Diante do portão de uma imponente casa perto de Salzburgo, na Áustria, a noviça Maria (Julie Andrews) não estava surpresa apenas com o tamanho da residência. Sua missão também era grandiosa: ser a governanta responsável por cuidar dos sete indisciplinados filhos do Capitão Von Trapp (Christopher Plummer). No intuito de manter a ordem, o homem viúvo trata as crianças como pequenos soldados. Durante uma viagem do militar, a jovem religiosa decide transformar o clima da casa através da música.
“A Noviça Rebelde” estreou em 1965, inspirando-se em uma história real e tendo sua produção motivada pelo consagrado musical da Broadway “The Sound of Music”, mesmo nome dado ao longa-metragem em seu título original. Sucesso de crítica, terceira maior bilheteria da década de 60 e vencedor de cinco estatuetas do Oscar, incluindo a de Melhor Filme, a obra dirigida por Robert Wise tornou-se uma daquelas que longo vêm à mente quando se pensa em clássicos do cinema.
Evidentemente, não há uma razão única que tenha motivado o êxito do filme, mas é possível apontar alguns aspectos que em conjunto resultaram em algo que encantou tantas gerações. Começando pela história, que se reinventa várias vezes ao longo das quase três horas de duração, ao escalar de travessuras infantis até uma família ameaçada pelo nazismo.
À medida que uma trama se resolve e outra surge, a narrativa lhe prende, pois a acompanhamos pela perspectiva da adorável noviça. Se ela busca o melhor para as crianças, com as quais se importa verdadeiramente, torcemos para suas ações terem resultado. Quando dúvidas ressoam em seu coração, aguardamos pela decisão que lhe colocará no lugar certo. E no momento em que as soluções deixam de estar inteiramente ao seu alcance, simplesmente tememos junto com ela.
Ao cantar enquanto cuida de crianças, assim como fez ao interpretar Mary Poppins, Julie Andrews prova que pessoas diferentes podem desempenhar um papel semelhante. Enquanto a babá que desceu das nuvens num guarda-chuva possuía uma postura formal, por mais que fosse muito gentil, aqui temos uma noviça que, tal qual uma das crianças, era incorrigível. A atriz faz sua personagem combinar bem convicção e insegurança, pois mesmo consciente de estar agindo corretamente, Maria também se sente inexperiente tanto na profissão quanto nos assuntos do coração.
Christopher Plummer interpreta um pai que – ao contrário do que possa parecer – quer o bem dos filhos, mas não faz ideia de como fazê-los se comportarem sem seus métodos militares. Tendo isso em mente, uma mudança de postura um tanto rápida no meio da história passa a fazer mais sentido. Os atores nos papéis dos filhos atuam e cantam muito bem. Destaco as interpretes da filha mais velha Liesl, Charmian Carr, e da mais nova Gretl, Kym Karath. Cada uma a sua maneira, elas expressam a inocência e a doçura requeridas pelas personagens.
Indo além daquilo que é dito pelos personagens, tanto de forma verbalizada como através de seus respectivos comportamentos, muita coisa nos é expressada através de aspectos como a fotografia, que nos afasta de Maria para mostrar como aquela residência era enorme. Logo em seguida, quando a protagonista entra em um salão, fica claro que a grandiosidade da luxuosa casa era tomada por um enorme vazio e escuridão, num silêncio quebrado apenas pelo apito do Capitão Von Trapp.
Os figurinos também expressam muito sobre os personagens e suas transformações. A simplicidade da noviça, que chega ao novo trabalho usando uma roupa recusada até mesmo por quem recebia doações, contrasta com os vestidos luxuosos da baronesa interpretada por Eleanor Parker.
Na ausência do pai, as crianças aderem a simplicidade ao trocarem sua indumentária inspirada em uniformes da Marinha por um tecido que era usado como cortina. Posteriormente, roupas típicas da região passam a vesti-las. Mais perto do fim, o amarelo brilhante utilizado por Maria, ao retornar de uma viagem, dá lugar ao casaco escuro usado em um momento preocupante.
Mas todos esses aspectos não teriam o mesmo brilho sem a música. Ela é a chave que destranca a magia da história. As agradáveis canções permitem que os atores, em especial a Julie Andrews, expressem o melhor de seus trabalhos. Quando eles cantam, suas movimentações fazem a fotografia valorizar ainda mais os detalhes da ambientação. E assim, desde a primeira cena e através do som da música, uma jovem de braços abertos conquista um lugar especial no coração de quem ama o cinema.