No início do século XX, Lily Houghton (Emily Blunt) ainda não encontrava o reconhecimento que merecia. Ao invés de abraçar seu talento, a comunidade científica britânica lhe desprezava por ser mulher. Decidida a provar sua capacidade, ela embarca para a floresta amazônica, no intuito de encontrar uma lendária pétala capaz de curar todas as doenças.
Após o sucesso de “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra” (2003), naturalmente se notou a possibilidade de outra antiga atração dos parques da Disney ganhar um filme. Quase duas décadas depois, “Jungle Cruise” deixa de ser uma ideia ao estrear na plataforma Disney Plus e nos cinemas.
A direção é de Jaume Collet-Serra, conhecido por filmes de terror como “A Órfã” (2009) e obras de ação estreladas pelo Liam Neeson. Entretanto, nesse novo lançamento, ele lida com uma história de aventura, fantasia, comédia e romance. Escrito por Michael Green, Glenn Ficarra e John Requa, o roteiro faz com que esses gêneros se atropelem.
Nesse tipo de trama, o espectador espera e torce para que os personagens heroicamente superem os perigos enfrentados. Só que para desenvolver o lado cômico, aqui alguns grandes feitos foram sacrificados. Eventualmente as risadas são alcançadas, mas perde-se aquela tensão capaz de manter o público preso ao filme.
A narrativa apresenta dois focos de antagonismo. O primeiro é através do Príncipe Joachim (Jesse Plemons), um alemão que deseja usar o poder da pétala para curar seus soldados na guerra. Ou outro surge quando perigos do passado retornam de forma mística. Alternando entre eles, a história não consegue convencer que algum seja realmente perigoso.
Já o desenvolvimento dos personagens principais é bem construído. A Lily Houghton demonstra bravura e não aceita limites, apesar de possuir um medo particular. Intérprete da personagem, Emily Blunt soube atribuir a ela uma postura impositiva, mas sem que a cientista perdesse a simpatia. Chegando no Brasil, a moça encontra o capitão Frank Wolff (Dwayne Johnson). Dono de uma pequena embarcação, o homem busca sobreviver fazendo passeios turísticos, nos quais tenta agradar os clientes com piadas sem graça. Sua conduta pouco honesta lhe faz entrar em conflitos constantes com a visitante inglesa.
Ao dar vida a ele, ‘The Rock’ não deixa de entregar a habitual postura de fortão divertido, o que rapidamente leva o público a afeiçoar-se pelo guia malandro. O ator é convincente ainda ao fazer uma revelação sobre o começo de vida de seu personagem. Por outro lado, quando a relação entre Frank e Lily evolui, a química entre Dwayne Johnson e Emily Blunt não acompanha a narrativa.
Destaca-se ainda Jack Whitehall. Interpretando MacGregor Houghton, irmão da Lily, ele se sai muito bem ao fazer um personagem criado para ser o contraponto da protagonista. Enquanto ela é corajosa e despojada, o rapaz é medroso e traz consigo várias malas de objetos pessoais. Servindo quase sempre com um bom alívio cômico, o ator também capricha quando o moço conta um pouco de sua história.
O grande acerto do filme está no seu visual. Ao criar a Porto Velho do inicio do século passado, a obra cria um ambiente acolhedor e cheio de brasilidade. Já ao avançar na floresta, os afluentes do Rio Amazonas são valorizados não apenas através de takes belíssimos, como também com ênfase dentro da história. Destaca-se ainda uma onça-pintada desenvolvida em CGI, mas extremamente convincente.