Em uma aparente crise da meia-idade, quatro professores dinamarqueses estão desmotivados, pois suas vidas caíram em uma rotina tediosa. Ao conversarem em um jantar, uma ideia surge. Baseando-se em uma tese sobre uma suposta quantidade de álcool que todos deveríamos manter no organismo, eles decidem beber em dias de trabalho, no intuito de melhorarem suas aulas e o convívio familiar, além de avaliarem se a teoria procede.

A Dinamarca recorrentemente aparece nas primeiras posições em listas sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Ciente dessa realidade de sua terra natal, o diretor Thomas Vinterberg escreveu junto com Tobias Lindholm uma obra que aborda o tema de maneira sábia. Conforme o início do filme mostra, uma possibilidade era abordar o alcoolismo na adolescência. Entretanto, o roteiro foge do mais do mesmo e se volta para os professores deles.

“Druk – Mais uma Rodada” não é um filme que começa com um ritmo ágil, pois precisamos conhecer bem os principais personagens até que suas vidas comecem a mudar. Dentre eles, o que mais acompanhamos é Martin (Mads Mikkelsen), um professor que leciona História aos alunos do ensino médio. Este é claramente aquele que está mais insatisfeito com a vida, ao não ter a atenção de seus estudantes e pelo pouco contato com a esposa.

É acertada a decisão de focar-se em um deles, mas sem deixar de mostrar momentos particulares de todos. Tendo o Martin como um parâmetro da rotina dos demais, se torna mais fácil notar as transformações quando eles passam a beber durante o dia. Pouco a pouco, seus conflitos internos parecem diminuir, enquanto a vida familiar e o dia a dia profissional tornam-se mais intensos.

Mads Mikkelsen transmite veracidade ao expressar essas mudanças. O Martin parecia amargurado ao chegar no jantar com os amigos, mas depois de algumas rodadas já começamos a ver algum interesse em seu olhar. As aulas são o melhor termômetro dessa metamorfose bem demonstrada pelo ator. Se antes havia uma postura contida e uma voz desinteressante, o efeito dos goles de bebida é visível, pois o professor passa a interagir com os alunos de forma dinâmica.

Cada um ao seu modo, os demais atores também mostram como novo hábito melhorou o convívio de seus personagens com os estudantes. Ao ensinar música, Peter (Lars Ranthe) consegue conectar-se melhor com o coral, pois sua percepção parece estar mais ativa. Diante de pequenos jogadores de futebol, o professor de educação física Tommy (Thomas Bo Larsen) apresenta maior paciência.

Por sua vez, Nikolaj (Magnus Millang) parece mais atencioso com os alunos, o que lhe leva a reparar e querer ajudar na ansiedade de Sebastian (Albert Rudbeck). Evidentemente, os efeitos da bebedeira não seriam apenas positivos. Os personagens logo aumentam o nível de embriaguez e passam a envolver-se em discussões, o que exige mais dos atores.

Apesar de eles passarem bastante tempo no colégio, somente ao entrarmos em suas residências é que vemos por completo como cada um está. As transformações nesses locais simbolizam a vida deles naquele instante. Junto com os acertos da cenografia, a iluminação das casas contribui na busca por expressar momentos sombrios.

A edição do filme se destaca como um ponto chave para seu sucesso. Em vários momentos acompanhamos uma tela preta, na qual são escritos relatos sobre a fase do experimento em que eles se encontram, a quantidade de álcool em seus organismos e trocas de mensagens pelo celular. Assim, a obra sinaliza para o espectador alguns pontos de virada na narrativa.

A montagem contribui ainda na comicidade do longa-metragem ao exibir, por exemplo, uma sequência de cenas onde líderes políticos supostamente estariam embriagados. Mesmo mostrando seus personagens bebendo com frequência, a obra não deixa uma sensação de ser repetitiva. Apesar disso, várias vezes fica uma impressão de que a história está chegando ao fim e não acaba.

Outro sentimento que existe é o de calmaria que precede a tempestade, quando eles passam a beber cada vez mais. Internamente, já começamos a projetar como eles poderiam ter o segredo descoberto, além de eventuais consequências em suas vidas. Ainda que valorizando a amizade, o filme mostra como pessoas podem se unir para enganar a si mesmas. O alcoolismo é exposto como algo que não lhe deixa opção, pois seus gatilhos são facilmente ativados e retroalimentados.