Em dezembro de 2022, uma festa em clima natalino reúne pessoas para assistirem a final da Copa do Mundo. Diante da TV, todos se assustam quando soldados repentinamente aparecem no meio do campo. Vindos do futuro, eles informam a população mundial sobre uma guerra trinta anos à frente, na qual a humanidade corre o risco de ser extinta. Mais que isso: convocam a geração dos seus pais para ajudarem a salvar o mundo.

Escrito por Zach Dean, no seu terceiro trabalho transformado em um filme, o roteiro tem como protagonista um ex-militar que serviu na Guerra do Iraque. Pai de uma menina sagaz, ele é convocado para ir lutar no futuro e teme não retornar para sua época. O longa-metragem é dirigido por Chris McKay, anteriormente responsável por obras de animação como “Lego Batman: O Filme”. Aqui, ele faz uma boa estreia em uma produção live-action.

Um de seus principais acertos é apresentar essa nova realidade de forma visualmente crível. A maneira como o salto temporal funciona é interessantíssima, pois as pessoas já correm um risco ao literalmente caírem no período ao qual se destinam. O aspecto dos alienígenas é convincente e aterrorizante, apesar deles não serem tão diferentes de outros seres monstruosos da ficção. Já dentre os ambientes apresentados na narrativa, uma enorme fortaleza no oceano se destaca.

Conhecido por interpretar o herói Peter Quill, o ator Chris Pratt traz para “A Guerra do Amanhã” duas características de seu personagem nos filmes da Marvel. O primeiro é o bom humor independente das circunstâncias difíceis. Além disso, ele faz o rapaz transmitir completa segurança ao enfrentar seus inimigos.

Só que para o Dan Forester, a extinção da humanidade é apenas um dos problemas. Contra os aliens, o soldado possui boas armas e conhece as vulnerabilidades deles. Entretanto, ele nunca foi preparado para enfrentar a difícil relação com o pai, a necessidade de deixar família e outras questões que surgem. Nesse contexto, o ator consegue transmitir bem a forma como o personagem reage a essas situações.

J.K. Simmons domina as cenas nas quais o James Forester interage com o filho. Dono de uma postura dura, o veterano da Guerra do Vietnã busca reconciliar-se após ter abandonado a família. De modo bem diferente, ao transmitir bom humor, o ator Sam Richardson também se destaca. Seu personagem, o Charlie, não possui qualquer experiência militar. Deste modo, sua ida para lutar no futuro cria uma postura que gera instantes cômicos.

Vale ainda destacar a Comandante Romeo, uma militar vivida por Yvonne Strahovski e que ganha muita importância no segundo ato, ao liderar a missão na qual o protagonista possui um papel importante. Para quem está acostumado a ver essa atriz na série “The Handmaid’s Tale”, onde ela interpreta a vilã Serena Joy, um estranhamento é sentido. Embora as personagens sejam bem diferentes, a atriz imprime nelas um mesmo tom de voz. Apesar disso, à medida que a trama avança é possível conectar-se mais a combatente.

A narrativa cativa bem o espectador. Você sempre está diante de algo cujo desfecho desperta sua curiosidade. Algumas peculiaridades são bem plantadas no início da trama, no intuito de serem exploradas mais a diante. Entretanto, algumas vezes isso causa estranhamentos, pois as soluções estão sempre convenientemente próximas ao protagonista. Além disso, certas descobertas parecem mais forçadas para mover a história do que qualquer outra coisa.

Se escrever roteiros com viagens temporais é um risco, uma vez que certos paradoxos e incoerências podem ser criados, esse filme parece driblar bem esses perigos. Inicialmente o espectador pode pensar: mais eficiente que enviar pessoas ao futuro para lutarem, não seria criar soluções no presente que evitem a guerra? Então a narrativa surge com uma justificativa plausível, o que desencadeia uma descoberta importante.

Mostrando viagens no tempo, a humanidade sob a ameaça de extraterrestres e um pai que não quer ver sua família se desfazer, o filme utiliza ingredientes antigos, mas sabe uni-los e criar uma trama atraente. E assim, “A Guerra do Amanhã” escapa de ser um entretenimento facilmente esquecível, pois entrega a ação fazendo você se importar com aqueles que vê em cena.