A camada de ozônio está tão furada quanto um queijo suíço. Por conta disso, o mundo ficou exposto a muita radiação e as temperaturas ultrapassam os 60º C. A comida se tornou escassa e a humanidade entrou em colapso. Dentre os remanescentes estão Finch (Tom Hanks) e seu cachorro Goodyear. Lutando para sobreviver, ele cria um robô para lhe ajudar e cuidar do animal na sua ausência. Agora, educar essa inteligência artificial será uma tarefa ao mesmo tempo árdua e divertida.
Conhecido pela direção de alguns episódios de séries como “Game of Thrones” e “Dr. House”, o britânico Miguel Sapochnik nos traz para uma vivência intimista em meio a um contexto distópico. Nessa história que se passa em um futuro não muito distante, seguimos os personagens em sua busca por um lugar seguro, pois a permanência na região onde eles viviam tornou-se impossível.
Inicialmente, a obra tinha duas tarefas a cumprir simultaneamente: a primeira era nos apresentar ao ambiente hostil que se tornou a Terra, onde fortes tempestades de areia podem surgir repentinamente e a busca por abrigos é permanente. A outra era nos mostrar quem era o Finch e como ele enfrenta essa realidade. Ao realizar bem essas duas incumbências, a narrativa já começa apresentando instantes de risco ao protagonista e conquistando o espectador.
De maneira acertada, o roteiro escrito por Craig Luck e Ivor Powell não tenta responder de imediato a todas as perguntas que temos em mente. Ao fazer isso, eles não apenas permitem que o início possua um bom ritmo, como também fortalecem o desenrolar da história, uma vez que essas respostas chegam através de questionamentos do robô.
Aliás, esse personagem é muito bem desenvolvido ao longo de todo filme. Inicialmente preocupado com atividades mais simples como aprender a andar, ele logo demonstra ser muito mais que uma máquina com respostas rápidas e automáticas. Ao ir aprendendo sobre a vida com o Finch, ele possui momentos de reflexão, além de buscar ter planos que vão além daqueles que motivaram sua criação.
O modo como o Finch acompanha e lida com isso expressa muito sobre quem é esse personagem. Em certos instantes, notar que a inteligência artificial possui uma maneira literal de compreender aquilo que é dito gera riso. Todavia, a inexperiência do robô cria situações perigosas, o que somado ao contexto crítico acaba gerando uma irritação no homem.
Assim como em “Náufrago” (2000), onde também estava sozinho na maior parte do filme, Tom Hanks desenvolve um personagem que aprende a conviver com a solidão. Só que ao contrário da vez em que interagia com a bola de vôlei Wilson, agora diante de um robô consciente, a atuação dele não representa apenas um personagem, mas a própria humanidade, muitas vezes obstinada e bem humorada, mas que também possui fragilidades físicas e mentais.
A medida em que se apresenta esse mundo vazio e afetado pela nova realidade climática, algumas incongruências aparecem. Honestamente, nessa altura dos acontecimentos, não creio que ainda fosse possível encontrar locais abandonados onde fosse possível obter alimentos. Além disso, causa estranheza ver aquelas estradas desertas parecerem tão limpas, enquanto o entorno está tomado por areia.
No mais, essa não é uma obra pretenciosa, mas é entregue um resultado admirável. Indo além do drama e da ficção científica ao apresentar instantes cômicos e de ação, o longa mostra como a jornada é mais importante que o resultado, valoriza a experiência humana ao colocar o Finch na condição de mestre, além de trazer temas como propósito e confiança.