Um jovem quer ir à guerra lutar pelo seu país. Um desejo legitimo, mas que se torna irrealizável quando descobrimos que o rapaz em questão é Steve Rogers (Chris Evans). Sua aparência franzina lhe faz ser vítima de constantes surras nos becos do Brooklyn, em Nova York. Ainda assim, ele insiste em querer tornar-se um soldado, mesmo diante de recorrentes reprovações do Exército. Até que o Dr. Abraham Erskine (Stanley Tucci) resolve aceitá-lo com um propósito especial: ser cobaia num experimento para fortalecer os soldados e mudar os rumos do conflito.

“Capitão América: O Primeiro Vingador” foi lançado nos cinemas em 2011 e nos apresenta o surgimento do clássico personagem dos quadrinhos. Também o insere no mesmo universo cinematográfico dos personagens que, no ano seguinte, estrelariam “Os Vingadores”. Kevin Feige, produtor responsável pelos filmes da Marvel, escolheu para esse longa o diretor Joe Johnston, dos clássicos “Querida, Encolhi as Crianças” (1989) e “Jumanji” (1995).

Sob a direção dele, ao darem vida ao roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely, as equipes de direção de arte, figurino e efeitos especiais nos ambienta bem nos anos 1940, através das roupas, cenários, estética gráfica e carros da época. Ao criar máquinas para os ambiciosos projetos dos dois lados do conflito, o filme apresenta equipamentos totalmente analógicos que realmente aparentam ser daquele período. Junto com o visual do momento, o clima de tensão e patriotismo vivido durante a Segunda Guerra Mundial é bem inserido no início da história.

Ainda no começo, nós assistimos ao Steve Rogers franzino. Ou melhor: ao Chris Evans em versão digitalmente reduzida. Na maior parte do tempo o artificio funcionou, mas há instantes em que o recurso causa estranhamento, como numa cena em que ele está no carro e seu tamanho está encurtado muito desproporcionalmente. Teria funcionado melhor apenas emagrecê-lo mantendo a altura real do ator.

Todo o arco narrativo do protagonista é bem desenvolvido e alterna triunfos e fracassos. Só não é perfeito pela ausência de uma cena mais próxima dele com a Agente Peggy Carter (Hayley Atwell), porque isso fortaleceria ainda mais o final dos dois personagens. Os minutos que faltaram para eles sobraram para o vilão Johann Schmidt (Hugo Weaving). Junto com o Dr. Arnim Zola (Toby Jones), ele desenvolve uma arma cujo disparo evapora os inimigos.

O filme erra ao gastar muito tempo com a elaboração do armamento e pouco com sua utilização, que fica restrita as instalações da organização Hidra, liderada por Schimidt. Não é mostrado como a arma é usada em combate ao ponto deles se sobreporem aos nazistas na guerra. E se acertadamente acompanhamos o Capitão América sendo mal aproveitado em certo momento, acrescentaria muito se isso fosse intercalado com a expansão do novo inimigo.

O elenco do filme é uma de suas forças. Chris Evans faz uma boa estreia como Capitão América, entregando o que precisa tanto em cenas de ação, como também nos momentos de desenvolvimento do personagem. Hayley Atwell acresce muito a Agente Carter, muitas vezes fazendo ela dizer com o olhar tudo aquilo que teria para falar. Destaco ainda as boas participações dos veteranos Hugo Weaving, Stanley Tucci e Tommy Lee Jones.

A trilha sonora ficou a cargo de Alan Silvestri, compositor de sucessos como “Forrest Gump” (1994), da trilogia “De Volta Para o Futuro” e de três filmes dos Vingadores. Para o Capitão América, ele desenvolveu um tema com ar patriótico que se encaixa bem no instante em que Steve passa por sua transformação, além de um momento de retorno. Entretanto, se ouvida separadamente do filme, a música não remete imediatamente ao personagem como acontece com outros heróis do cinema.

Por fim, o filme entrega uma boa história. Não desumaniza o Steve Rogers quando ele vira um herói. Não faz dele um mero cara musculoso que corre rápido e se defende bem, pois mantém a essência do jovem franzino que está abaixo da roupa e do corpo desenvolvido do Capitão América. Respeita e homenageia a origem do personagem, além de acertar no modo como apresenta sua entrada nos dias atuais.