Os drones já substituem os caças em grande parte das operações militares, mas ainda existem situações que requerem a presença dos aviões. Para preparar os pilotos para uma dessas difíceis missões, o Capitão Pete ‘Maverick’ volta como professor ao grupo de elite Top Gun, onde teve um passado brilhante. Tendo apenas três semanas para instruí-los, o veterano ainda precisará lidar com o rancor do filho de Goose, seu grande amigo que morreu enquanto treinava com ele.
Da mesma forma que os personagens possuem uma grande incumbência, os responsáveis por trazer “Top Gun” de volta após 36 anos também precisaram ter coragem e destreza, pois resgatar uma trama que já havia sido dada como encerrada é um risco. Não faltam exemplos que deram errado. Porém, Joseph Kosinski aceitou a missão de dirigir a nova história desenvolvida por Peter Craig e Justin Marks, cujo roteiro foi escrito por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie.
O filme já começa com um grande acerto: saber apresentar o Maverick para aqueles que eventualmente não tenham assistido a obra de 1986. Quando todos já estão cientes sobre quem é aquele audacioso aviador, somos levados para o treinamento dos pilotos da Top Gun, onde a trama começa de fato.
Lá, o personagem principal necessita preparar seus alunos em tempo recorde, provar ser capaz de desempenhar essa função, lidar com filho de seu amigo e as memórias que vem à sua mente, além de buscar reconquistar Penny (Jennifer Connelly). A personagem é o novo interesse romântico dele, uma vez que a Charlie não reaparece nessa nova história.
A narrativa se desenvolve bem numa alternância entre essas demandas do protagonista. Há momentos de tensão, diversão e emoção. E quando chega no desfecho, a história poderia até restringir-se ao caminho mais previsível, pois já seria grandioso. Mas os minutos finais tomam um caminho surpreendente, no qual Tom Cruise parece viver simultaneamente o Maverick e o Ethan Hunt de “Missão: Impossível”.
Por falar nele, o ator parecia visivelmente realizado em estar fazendo esse filme. Em 1986, aos 25 anos, Cruise estava iniciando a carreira e ainda deixava a desejar em alguns pontos, como na cena em que o Maverick dialoga com a viúva do Goose. Agora, Tom sabe entregar a emoção que cada momento pede, além de apresentar autenticidade ao voar em um caça F-18.
Além de ter ficado bem parecido com o Goose, Miles Teller se destaca por colocar bem em cena o ressentimento que o Rooster possui pelo Maverick. Dentre os intérpretes dos alunos, também vale destacar as boas atuações de Monica Barbaro no papel da Phoenix e o Jack Schumacher como o Omaha. Em uma breve aparição onde volta a viver o Tom ‘Iceman’ Kazansky, Val Kilmer entrega um dos momentos mais marcantes de todo o longa-metragem.
As boas atuações e o ótimo roteiro somam-se a uma fotografia primorosa, repleta de visuais belos e que sabe nos imergir nas cabines dos caças. Para isso, parte do elenco precisou aprender a operar as câmeras, uma vez que estariam sozinhos com elas durante os voos. As escolhas das regiões montanhosas onde acontecem os treinos e a missão contribuem com a história e as incríveis cenas. Por sua vez, a trilha sonora ajuda desde o começo a resgatar o clima do filme de 1986.
“Top Gun: Maverick” não chega a ser uma obra perfeita. Há momentos de excessivo didatismo e instantes que poderiam ser mais caprichados. Porém, o fato é que esse filme e sua equipe deram uma aula de como resgatar uma história dada como encerrada. Eles souberam agradar os antigos fãs ao honrar personagens clássicos, introduziram bem o protagonista aos novos espectadores e entregaram um ótimo enredo, o que surpreendentemente culminou em um longa-metragem ainda melhor que o primeiro.