Enquanto dirigiam perto de Las Vegas, um grupo de militares se envolveu em um acidente de trânsito com repercussões inimagináveis. Até então desconhecida, a carga transportada por eles era um zumbi. Assustadoramente robusto e capaz de resistir a tiros, ele dissemina sua característica sempre que ataca alguém. Deste modo, não demorou para que grande parte da população local se transformasse em mortos-vivos. Mesmo isolada pelo governo, a cidade dos cassinos ainda gera interesse em quem deseja buscar a fortuna que ficou para trás.
Zack Snyder está de volta as suas origens. Uma vez que ele estreou como diretor de longas-metragens em “Madrugada dos Mortos” (2004), mas nos últimos anos vinha se dedicando aos filmes dos heróis da DC Comics, seu retorno as histórias de zumbis era cercado de expectativa. Escrito por ele em conjunto com Shay Hatten e Joby Harold, o roteiro apresenta uma premissa que se destaca pelo cenário onde tudo ocorre.
Poucos dias antes do lançamento do filme, a Netflix decidiu disponibilizar gratuitamente seus primeiros quinze minutos. Quem vê o inicio dessa história logo entende o porquê, uma vez que o trecho inicial conquista rapidamente o público, especialmente pela sequência ao som de “Viva Las Vegas”, na qual a cidade é tomada pelos zumbis. Ao mesmo tempo, ali também são introduzidos os sobreviventes que retornariam para buscar a grana.
Quando esse momento se encerra e o retorno começa a ser discutido, o filme passa a apresentar seus defeitos. Uma vez que a cidade estava cercada por representar um grande perigo ao resto do mundo, o retorno a Las Vegas deveria ser um dos principais desafios do filme, algo que contrariasse as autoridades e colocasse os personagens em risco. Entretanto, a segurança do local é convenientemente frágil e eles entram andando tranquilamente.
Também há uma tentativa de fazer suspense em situações de desfecho previsível, o que compromete um pouco do ritmo da trama. Dito isso, vale ressaltar que os acertos da narrativa chamam mais atenção do que aquilo que é questionável. Um deles é relativo a um grupo de zumbis mais racionais. Capazes de negociar, eles não atacam meramente por um comportamento padrão, mas motivados por vingança.
Quem lidera os invasores é Scott Ward, um homem traumatizado por ter precisado matar a mãe de sua filha, pois ela estava prestes a virar zumbi. O personagem é vivido por Dave Bautista, conhecido principalmente por interpretar o Drax nos filmes da Marvel. Sua boa atuação atende a quatro características necessárias ao personagem: empenho e força em todos os momentos, a preocupação e o cuidado com sua filha, a firmeza necessária para liderar o grupo, além de um carisma crucial para ele ter a torcida dos espectadores.
Todo membro da equipe possui seu momento de protagonismo, o que possibilita um olhar mais detalhado a cada atuação. Na minha visão, quem mais se destaca é Matthias Schweighöfer. Ao interpretar o Dieter, homem responsável por abrir o cofre e sem grande experiência com armas, o ator entrega uma comicidade que não soa forçada, pois suas reações são congruentes com as características do personagem.
Uma vez que a narrativa dá bastante importância para a Kate Ward, filha do Scott, a interpretação de Ella Purnell também se sobressai. Ela não convence muito no início, principalmente possuir um tom de voz parecido tanto em instantes de agressividade, como no momento onde a moça é compreensiva. Contudo, quando as situações apresentam maior seriedade ao longo da trama, a atriz parece mais bem conectada com a personagem e expressa aquilo que é necessário.
Os efeitos visuais são excelentes. Destaco especialmente a existência de um tigre-zumbi que parece muito real. Através da maquiagem e também de CGI, os mortos-vivos também são convincentes, especialmente aqueles do tipo mais resistente. Sangue não falta ao longo do filme, as vezes de forma exagerada, mas condizente com o clima estabelecido. Nessa nova Las Vegas, o cenário parece coerente com os fatos ocorridos. Apenas não faz sentido a existência de um casino praticamente intacto, enquanto prédios próximos parecem destruídos até o topo.
No desfecho, Zack Snyder busca apresentar apoteose visual, além de deixar uma ponta solta visando uma futura continuação. Preocupando-se com isso, ele torna os últimos minutos da narrativa pouco críveis, pois conhecendo as implicações de um certo acontecimento, notoriamente tudo que se passa depois não teria como ocorrer. Ainda assim, o desenrolar da história certamente agradará quem curte filmes de zumbis, mas aqueles que não são grandes admiradores desse subgênero dificilmente aceitarão a narrativa em sua totalidade.