Depois de viver em dois estados da costa-oeste americana, Jacob Yi (Steven Yeun) levou sua família de origem sul-coreana para o Arkansas. Na bagagem, ele carrega o sonho de garantir o sustento deles através da plantação de frutas e vegetais coreanos. Entretanto, a mudança não agradou a esposa Monica Yi (Yeri Han), pois ela se preocupa com a grande distância da nova casa para um hospital, uma vez que seu filho mais novo possui um problema cardíaco.
Quem assiste com atenção a “Minari – Em Busca da Felicidade” logo sente que tudo ali transmite muita autenticidade. E isso possui uma razão: o diretor e roteirista Lee Isaac Chung é filho de imigrantes sul-coreanos e cresceu em uma pequena fazenda no Arkansas. Apesar de não se tratar de uma autobiografia, ele coloca em cena muitas coisas que experienciou vivendo ali.
A narrativa se desenvolve de forma suave ao nos inserir na rotina daquela família. Conhecendo as dificuldades enfrentadas por eles, o questionamento que passa pela cabeça é qual daquelas situações se desenvolverá como um problema maior. Aos poucos, o que fica claro é que quase todas as adversidades pioram e começam a interligar-se, o que testa a persistência e as relações entre os familiares.
Boa parte da autenticidade que mencionei anteriormente também existe graças ao ótimo elenco. As vezes através de uma simples reação facial, Steven Yeun transmite a mentalidade daquele homem cuja fé está exclusivamente na crença de estar fazendo a coisa certa. Podendo até ser interpretado como egoísta e arrogante, o personagem encontrou um ator que lhe faz crer que o Jacob se vê como um pai de família perseverante.
Yeri Han não fica atrás ao dar vida a esposa Monica, uma mulher de olhar firme que não fica incomodada em silêncio. Enérgica diante do marido, ela se apresenta de forma muito doce diante dos filhos. Porém, quem rouba a cena é a atriz Youn Yuh-jung. Ela interpreta de Soonja, uma senhora que chega da Coreia do Sul para viver com a família nos EUA, mas é uma avó totalmente fora do habitual ao gostar, por exemplo, de assistir lutas na TV. A partir de certo momento da trama, o trabalho da atriz torna-se ainda mais admirável.
Apesar das decisões dos adultos moverem a narrativa, quem também protagoniza a história é o menino David. Uma vez que ele está conhecendo aquela realidade assim como nós, muitas vezes o diretor utiliza o olhar dele para nos apresentar as novas questões enfrentadas pela família, além daquela sociedade em que estão inseridos.
O garoto é muito bem interpretado pelo Alan Kim. Ele nos mostra um menino de olhar curioso e tímido ao mesmo tempo. Expressa bem os medos daquela criança, seu esforço para andar rápido sem comprometer o coração, além da despretensão de suas ações. Também vale mencionar a Noel Cho, jovem atriz que dá vida a filha mais velha Anne. Apesar de aparecer menos que o garoto, ela vai muito bem ao fazer uma menina bastante sensata e espontânea.
Ambientada nos anos 80, a obra nos insere em sua época através de carros, eletrodomésticos e televisores daquele período. Entretanto, sua cenografia preza pela simplicidade e deixa nossa atenção voltada para história. A movimentação da câmera se adequa aos deslocamentos dos personagens, enquanto os melhores planos do filme são aqueles que enquadram mais de uma pessoa.
Este é essencialmente um filme sobre relações humanas, seja entre pai e filho, marido e esposa, patrão e funcionário, avó e netos, dentre outros vínculos. E uma vez que o diretor coloca muita autenticidade em cena, não é difícil reconhecer nos personagens comportamentos que nós vemos em nossas vidas.
Para citar um exemplo, há instantes onde alguns deles mencionam fatos distintos e os associam como se tivessem uma ligação, estabelecendo uma falsa correlação de causa e efeito. Curiosamente, a montagem no terceiro ato apresenta duas situações separadas que ocorrem simultaneamente, mas que dessa vez de fato possuem uma conexão.
“Minari – Em Busca da Felicidade” apresenta personagens que nos conquistam por suas virtudes e defeitos. Olhamos para persistência do Jacob e lembramos de momentos próprios, no quais refletimos se estávamos sendo perseverantes ou teimosos. E ao nos enxergarmos na luta daquelas pessoas, torcemos verdadeiramente por elas.