Seja qual for sua real identidade, o Coronel Tom Parker (Tom Hanks) poderia ser lembrado como alguém admirável por ajudar a levar Elvis Presley (Austin Butler) ao topo. Porém, por suas próprias decisões, acabou passando para a história como um sujeito que atrapalhou mais do que ajudou. Considerando injusto esse pensamento, já em seu leito de morte, ele relembra a trajetória que percorreu ao lado do Rei do Rock.

Essa não é a primeira vez que um filme busca contar a história de Elvis. Em 1979, o diretor John Carpenter apresentou o longa que no Brasil ficou conhecido como “Elvis não morreu”. Já em 1993, “Elvis: Nos Bastidores da Fama” buscou abordar a relação entre Presley e Parker. Porém, esses filmes feitos para TV não chegaram nem perto de ter o orçamento dessa nova produção.

Dirigido por Baz Luhrmann, o filme busca abordar a vida dessa personalidade histórica focando especialmente na relação com o empresário. A princípio, não parece ruim a ideia de colocar como o narrador uma testemunha ocular de toda carreira de Elvis. Entretanto, diante do fato de que as ações de Tom Parker foram muito danosas a Presley e sua carreira, essa decisão parece muito errada. Um longa-metragem desses é uma celebração da vida do artista. Não deveriam dar tamanho destaque a alguém que lhe prejudicou tanto. Essa narração poderia ser compartilhada com outros personagens, como a mãe Gladys (Helen Thomson) e a esposa Priscilla (Olivia DeJonge).

Ainda assim, o longa-metragem sabe resgatar bem os momentos marcantes da carreira de Elvis, como a perseguição sofrida nos anos 50 por conta de seus movimentos considerados como “perversão”, a carreira no cinema, o especial de natal no qual ele grava “If I Can Dream” e os shows em Las Vegas. Ainda que brevemente, a infância de Elvis é abordada de um modo que nos contextualiza bem nas influências musicais que ele levou para sua carreira.

Interpretando o protagonista, Austin Butler tem uma atuação histórica ao reproduzir perfeitamente o sotaque, os movimentos de dança e a personalidade de Presley. Ao cantar músicas como “Trouble”, “Suspicious Minds” e “If I Can Dream”, o resultado é tão bom que o espectador chega a suspeitar que aquela era a voz do verdadeiro Elvis. Ao viver o Tom Parker, Tom Hanks faz o primeiro vilão de sua brilhante carreira. Ele entende e expressa as contradições e preocupações daquele personagem, ao ponto de compreendermos o que motiva as atitudes ruins do coronel.

Também se destaca o ótimo trabalho de ambientação, no qual certos locais são reproduzidos com fidelidade, assim como as roupas que Presley vestia. Os figurinos e penteados das jovens apaixonadas na plateia também ajudam a nos imergir naquela época. Por mais que possua bons momentos, como ao alternar um grande show com lembranças da infância de Elvis, a edição chama muito a atenção para si, o que recorrentemente compromete a imersão e nos lembra de que estamos assistindo a um filme.

Ainda que seu falecimento já tenha acontecido há quase quarenta e cinco anos, a carreira de Elvis Presley faz com que ele seja reconhecido como um dos grandes da história da música, inclusive por quem não conhece sua trajetória com profundidade. Quando uma obra biográfica apresenta uma personalidade assim, sua principal missão é mostrar o que é que faz essa pessoa ser alguém notável.

Mesmo que não seja perfeito e possua algumas imprecisões históricas, o filme cumpre essa missão, pois mostra como Elvis foi um artista revolucionário para sua época, especialmente por ter misturado a música country com o rhythm and blues que fazia sucesso na voz dos artistas negros. Além disso, o longa-metragem não deixa de apresentá-lo enquanto um ser-humano suscetível a acertos e erros, dedicado, vulnerável e cheio de coisas para expressar.