ATENÇÃO: Alguns trechos desse texto podem ser considerados spoilers.
Já passava da meia-noite de 5 de maio de 2021, mas um enorme número de brasileiros se recusava a ir dormir. Durante meses, eles esperaram pelo instante onde uma paraibana venceria o mais importante reality show do país. Para ela, tão surpreendente quanto a vitória foi saber dos “quase 24 milhões de seguidores nas redes sociais”. Grata, emocionada e perplexa, a jovem entendia que sua rotina não voltaria mais a ser a mesma.
A série documental sobre Juliette Freire tem como título “Você Nunca Esteve Sozinha”, frase dita por Tiago Leifert quando a vitória dela foi revelada. De modo ainda superficial, graças a reportagens e relatos de Juliette ainda durante o programa, já se sabia que sua trajetória de vida havia sido marcada por uma infância humilde, a perda precoce da irmã Julienne, a formação em direito e o talento como maquiadora. Mas ao entrar em detalhes dessas histórias, se explicitam as razões pelas quais tantos brasileiros se identificaram com ela.
Sob a direção de Patricia Cupello e a direção geral de Patricia Carvalho, a produção possui seis episódios que foram lançados semanalmente na plataforma Globoplay. Se os primeiros minutos se voltam aos momentos de consagração na TV, logo a história dela passa a ser contada do início. São apresentados pormenores como a origem de seu nome e causos dos tempos de escola, além de detalhes de acontecimentos mencionados no programa.
Um desses fatos é a perda de Julienne. O segundo episódio serve como uma grande homenagem para ela, o que é coerente. Uma vez que Juliette possui como conduta sempre lembrar da irmã, no intuito de que as pessoas saibam quem ela foi, não havia nada mais justo que a série dedicar um tempo à memória dela.
Os capítulos três e quatro quebram o modo como a narrativa era contada até então. Antes em destaque, os depoimentos ficam em segundo plano quando a série passa a abordar a participação de Juliette no BBB. Curiosamente, a série documental dá seu maior tropeço justamente ao abordar um conteúdo da Globo.
Alvo de inúmeras conversas onde participantes falavam sobre ela em sua ausência, Juliette teve parte de sua ascensão também por conta da percepção do público de que ela era perseguida injustamente. Diante de telões com instantes do programa, a exposição desses momentos é mínima, pois a obra opta por trazer o assunto através de depoimentos das amigas dela. Não se acresce nada que o público já não soubesse.
Nessa parte, o destaque fica por conta de encontros musicais com personalidades como Elba Ramalho e Maria Gadú. Também ocorrem reencontros com alguns participantes do programa, como Lucas e Lumena. Sempre em clima de descontração, reconciliação e fraternidade.
Em seus dois últimos capítulos, a série retoma o fôlego inicial e mostra os primeiros meses dela fora do confinamento. Ao fazer isso, a obra apresenta o seu melhor. A montagem não se restringe apenas a cronologia, pois une momentos associados como lives musicais ou simplesmente a sonolência da nova celebridade.
É interessantíssimo ver como uma pessoa comum passa a lidar com a fama repentina, as expectativas ao seu redor e a posição de superioridade na qual foi colocada. São vistos pequenos choques de realidade, momentos de ansiedade, transformações em sua rotina e reencontros tocantes com familiares.
No fim, essa não é uma série documental sobre uma mera ex-BBB, mas sobre uma brasileira que viveu lutas com as quais é impossível não se identificar. E por ser capaz de unir em torno de seu nome um país tão polarizado, Juliette merecia que sua origem fosse apresentada em tantos detalhes, ainda que cause certo estranhamento tamanha homenagem a uma pessoa que está viva.