A Ilha Amity: um lugar pacífico e que orgulhosamente trabalha para acolher bem os turistas em suas praias. Toda essa tranquilidade leva Martin Brody (Roy Scheider), chefe da polícia local, a comprar uma pequena embarcação para o lazer de seus filhos. Apesar de não apreciar entrar no mar, sente que sua presença ali é mais útil que nas grandes cidades. Até que a calmaria é interrompida com o sumiço da jovem Chrissie Watkins (Susan Backlinie), cuja morte é constatada logo em seguida, por um motivo que todos não desejavam acreditar: o ataque de um tubarão.

Adaptado do livro de Peter Benchley, que participou da criação do roteiro junto com Carl Gottlieb, “Tubarão” é um clássico. Dentre outros motivos, por ter feito uma adaptação muito boa para o cinema. O filme nos transmite uma tensão diferente. Estamos quase sempre à luz do dia. Muitas vezes com som ambiente ao fundo. Mas o clima de normalidade que sabemos estar errado, nos deixa ansiosos para saber quem será a próxima vítima do animal e quando ele vai atacar.

Ao mesmo tempo em que nos deixa tensos, o longa do jovem diretor Steven Spielberg também nos diverte, por exemplo, através de falsas aparições do tubarão assustando o chefe Brody. Em outro momento, quando nos preocupamos ao vermos interesses financeiros prevalecendo sob a segurança dos banhistas, torna-se inevitável rir com a pintura da barbatana de um tubarão no outdoor que promove o turismo local. Divertidos também são Sam Quint (Robert Shaw), marinheiro hábil em caçar tubarões, e o oceanógrafo Matt Hooper (Richard Dreyfuss) que vai até a ilha a convite de Brody. Suas reações a quem subestima o animal, além da relação entre os dois no tempo que passam juntos em uma embarcação, garantem bons momentos ao filme.

O modo como exibe o medo sentido pelo chefe de polícia perante a situação é acertado. Ao mesmo tempo que o personagem quer tranquilizar a família, parecer calmo junto aos banhistas e não demonstrar fraqueza aos colegas de aventura, se faz necessário que nós expectadores vejamos seu estado de tensão. E isso é sentido através das feições e dos gestos de Brody, não só pelo público, como também pelo filho mais novo que começa a imitar o pai preocupado.

Grande parte do sucesso de “Tubarão” também se deve a competente montadora Verna Fields. Foi dela a ideia de mostrar o animal só quando realmente era necessário, o que amplificou a tensão do filme, afinal quanto menos conhecemos algo mais temos medo daquilo. Somado a isso temos as imagens subaquáticas, onde vemos o ponto de vista do tubarão com a marcante assinatura musical criada por John Williams. A trilha é uma das primeiras coisas que vem à mente até hoje ao pensarmos nesse filme. Passados quase 45 anos desde a estreia, quem assiste pela primeira vez ainda pode esperar um filme imersivo que lhe gerará constante curiosidade sobre o que vai acontecer.

E mais: ver “Tubarão” hoje é um convite a repensar como os filmes atuais são gravados. É verdade que os efeitos digitais nos permitem criar filmes como “As Aventuras de Pi”, em que um jovem interage com um tigre. Ou recriar a Capela Sistina, como em “Dois Papas” que não obteve autorização para gravar no Vaticano. Mas há longas que podem tranquilamente gravar em uma locação externa e preferem o estúdio de fundo verde para inserção digital do cenário. Roy Scheider, Robert Shaw e Richard Dreyfuss gravaram no mar com um tubarão mecânico. E ver o enorme bicho naquele ambiente sem dúvida influenciou positivamente na ótima atuação deles.