A vida da comunidade latina que vive no bairro de Washington Heights, em Nova York, possui tristezas e alegrias. Ali há uma grande dificuldade de se ascender socialmente, seja pelas limitações impostas a quem não possui visto, como também pelo preconceito enfrentado quando alguém alcança ambientes como a universidade. Apesar dessas barreiras, eles fortalecem uns aos outros e não se deixam abater.

É lindo de se ver um lugar que reúne um pouco da enorme riqueza cultural da América Latina. Trazendo para o cinema a história da peça de teatro que é sucesso desde 2005, o diretor Jon M. Chu honra a obra criada pela dramaturga Quiara Alegría Hudes. Desde os primeiros minutos, o principal foco da narrativa é nos apresentar e valorizar aqueles que dão vida ao local. Seja através do entra e saí no mercadinho do Usnavi (Anthony Ramos) ou pelas memórias e andanças da Nina (Leslie Grace), conhecemos pessoas marcadas pela alegria perante as adversidades.

Se musicais costumam ser controversos pelo fato de diálogos serem cantados, algo extremamente raro na vida real, aqui a falas em forma de cantoria são bem justificadas. Desde o começo, assistimos a história sendo contada para crianças pelo Usnavi, o que dá sentido à sua apresentação de uma maneira lúdica.

Como não poderia deixar de ser, muito da força do filme está em suas canções. Alex Lacamoire e Bill Sherman uniram-se a Lin-Manuel Miranda, autor das músicas da peça, para apresentarem composições que mantém um clima de esperança durante toda trama, por mais que certos eventos da história não sejam alegres. Dentre as 17 faixas da trilha sonora, entendo que se destacam “In The Heights” (que também é o título original do filme), “Piragua”, “Paciencia y Fe”, “Alabanza” e “Carnaval Del Bairrio”.

Através dessas e outras boas músicas, a obra não é nada entediante, inclusive porque as cenas ainda ganham um dinamismo maior graças a montagem, pois em muitos momentos há um ritmo de videoclipes nos cortes. A fotografia também contribui nesse sentido ao apresentar planos mais abertos, o que valoriza as ótimas coreografias e os ambientes externos de uma bela região de Nova York.

Graças ao ótimo elenco, há muita autenticidade emocional em cena, a começar pelo Anthony Ramos ao interpretar o Usnavy. O personagem principal é da República Dominicana, mas vive em Nova York desde os oito anos quando foi trazido pelo pai. Seu sonho é retornar para terra natal com a avó e o primo adolescente Sonny, um divertido garoto bem interpretado por Gregory Diaz IV.

Em seu primeiro filme, a cantora Leslie Grace dá vida a Nina, uma jovem que é o orgulho da região por ter sido aprovada na Universidade de Stanford. Entretanto, ela está decidida a não retomar os estudos após ter sido vítima de atos preconceituosos. A atriz estreante consegue passar todo o sentimento reprimido da moça que se sente uma decepção para a comunidade. Ao cantar, Leslie destaca-se principalmente na música onde apresenta a personagem e no dueto com Corey Hawkins, intérprete do Benny.

Outras duas atrizes também merecem ser mencionadas: Melissa Barreta encena a Vanessa, uma manicure que sonha em trabalhar como estilista e por quem Usnavy é apaixonado. Sua atuação vai ganhando força ao longo do filme, culminando em ótimas cenas com o Anthony Ramos no terceiro ato. Já a veterana Olga Merediz conquista o público rapidamente ao interpretar a carinhosa Abuela Claudia, uma senhora que é como uma matriarca de toda a comunidade.

Dos sotaques às bandeiras, o musical honra a origem latina dos personagens e incentiva a manutenção de sua cultura. Ao fazer isso, a obra traz leveza, esperança e união em uma época onde isso é tudo que o mundo precisa. E por fim, graças a sua qualidade e pela originalidade, o filme deve ser lembrado no futuro como uma das boas obras do gênero.