Sentada e aproveitando um sorvete em uma praia na Grécia, Leda Caruso (Olivia Colman) estava em paz com seus livros. Porém, a chegada de uma grande e barulhenta família interrompe sua tranquilidade. Enquanto tentava dividir o espaço com eles, a professora universitária começa a observar uma mãe e sua menina. Logo, isso passa a lhe trazer memórias desconfortáveis do seu passado.
Conhecida pelo público por ter interpretado personagens como a Rachel em “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (2008), a Elizabeth de “Donnie Darko” (2001), além de seus trabalhos em obras como “Adaptação” (2002), “O Sorriso de Mona Lisa” (2003) e “Coração Louco” (2009), Maggie Gyllenhaal faz nesse filme a sua estreia como diretora de longas-metragens. Além disso, também é dela o roteiro baseado no livro de Elena Ferrante.
Ao longo do filme, Maggie não busca apresentar uma grande jornada, mas simular a vida através das memórias da protagonista e de suas interações sociais. Deste modo, ainda que exista um fato que tira a rotina da Leda de sua normalidade, a única intenção consciente da personagem é seguir aproveitando suas férias, preferencialmente sem ser perturbada.
Só que o inconsciente é parte crucial dessa trama, pois ao ver a Nina (Dakota Johnson) e sua filha Elena (Athena Martin Anderson) na praia, a professora de literatura passa a lembrar de momentos da sua juventude. Mais que isso: ela revive as decisões difíceis e sua relação com as filhas, fatos que anos depois lhe geram um sentimento de culpa.
Uma vez que a narrativa de “A Filha Perdida” é apresentada assim, a montagem alternando entre presente e passado ajuda a definir bem quem é a personagem, pois mesmo que atrizes diferentes lhe interpretem e comportamentos distintos sejam vistos, ela possui o mesmo espírito livre nas duas épocas. Todavia, ainda que a edição saiba nos imergir pouco a pouco na mente da protagonista, nos fazendo querer entender a motivação de uma certa atitude, ela também peca ao não deixar o ritmo do filme mais ágil. Poderiam ser cortadas algumas cenas que agregam muito pouco a evolução da trama e a nossa percepção de quem é a personagem.
Na maior parte do tempo, a Leda Caruso é vivida pela Olivia Colman (The Crown). Por meio da atuação dela, nós conhecemos uma mulher que de longe aparenta lidar bem com a solidão, mas na verdade tenta preencher um vazio que já não pode ser verdadeiramente ocupado. A atriz expressa como a mulher busca ser compreensiva, especialmente porque também gostaria de ser entendida. Nos flashbacks com momentos da juventude da professora, ela é encenada por Jessie Buckley (Chernobyl) que se destaca nas cenas onde a personagem interage com as filhas.
Ambientado na fictícia Kyopeli, o filme na realidade foi gravado na ilha grega de Spetses. A escolha do local parece acertada, pois os cenários escolhidos de fato não fazem essa região parecer grande e povoada, o que justifica os recorrentes encontros da protagonista com a Nina e sua família. Ao colocar frente a frente essas duas personagens que tiveram adversidades ao lidarem com a maternidade, a obra reforça como essa é uma tarefa cansativa e que exige paciência, apoio e senso de responsabilidade.
Só que para transmitir isso, o filme possui dificuldades em conseguir fisgar a atenção do espectador. A personagem não é tão cativante e a narrativa se apega muito a fatos passados. Ainda que a obra explique as razões por trás da obtenção de um certo objeto, o ato segue parecendo injustificável e desnecessário, além da resolução dessa questão ser fraca. Ao focar-se em memórias e interações interpessoais, o longa-metragem possui bons momentos, mas nenhum deles é suficientemente marcante ao ponto de torná-lo memorável.