Esse texto contém spoilers.
Esse é o caminho: encontrar um jedi e lhe entregar a criança, no intuito de que ela possa crescer com outros que possuem as mesmas habilidades. Todavia, a jornada do Mandaloriano (Pedro Pascal) não é fácil em uma galáxia onde a cada pedido de ajuda é necessário pagar a informação com um favor. Ao mesmo tempo, ele também precisa escapar das forças remanescentes do Império.
Um ano após uma estreia muito bem avaliada, a segunda temporada de “The Mandalorian” chegou cercada de grande expectativa, pois seu resultado não selaria apenas o destino do personagem principal e do até então conhecido como “Baby Yoda”. Após o fraquíssimo desfecho da nova trilogia de “Star Wars”, a esperança de um futuro promissor para franquia caiu nas mãos de Jon Favreau, criador e roteirista da série.
Tendo essa responsabilidade em mãos, claramente surge um desafio: mesclar a necessidade de expandir o universo através de personagens e cenários novos, ao mesmo tempo que é necessário situar sua história em um contexto preexistente. Na maior parte do tempo, há um equilíbrio entre construir algo novo e se valer de elementos nostálgicos.
Somos apresentados a novos tipos de cenários urbanos como ainda não havíamos visto em produções live-action de “Star Wars”. Ao invés de metrópoles ultra desenvolvidas como Coruscant, passamos pela vila cercada por uma muralha onde poeira e fumaça se misturam, um local periférico tomado por pichações e uma cidade portuária. Espécies alienígenas ganham maior destaque, ainda que na verdade sejam seres como sapos e formigas em um diferente estágio evolutivo.
Novamente sob comando do músico Ludwig Göransson, a trilha sonora continua como um dos pontos fortes da série. Capaz de em poucos segundos mudar de tons mais simples para um ritmo épico, o tema principal está em constante adaptação as circunstâncias da história. Pode soar como o início de uma nova aventura, realçar um instante de cooperação ou nos alertar que coisas grandes estão para acontecer.
Responsável por grande parte da atenção que a série ganhou, a criança agora tem um nome: Grogu. Escondido desde quando o Império tomou o controle da galáxia, ele ainda tem sua origem desconhecida, apesar de ser provável a sua ligação com o Mestre Yoda. Um vínculo é certo: o Mandaloriano e Grogu são como pai e filho, ao ponto dessa relação ter ameaçado o treinamento do pequeno para tornar-se um jedi.
Ainda que isso não se destaque em uma narrativa com tanta ação, é um fato que Grogu teve suas peculiaridades muito bem desenvolvidas nessa temporada. Ao mesmo tempo que ainda não entende o conceito de propriedade alheia, de modo que busca levar a boca o que vê pela frente, o pequeno parece compreender o futuro promissor ao qual está destinado. Quando consegue conectar-se com a força, isso ocorre com uma intensidade incomum para sua idade.
Na busca por levar a criança até o seu destino, a cada episódio o Mandaloriano enfrenta uma missão secundária. Ainda que algumas sejam interessantes, como no capítulo onde ele invade uma base do império com o prisioneiro Mayfeld (Bill Burr), essa constante pausa na missão do protagonista para satisfazer a necessidade de alguém faz a narrativa entrar em um ciclo repetitivo. Ele pede a informação, precisa fazer um favor perigoso e consegue escapar, sem perdas ou sacrifícios significativos até chegarmos ao sexto episódio.
Alguns personagens apresentados anteriormente na franquia “Star Wars” são inseridos em “The Mandalorian”. Ahsoka Tano, vivida por Rosario Dawson, já havia aparecido nas séries animadas “The Clone Wars” e “Rebels”, além do livro “Ahsoka” (2016). Ela é acertadamente apresentada lutando antes de seu contato com o Mandaloriano, propiciando que um público que não a conhecesse pudesse ver sua capacidade antes dela lutar contra Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto).
Depois de ter ressuscitado o Imperador Palpatine e Darth Maul em produções anteriores, a franquia “Star Wars” traz de volta mais um personagem presumidamente morto. Boba Fett (Temuera Morrison) retorna com a missão de recuperar a armadura que lhe consagrou nos filmes. Caçador de recompensas assim como o Mandaloriano, anteriormente ele era percebido como um vilão, especialmente por ter levado Han Solo para o Jabba the Hutt. Agora aparece como um sujeito solidário, que ajuda o protagonista na dificuldade. Uma mudança um tanto brusca.
Quando chega ao fim, “The Mandalorian” não apresenta um capítulo final tão forte quanto demonstrou pretender. Isso porque o resgate de Grogu se vale de algumas fraquezas de roteiro. Câmeras de monitoramentos só aparecem quando é necessário vigiar as forças do Império. Por onde passaram, as invasoras encontraram portas abertas como se sua chegada fosse do conhecimento apenas dos Stormtroopers mais próximos.
Além disso, os Dark Troppers terem sido simplesmente ejetados da nave é uma decisão narrativa que subestima os próprios antagonistas, uma vez que eles teriam posicionado o esquadrão junto de uma grande brecha de segurança. Quando retornam e lutam contra o jedi misterioso, em uma cena que claramente busca replicar o momento final de “Rogue One: Uma História Star Wars” (2016), o fato de os alvos serem robôs e não humanos, como no filme, enfraquece o peso do momento.
Aos poucos, a revelação de que o Jedi era o Luke Skywalker vai apresentando-se através elementos como a X-Wing, o sabre de luz verde e a luva em uma das mãos. Até o momento que vemos o incrível trabalho de computação gráfica que rejuvenesceu o Mark Hamill para trazer o jovem Luke de volta. Ainda que seja um coadjuvante na despedida de Grogu e do Mandaloriano, a presença dele ali é preciosa, pois coloca a criança nas mãos de alguém que deseja retribuir o que Yoda fez por ele um dia.
Ao mesmo tempo que consegue fechar dignamente a jornada iniciada em 2019, a nova temporada também deixa perguntas em aberto para 2021. A primeira e mais óbvia é: como será a vida do Mandaloriano sem a criança? Possuindo o sabre sombrio em mãos, ele entrará em conflito com Bo-Katak? Sua vida como caçador de recompensas será retomada? Quanto ao Grogu, ainda que esteja em boas mãos, o que acontecerá com ele quando o Luke abandonar tudo e for se isolar? Só uma coisa é certa: a força continuará com eles.