Quase quarenta anos após o término da Segunda Guerra Mundial, onde perdeu o homem pelo qual era apaixonada, Diana Prince (Gal Gadot) ainda se sente solitária. Sem ter envelhecido um dia sequer, além de salvar pessoas como a Mulher-Maravilha, ela atua como arqueóloga e antropóloga cultural. Ao entrar em contato com uma pedra milenar capaz de realizar desejos, a heroína traz de volta ao mundo o amor de sua vida.

Depois do filme “Mulher-Maravilha” (2017) ter sido um grande sucesso de público e crítica, ao apresentar as origens e o início da jornada da personagem, a diretora Patty Jenkins entendeu que também poderia assumir a função de roteirista junto com Geoff Johns e Dave Callaham. A missão agora era desenvolver a protagonista, inserir personagens dos quadrinhos e principalmente entregar uma boa história.

Entretanto, o desenvolvimento do roteiro aparece claramente como o maior problema de “Mulher-Maravilha 1984”, por vários aspectos. Um deles é que o filme desnecessariamente possui duas introduções. A primeira utiliza a fórmula da obra anterior e nos leva novamente para a infância de Diana em Themyscira. Um ótimo começo, especialmente em aspectos visuais, mas com pouca conexão ao resto da história.

Quando o filme começa de fato, a ambientação nos anos 80 deixa de ser um cenário e praticamente vira um personagem da história. O desenvolvimento da narrativa é mais lento do que precisava para que haja uma contemplação da estética da época. Há uma busca por repetir com o Steve Trevor (Chris Pine) a experiência de descoberta de uma nova civilização, situação que a Diana viveu no filme anterior, mas como em toda repetição não há o mesmo impacto da primeira vez.

Uma parte considerável da trama é muito previsível. Quando a protagonista faz o pedido pelo retorno do Steve, o público já consegue prever o que vai acontecer quando os vilões fizerem uso do objeto. Apesar um bom momento de ação numa perseguição, a história só fica realmente interessante no final do segundo ato, quando a Mulher-Maravilha se vê mais vulnerável as ações dos antagonistas e diante de um dilema.

Entretanto, o desfecho é fraco. Ainda que seja louvável a iniciativa de fugir do padrão de filmes de heróis recentes, onde todo clímax exige uma grande batalha, a narrativa acaba caindo em um final muito piegas, no qual a protagonista de forma demasiadamente meiga busca alcançar o sucesso através de palavras. Em um momento extremamente grave, a Gal Gadot fala com a tranquilidade de quem conversa em um café da manhã.

Apesar disso, em boa parte do tempo a atriz entrega uma atuação satisfatória. Da mesma forma que sempre penso no Christopher Reeve quando se fala no Superman, acredito que ela venha se consolidando como a Mulher-Maravilha que servirá de referência para futuras intérpretes da personagem, por transmitir autenticidade emocional ao se expressar.

Kristen Wiig entrega a melhor atuação do filme ao interpretar a transição de Barbara Minerva, inicialmente marcada pela postura introvertida e seu bom coração, na ambiciosa Mulher-Leopardo. Por sua vez, Pedro Pascal é bastante convincente ao dar vida ao caricato Maxwell Lord. Chris Pine entrega uma atuação sóbria que serve mais como um apoio para trazer as emoções da protagonista.

Ao buscar resgatar tantos aspectos do filme anterior, “Mulher-Maravilha 1984” esquece de trazer o principal: a capacidade da protagonista de te deixar estupefato com sua incrível habilidade de lutar com todas as forças pelo que considera justo. Apresentando uma duração longa para pouca história, o filme desperdiça uma ótima oportunidade de fortalecer percepção da personagem como a maior heroína que já saiu das páginas dos quadrinhos.