Poucas horas após participar de um debate no qual pleiteava sua reeleição, o prefeito de Gotham foi morto. Encontrado pelo filho dele, o corpo de Don Mitchell Jr. continha a seguinte frase: “chega de mentiras”. Pouco a pouco, à medida que aprofundam a investigação em uma parceria incomum, o comissário James Gordon e um homem conhecido como Batman descobrem que as principais autoridades da cidade estão envolvidas com os mafiosos da região.

Depois do Homem-Morcego ter filmes próprios dirigidos por Tim Burton, Joel Schumacher e Christopher Nolan, Matt Reeves assume a missão de criar as suas versões de Gotham e do Batman para um novo longa-metragem. Autor do roteiro em parceria com Peter Craig, o diretor nos imerge numa trama na qual o protagonista não se destaca somente por sua força, habilidade de lutar e capacidade de sumir repentinamente.

Isso porque esse é essencialmente um filme de detetive, no qual a inteligência é a principal arma para prevalecer. Uma vez que agora o grande vilão é o Charada, os crimes, enigmas e pistas seguidas pelo protagonista conduzem suas ações ao longo da trama. Essa condição na qual o Batman se encontra é ótima para narrativa, pois coloca o herói numa posição de vulnerabilidade, na qual sua postura quase sempre precisa ser reativa.

Porém, há uma personagem que permite ao Batman estar um passo à frente: a Mulher-Gato, vista por ele como um caminho para chegar ao Charada, ainda que eles sequer se conheçam. Isso porque, graças a suas conexões com o submundo do crime, a jovem tem acesso ao local onde o poder e a máfia se encontram.

O que enfraquece a ótima narrativa é o desfecho. Aparentemente, houve uma decisão por aderir a fórmula que a Marvel tem utilizado nos finais de seus filmes, nos quais sempre precisa haver uma grande luta, num cenário onde a população fica em perigo e as cidades sofrem grandes danos.

Essa escolha é ruim porque destoa daquilo que o longa-metragem vinha sendo, uma história onde o herói e o vilão agiam motivados pelos traumas que carregavam. Por mais de duas horas, a obra mostra um Charada que somente desejava afetar o sistema que lhe marginalizou. Não é construída nenhuma motivação para que ele transforme a população em seu alvo final.

Em relação ao protagonista, aqueles que duvidavam da capacidade do Robert Pattinson de interpretá-lo tiveram uma surpresa. A escolha do ator para viver esse Batman que o Matt Reeves buscou apresentar foi muito acertada, pois ele soube demonstrar como o herói ainda está muito quebrado pela perda dos pais. Esse novo Bruce Wayne não é um galã recluso que faz sucesso quando aparece, mas um rapaz que se sente tão deslocado da sociedade que vê na fantasia do herói a sua versão preferida.

Além do Pattinson, o elenco conta com outras ótimas atuações. Zoë Kravitz vai bem tanto nas cenas de luta, como na construção da personalidade intempestiva da Mulher-Gato. Paul Dano faz um Charada que é tão insano ao ponto de quase ficar irritante. No papel de um Alfred mais apto a ajudar o Batman no combate ao crime, Andy Serkis vive uma versão do personagem que é bem diferente daquela que o Michael Caine apresentava, mas que ainda preserva a ternura pelo rapaz que ajudou a criar.

Ao viver o Pinguim, o ator Colin Farell aparece irreconhecível graças ao ótimo trabalho de caracterização e maquiagem. Nesse filme, o lado glamouroso de Gotham fica de lado, pois a ambientação está de acordo com os locais por onde o Batman transita na maior parte do tempo, nos quais o abandono é visível. A ótima trilha sonora de Michael Giacchino também contribui na imersão nesse clima sombrio.

Por fim, já projetando o futuro desse novo Batman, Matt Reeves provou que possui totais condições de conduzir bem as próximas produções. Seu trabalho foi despretensioso e não buscou recontar aquilo que já foi mostrado inúmeras vezes, algo necessário para quem lida com um personagem que já existe há mais de oitenta anos. Caso ele continue trazendo tramas condizentes com seus vilões, saiba desenvolver o protagonista com base nos acontecimentos deste filme e traga um desfecho à altura da narrativa, então teremos algo grandioso nos próximos anos.