Os bárbaros germânicos foram derrotados. Maximus (Russell Crowe), principal general do Império Romano, está seguro de que o processo de expansão territorial foi concluído. Ele é o homem de confiança do Imperador Marcus Aurelius (Richard Harris), que decide torná-lo seu sucessor em detrimento do herdeiro natural Commodus (Joaquin Phoenix). Contrariado com a decisão, o filho mata o monarca, além de mandar assassinarem Maximus e toda sua família. O líder militar sobrevive, mas acaba escravizado como um gladiador. Agora ele busca uma chance de ficar diante do homem que arruinou sua vida.
Essa premissa por si só já atrai sua atenção, mas o sucesso de “Gladiador” vai muito além de sua história. Lançado em 2000 e dirigido por Ridley Scott, o filme lhe transporta para o Império Romano. Vai ao campo de batalha, onde os soldados enfrentam os inimigos quase no corpo a corpo. Depois mostra um vilarejo, no qual pessoas escravizadas, animais exóticos e alimentos são comercializados no mesmo lugar.
E quando chega a Roma, aquela cidade é exibida em seu auge, evidenciado especialmente no Coliseu, ainda intacto, em toda sua grandiosidade. Além dos cenários, esse clima é muito bem expresso também através da ótima trilha sonora. O consagrado compositor Hans Zimmer e a cantora Lisa Gerrard transformam o sentimento das cenas em uma musicalidade de tom épico, acrescendo ainda mais peso aos momentos vivenciados pelo protagonista.
A história idealizada por David Franzoni, que roteirizou o enredo junto com John Logan e Wiliam Nicholson, traz como personagem principal alguém que não existiu na realidade. Além de suas características próprias, como a perseverança e a alta capacidade estratégica, o gladiador também reúne peculiaridades de algumas figuras históricas.
Uma das inspirações é Tibério Pompeu, um general da confiança de Marcus Aurelius e com quem a filha dele casou-se depois de ficar viúva. Há também Maximus da Hispânia, um homem que só viveria 200 anos após a época mostrada no filme, mas possuía o mesmo nome, região de origem e, assim como protagonista, buscou chegar ao topo do poder romano.
Ao nos levar ao século II, a narrativa apresenta tanto contextualizações corretas, como distorções históricas. Commodus de fato não era bem visto pelo pai, mas mesmo assim foi nomeado por ele como seu sucessor. E ao contrário do que é mostrado, Marcus Aurelius não pretendia encerrar o Império e retornar aos tempos republicanos. O local de sua morte condiz com aquilo que é mostrado, mas causas naturais culminaram no falecimento e não uma ação assassina do filho. Também não há relatos de uma relação incestuosa entre Commodus e Lucilla.
Inserindo um protagonista fictício em um contexto real, o filme busca nos fazer crer que se Maximus Décimus Meridius tivesse existido, a realidade daquela época teria sido com os acontecimentos da obra cinematográfica. A jornada dele prende sua atenção desde o início, pois quando não há ação vemos algo sendo tramado ou personagens tendo suas personalidades expostas. Além disso, o desfecho da história é bem construído ao longo de todo filme.
Russell Crowe desenvolve um protagonista resignado e seguro da própria força, capaz de manter a postura e a mentalidade de um general, ainda que vivendo como um escravo. Mais do que isso: ele ressignificou a figura do lutador romano no imaginário popular, pois hoje ao imaginarmos um gladiador, Maximus logo vem à mente. Sua atuação foi recompensada com um Oscar de Melhor Ator, num ano em que concorreu com ninguém menos que Tom Hanks, indicado pela atuação em “Náufrago” (2000).
Também é brilhante a interpretação de Joaquim Phoenix, que faz o vilão Commodus ser notado como alguém mimado, inseguro e covarde. Essas três características são vistas a cada cena do personagem, mas o ator expressa isso sempre de maneiras diferentes, através de fúria, choro, manipulação, necessidade de aparecer bem diante do povo e sua birra em frente aos senadores.
Ao nos apresentar essa trama unindo ação e drama durante o Império Romano, o longa-metragem faz o resgate do gênero Épico Histórico, antes visto como esgotado por Hollywood, após sucessos como “Ben-Hur” (1959) e “Spartacus” (1960). Essa retomada não só propiciou a reconstrução da Roma Antiga, agora disponível através da computação gráfica, como abriu caminho para produções como “Troia” (2004) e “300” (2007).
Muitos podem ver “Gladiador” como uma história de busca por vingança, mesmo porque o próprio Maximus expressa isso como seu desejo. Entretanto, esse é um sentimento muito pequeno para aquilo que vemos em cena. Creio que esse seja um filme onde a busca do personagem por fazer aquilo que considera justo é uma questão de honra. O protagonista está sozinho em uma jornada que não é solitária, pois é pelo filho, a esposa, o Imperador de quem ele era servo leal e a população da Roma que tanto idealizou.