Quando 27 pessoas morreram em um incêndio na boate Colectiv, em Bucareste, a população da Romênia não fazia ideia de que o pior ainda estava por vir. Isso porque, nos quatro meses seguintes, 37 feridos vieram a falecer nos hospitais da região, não por consequências das queimaduras, mas em virtude de infecções bacterianas adquiridas nos centros de saúde.

Diante do ocorrido, uma investigação foi iniciada por quem ninguém imaginaria: um jornal de esportes chamado Gazeta Sporturilor. E não demorou muito para que eles começassem a encontrar graves evidências. Foi descoberto que os produtos desinfetantes utilizados nos hospitais tinham seus princípios ativos diluídos. Deste modo, um bisturi higienizado antes de uma cirurgia, por exemplo, ainda poderia estar carregando bactérias.

No quarto documentário sob sua direção, Alexander Nanau foi sagaz ao acompanhar os jornalistas desde antes da publicação da primeira reportagem, na qual a fabricante é acusada de colocar em risco os pacientes dos hospitais, além do governo ser visto como negligente, por nunca ter testado a qualidade dos desinfetantes adquiridos. Como tudo isso ocorre ainda nos primeiros 20 minutos do filme, o espectador naturalmente se pergunta aonde isso vai parar.

E então fica claro o maior acerto do diretor: a capacidade reinventar sua narrativa, o que era necessário para acompanhar as repercussões da investigação. Aos poucos, se evidencia que o caso dos desinfetantes era apenas um sintoma da corrupção sistêmica na área da saúde, o que passa por indicações políticas para as diretorias dos hospitais.

A primeira pessoa a aparecer com maior destaque no documentário é o jornalista Catalin Tolontan, a quem acompanhamos não apenas nas investigações e na redação do jornal. Muito bem embasado a respeito do que apurou, ele é incisivo em entrevistas coletivas de membros do governo, além de participar de programas de TV onde faz questionamentos importantes.

Através de falas dele, o filme aborda brevemente a conduta da imprensa diante de declarações de autoridades. Quando os sobreviventes do incêndio ainda estavam sendo atendidos, o governo informou que os pacientes eram cuidados com a mesma qualidade que teriam na Alemanha. A confiança inicial dos jornalistas nesse posicionamento leva Catalin a questionar: esse tipo de afirmação deve continuar tendo crédito?

Outra figura de grande importância é Vlad Voiculescu. Após assumir o cargo de ministro da Saúde, ele passa a ser acompanhado não apenas em suas declarações públicas, mas também em reuniões a portas fechadas no seu gabinete. Ao conseguir autorização para segui-lo, o documentário mostra o avanço das investigações, agora por parte de um governante de perfil técnico que se choca com as descobertas.

Quando o documentário passa a se alternar entre os jornalistas e o novo ministro, aspectos como a insalubridade completa de um hospital são expostos de um lado, enquanto esquemas de corrupção até entre os médicos são revelados de outro. Ficamos sabendo das descobertas e reagimos junto com quem as apura, em uma narrativa que lhe deixa imerso e até um pouco perplexo, apesar do Brasil não funcionar de modo muito diferente.

Diante de pessoas que vivem uma luta árdua por justiça, em um contexto onde ser criminoso parece compensar, nos perguntamos se o esforço deles vale a pena. Então o próprio documentário responde, ao vez ou outra mostrar os sobreviventes do incêndio e familiares das vítimas. Fica claro que lutar pelo justo é o certo, pois a corrupção gera sofrimentos que não podem se repetir.