No passado, um homem causou uma grande destruição no mundo com sua loucura. Desde então, as Aes Sedai, mulheres com poderes mágicos, se preparam para evitar a volta do “Dragão Renascido”. Agora, ao acreditarem que ele possa já ter retornado, elas procuram averiguar qualquer possível ameaça. Empenhada em sua busca, Moiraine (Rosamund Pike) chega até uma região onde pode estar a reencarnação de Telamon.
Trinta e um anos após a série de 12 livros de Robert Jordan começar a ser publicada, “A Roda do Tempo” inicia sua trajetória como uma obra audiovisual. A história começa no pequeno e simpático povoado de Dois Rios, onde a harmonia é quebrada com a chegada dos Trollocs, bípedes monstruosos que invadem violentamente o local causando a morte de muitos moradores. Recém-chegada ao vilarejo com seu guardião Lan Mandragoran (Daniel Henney), Moiraine intervém e impede um desastre maior.
Entendendo que as criaturas também estavam buscando o Dragão Renascido, ela reúne os quatro jovens que podem ser a reencarnação de Telamon e parte com eles, uma vez que a permanência no local só atrairia mais destruição. A partir daí, somos imersos em um mundo de culturas e paisagens diversas, onde acompanhamos uma jornada de aventuras, magia e muitos perigos.
Um dos pontos fortes dessa produção é a ambientação. Os caminhos dos personagens apresentam desde regiões desérticas até áreas congeladas. As frequentes mudanças de vegetação explicitam como é longo o percurso para a Torre Branca, local onde as Aes Sedai se reúnem e os jovens podem ser avaliados com segurança.
Nota-se um ótimo trabalho em conjunto das equipes de direção de arte, efeitos visuais e fotografia. Mesmo com lugares muito diversos, tranquilos ou sombrios, povoados ou em completo abandono, quase sempre há bastante autenticidade visual em cena. Vale pontuar que inicialmente a maneira como a magia se apresenta causa certo estranhamento, por parecer um pouco artificial, mas logo o espectador se acostuma a isso e esses efeitos passam a fazer sentido.
A ambientação também é apresentada através de outros elementos como os figurinos. Nesse aspecto, se destacam as roupas das Aes Sedai, pois além de mais luxuosas que as demais, elas distinguem os diferentes grupos e a hierarquia de poder dentro da organização. A trilha sonora que transmite um clima de mistério e aventura também ajuda a nos imergir nesse mundo.
Outro ponto forte da série é seu elenco, a começar pela Rosamund Pike (Garota Exemplar). Ao interpretar a Moiraine, ela nos apresenta uma personagem serena, confiante e madura. Essa mesma segurança também é vista no Lan Mandragoran através da atuação do Daniel Henney (O Chamado de Xangai). Juntos, eles fazem a parceria de seus personagens ser coerente, pois possuem uma personalidade parecida.
Já dentre os jovens atores que interpretam aqueles que podem ser a reencarnação de Telamon, a característica mais comum entre seus personagens é a desconfiança. Entretanto, cada um expressa isso de uma forma. Vivido por Josha Stradowski, o Rand possui um perfil mais questionador. Já o Mat é quieto e age em silêncio, o que lhe deixa mais vulnerável. Quando o rapaz sofre com as consequências disso, o ator Barney Harris expressa bem a transformação pela qual ele passa.
Além deles, o outro rapaz do grupo é o Perrin. Encenado pelo ator Marcus Rutherford, sua principal particularidade é carregar consigo uma culpa por algo que acontece logo no começo. Apesar de possuir um pouco do poder de canalização, a Egwene (Madeleine Madden) é insegura e mais suscetível a confiar na Moiraine.
O contrário ocorre com a Nynaeve (Zoë Robins), uma Sabedoria que inicialmente não parte com o grupo, mas desconfia da Aes Sedai. Destacam-se ainda outros dois atores: Kate Fleetwood que vive uma rival da protagonista e Álvaro Morte (La Casa de Papel) que interpreta um homem tomado pela loucura e que acredita ser a reencarnação do Telamon.
Durante a jornada até a Torre Branca, a trama sabe trabalhar bem a dúvida do espectador sobre qual dos jovens seria o Dragão Renascido, pois a todo momento um deles está dando motivo para desconfiarmos. Ainda que os episódios terminem deixando bons ganchos para o posterior, os capítulos geralmente começam apresentando personagens novos que de algum modo vão interferir na história, o que mantém a narrativa sempre com alguma novidade. Todavia, há um personagem específico que ganha relevância no final da temporada, mas que é muito mal introduzido na trama.
Mesmo crendo que um dia a Roda do Tempo irá fazer seus parentes e eles próprios reencarnarem, os personagens não veem a vida como algo que possa ser desperdiçado. Eles lutam por ela com todas as armas que têm em mãos, as vezes com uma força que nem sabem que possuem.
Uma vez que isso é bem estabelecido, causa estranhamento a passividade de um personagem no último capítulo, enquanto todos os demais estão lutando. Muito bem editado e cheio de fatos simultâneos, o desfecho flerta com a grandiosidade, mas não tem a coragem necessária para alcançá-la. A última cena cria certa curiosidade pelo que está por vir, mas “A Roda do Tempo” corre o risco de ficar girando em círculos nas próximas temporadas.