Após passar vinte anos presa, Ruth Slater (Sandra Bullock) agora está fora da cadeia. Porém, isso não faz dela uma mulher livre, pois sempre será reconhecida como aquela que matou um policial. Enquanto tenta construir uma nova vida, ela busca autorização para retomar o contato com a irmã que tinha cinco anos na ocasião. Ao mesmo tempo, os filhos do xerife falecido agora querem vingança.
Dirigido pela alemã Nora Fingscheidt (Transtorno Explosivo), “Imperdoável” se ambienta em Seattle e nos arredores da cidade. Ao longo de sua trama sobre a ressocialização de uma ex-presidiária, a obra fala sobre o convívio com um estigma permanente, o peso de nossas escolhas e a possibilidade ou não do perdão. Também toca em outros temas relevantes na sociedade dos Estados Unidos, como ordens de despejo por falta de pagamento e a facilitação do acesso as armas.
A narrativa se divide em três núcleos: o primeiro é formado pela Ruth e aqueles que a cercam, principalmente os colegas de trabalho e seu agente de liberdade condicional. O segundo é a família que adotou Katherine (Aisling Franciosi) e que escondeu dela as cartas enviadas pela irmã. E por fim, também acompanhamos os irmãos Whelan, filhos que desejam vingar-se pela morte do pai.
No começo e também no final, a obra possui uma simultaneidade um tanto forçada em acontecimentos importantes, como a soltura da Ruth justamente no dia onde a irmã sofre um acidente de carro. Além disso, a construção do clímax é um tanto artificial, inclusive por não ser mostrado o instante que motiva um importante gesto de uma personagem.
Em sua atuação, Sandra Bullock demonstra algo difícil de se expressar, mas que era precisamente aquilo que a ex-presidiária precisava expor: uma fragilidade durona. Se externamente a Ruth parece estar calejada e inabalável, por dentro ela ainda sente um pesar por tudo que ocorreu. Além disso, a atriz entrega diferentes reações como fúria, tristeza e perplexidade sempre com a intensidade que marca a personagem.
Ao longo de todo o filme, a Sandra desaparece. Não vemos ali alguém que já assistimos tantas vezes, pois enxergamos somente aquela mulher que tenta remendar os cacos de sua vida. Em um dos momentos onde isso fica mais visível, enquanto interage com Viola Davis, Bullock exterioriza muito bem algo que causa sofrimento a sua personagem. Por sua vez, sua consagrada colega de cena também contribui bastante com esse instante, apesar desse papel extrair muito menos do que ela pode oferecer.
Inicialmente, a montagem colabora com a trama, principalmente ao apresentar aos poucos os fatos que desencadearam a prisão de Ruth, por meio de memórias que vem à mente dela. Porém, especialmente no final, a edição se sobressai tanto que acaba prejudicando a narrativa, ao tirar o espectador do local onde está seu interesse e o levando para onde não há nada sério ocorrendo.
Quando os créditos sobem, provavelmente a maioria dos espectadores pensa: “ok, foi um bom filme”. E de fato é bom, pois acompanhamos uma realidade dura que não é mostrada todo dia, os personagens quase sempre possuem motivações legítimas e se veem diante de conflitos autênticos, além da Sandra Bullock apresentar uma ótima atuação. Só que o longa-metragem poderia ter sido excelente, se o desenrolar da trama e seu desfecho fossem melhor desenvolvidos.