Na cidade de Chicago, oito mulheres foram assassinadas de uma mesma forma nos últimos 20 anos. O homem responsável por esses crimes segue desconhecido, mas a sobrevivência de Kirby Mazrachi (Elisabeth Moss) pode finalmente encerrar a sua impunidade. Entretanto, ela sofre com recorrentes perdas de memória, o que pode atrapalhar sua busca por justiça. Junto com ela na caçada ao serial-killer está o jornalista Dan Velazquez (Wagner Moura), um profissional sério, mas que também lida com um problema pessoal.
Baseada no livro “The Shining Girls”, lançado em 2013 por Lauren Beukes, a nova produção da AppleTV+ é dirigida por três mulheres: Daina Reid, Michelle MacLaren e Elisabeth Moss. Ao longo de oito episódios, a obra audiovisual busca nos imergir em uma investigação complexa, na qual não basta encontrar os rastros dos crimes: o que mais importa é entender o que está acontecendo e acreditar na descoberta.
Em seus dois primeiros capítulos, a série se propõe principalmente a apresentar a sua protagonista, uma mulher esforçada em encontrar quem quase lhe matou, mas que lida com problemas de memória e em sua percepção da realidade, numa aparente consequência do trauma que vivenciou. Ao se propor a mostrar quem é a Kirby, a história começa bem, inclusive por fazer isso ao mesmo tempo que avança na investigação.
Porém, à medida em que “Iluminadas” avança, o bom ritmo do começo vai se perdendo. Por mais que a origem do método do assassino só seja apresentada no interessante sexto episódio, nós espectadores já entendíamos o que ele estava fazendo muito antes disso. Desse modo, estamos muito à frente de Kirby e Dan no conhecimento sobre o serial-killer. E assim, em alguns momentos, vê-los tateando no escuro se torna enfadonho. Por mais que algumas descobertas sejam feitas, o enredo parece simplesmente não querer avançar.
Mesmo no começo do encerramento, não se sente aquela sensação forte de história próxima de um fim. Até a metade do capítulo final, tudo parecia apenas mais um episódio, onde há avanços, mas falta adrenalina. A partir do minuto 27, a trama finalmente ganha o fôlego que deveria estar apresentando desde muito antes, o que culmina num ótimo desfecho, mas que poderia ter sido melhor explorado.
Novamente no papel de uma mulher que lida e sofre com homens perigosos, Elisabeth Moss vive uma personagem que possui tanto um pouco do abalo emocional da Cecilia de “O Homem Invisível”, como também uma parcela da bravura indomável da June de “The Handmaid’s Tale”. Porém, ao encenar a nova personagem, a excelente atriz te faz esquecer rapidamente de seus papéis anteriores. Sem dúvidas, sua atuação torna essa série melhor.
Quem também vai bem é o brasileiro Wagner Moura. Ao viver o jornalista investigativo, o ator formado em jornalismo apresenta uma postura congruente com alguém que busca extrair informações. À medida que a série avança, ele sabe tornar o Dan cada vez mais dedicado a investigação, mas sem o envolvimento emocional da Kirby, o que faz do personagem um parceiro necessário para a protagonista e muito relevante na trama. Por fim, também se destaca o Jamie Bell. Ele capricha ao viver um vilão de conduta traiçoeira e dissimulada, hábil em estar por perto sem ser notado e violento ao agir.
A direção de arte é um dos pontos fortes da produção, o que era necessário para que algumas mudanças nos cenários fossem sentidas, nos colocando na posição da protagonista. Já a montagem poderia ter sido mais bem planejada desde o roteiro, o que beneficiaria o ritmo da narrativa. Os acontecimentos do sexto episódio, por exemplo, deveriam ter sido diluídos ao longo da série.
Adaptações audiovisuais de obras literárias não precisam necessariamente seguir à risca os livros. Porém, quando se mexe em algo, inevitavelmente se abre uma margem para comparação. A decisão de tirar o ponto de vista da maioria das outras vítimas acabou sendo ruim, pois apresentar os fatos na linha do tempo das ações do vilão ajudaria a nos imergir mais na forma como a Kirby percebe a realidade. E que fique claro: a série não é ruim, mas faz um uso fraco de uma matéria prima poderosa. Uma vez que o desfecho é bem amarrado, a realização de uma segunda temporada seria bastante forçada.