Os familiares de Rob G. Rich sempre comemoram o réveillon tendo um pensamento em mente: nesse ano, ele será libertado da prisão. Entretanto, esse hábito já dura duas décadas. Condenado há 60 anos de cadeia por assaltar um banco, ele não acompanhou de perto o crescimento dos gêmeos Justus e Freedom, nascidos após o pai ter sido preso. Ainda assim, a ausência não diminui o amor de seus filhos e de Fox Rich, esposa que se empenha em conseguir sua soltura.

Além de uma família que conseguiu se manter unida apesar da distância do Rob, a diretora Garrett Bradley tinha outra preciosidade a sua disposição. Nos primeiros anos de prisão do marido, Fox Rich utilizou uma filmadora VHS para gravar o desenvolvimento dos filhos, registrar datas especiais e até mesmo dias comuns, no intuito de que seu companheiro um dia pudesse ver esses momentos.

Inicialmente, o uso das imagens antigas no documentário parece muito promissor. Ao vermos uma mãe dedicada aos filhos e sem esquecer-se do marido, nós de imediato nos afeiçoamos por essa família. Quando cenas gravadas na atualidade aparecem, elas ainda são bem intercaladas com o passado ao nos esclarecer o que levou Rob para cadeia.

Até que chega o momento ao qual o filme dedica mais tempo: a busca da família para obter uma liberdade condicional, além de atividades onde o sistema prisional dos Estados Unidos é alvo de críticas, como em palestras da Fox Rich e nas aulas de Ciências Políticas de um dos filhos. Nesse instante, o documentário torna-se tedioso e parece desprezar a atenção de seu espectador.

É admirável a decisão de mostrar o impacto da prisão de Rob naquela família, lhes fazendo ter o combate a injustiças como uma verdadeira causa de vida. Mas ao exibir isso, há inúmeros momentos onde poderiam haver cortes para reduzir a monotonia, em uma narrativa onde as coisas pouco evoluem e as pessoas falam quase surrando.

A trilha sonora também transmite morosidade, não por ser ao som de um piano, mas por ficar lenta ao adequar-se a um contexto enfadonho, seguindo assim até mesmo quando as imagens pedem por maior intensidade sonora. Também é questionável a decisão de exibir a obra inteira em preto e branco. Ainda que a escolha transmita como aquela família ficou com a vida sem cor, isso também tirou muito da energia que o filme poderia transmitir através das imagens.

Em sua última meia hora, o documentário recupera um pouco de seu bom ritmo inicial, quando surge uma possibilidade de Rob G. Rich obter sua liberdade condicional. Há ainda um momento importante onde ouvimos sua voz em uma ligação telefônica, instante no qual finalmente, após 54 minutos, temos algum contato com ele que não seja através das imagens antigas.

Ao deixar de mostrar um certo momento na vida deles, o documentário ainda desperdiça a oportunidade de fechar um ciclo muito importante. A gravação desse instante produziria um final que se integraria totalmente com aquilo que nos é proposto no início da narrativa, mas a filmagem estranhamente não parece ter sido solicitada a família.

Assim, mesmo fazendo você se importar com a família de Rob G. Rich e torcer por sua liberdade, o documentário não consegue preservar sua atenção, pois apresenta uma causa relevante de maneira cansativa. Haviam vários caminhos para tornar a obra mais interessante, pois seus atores sociais tinham muito a dizer, mas há uma escolha por focar cotidiano deles e daí tirar boas declarações. E quando elas são alcançadas é sempre em meio a situações rotineiras e dispensáveis.