ouvíamos os entrevistados.
A solução encontrada é inusitada, mas foi muito bem aplicada. Foram contratados atores que se assemelhassem aos entrevistados na época da investigação de Summers. Em atuações onde seus personagens falam ao telefone com o jornalista, eles apresentam sincronia labial com os áudios originais, o que permitiu que suas vozes fossem substituídas pelas gravações inéditas. Além disso, a obra apresenta uma grande riqueza de fotos e vídeos da Marilyn. Porém, há um certo exagero no uso de imagens de Los Angeles e Hollywood nas décadas de 50 e 60, por mais valiosas que essas filmagens sejam.
Em meio aos entrevistados estão desde familiares do psiquiatra da Marilyn até John Huston e Billy Wilder, cineastas que a dirigiram nos filmes “O Segredo das Joias” (1950) e “O Pecado Mora ao Lado” (1955), respectivamente. As declarações abordam diferentes fases da vida da atriz, no intuito de projetar como cada um desses momentos lhe afetou ao ponto de ela morrer tão jovem. Dentre as épocas tratadas estão sua infância, na qual passou por onze lares adotivos, o começo da vida profissional e as relações que lhe ajudaram a alcançar o estrelato, os casamentos conturbados e a dedicação que ela colocava em seu trabalho.
À medida que se aproxima do fim, o documentário começa a ir mais fundo na noite em que ela faleceu, expondo as diferentes versões sobre o ocorrido e um conflito que pode ter piorado a situação na qual a atriz se encontrava. “O Mistério de Marilyn Monroe: Gravações Inéditas” é um filme que também pode ser encarado como uma obra sobre a investigação jornalística de Summers. Sob essa ótica, o longa-metragem é ótimo.
Todavia, a forma como documentário foi divulgado indicava que haveriam informações novas sobre o caso, quando na verdade ficou tão preso ao trabalho do Anthony que sequer trouxe outras revelações já conhecidas, como um documento divulgado pelo governo dos Estados Unidos apenas em 2018, no qual se afirma que ela teria perdido um bebê que era fruto de sua relação secreta com Robert F. Kennedy. Para quem deseja começar a se familiarizar com o caso, a obra ainda vale a pena ser vista, mas não há nada de novo, além do fato de que agora podem ser ouvidas as declarações anteriormente restritas ao livro.