Ativista dos direitos civis e primeiro ator negro a receber um Oscar de Melhor Ator, Sidney Poitier faleceu na noite dessa quinta-feira, 6. A informação foi divulgada nessa sexta-feira, 7, por Fred Mitchell, Ministro das Relações Exteriores de Bahamas. Não foram divulgados detalhes sobre a causa de sua morte.
A trajetória de vida
O mais novo entre sete filhos, Sidney Poitier nasceu em Miami no ano de 1929, enquanto sua família de Bahamas visitava os Estados Unidos. Crescido no país caribenho enquanto o local ainda era uma colônia britânica, ele se mudou para Nova York aos 16 anos, onde trabalhou lavando pratos e mentiu a respeito de sua idade para servir na Segunda Guerra Mundial. Ao retornar um ano depois, ele ingressou no American Negro Theatre, onde inicialmente não foi bem aceito pela plateia em virtude de seu sotaque. Esforçado, ele progrediu em suas atuações e passou a ter papéis na Broadway.
Em 1950, o ator conseguiu seu primeiro personagem em Hollywood no filme “O Ódio é Cego”, onde interpretou o Dr. Luther Brooks. A performance lhe rendeu convites para outros trabalhos como em “Sementes de Violência” (1955). Três anos depois, ele atuou em “Acorrentados”, numa trama onde Tony Curtis e ele viveram dois fugitivos que precisavam relacionar-se bem para evitar serem capturados. Juntos, os dois atores concorreram ao Oscar por esse longa-metragem. Cinco anos depois, graças ao seu trabalho em “Uma Voz nas Sombras”, ele retornou a premiação, mas dessa vez para receber sua estatueta e tornar-se o primeiro homem negro a ganhar um Oscar de Melhor Ator.
Sua carreira também foi marcada por filmes como “Quando Só o Coração Vê” (1965), “Ao Mestre, com Carinho” (1967), “No Calor da Noite” (1967) e “Adivinhe Quem vem para Jantar” (1967). Seu último trabalho como ator foi em 2001 em “Construindo um Sonho”, um filme feito para TV. Entre 1972 e 1990, ele também teve uma carreira como diretor de nove longas-metragens, tendo atuado também como ator em cinco dessas obras. Pela relevância de seus serviços ao cinema, ele recebeu um Oscar Honorário em 2002. Esse momento pode ser assistido no vídeo abaixo:
Em 2009, por sua “indelével marca na cultura americana”, ele recebeu do então presidente Barack Obama a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior condecoração civil dos Estados Unidos. Sem dúvidas, o sucesso dele ajudou a abrir portas para as gerações seguintes de atores negros. Todavia, seu legado não surge apenas de seus trabalhos no cinema, mas também de sua atuação como um ativista pelos direitos civis ao lado de seu grande amigo Harry Belafonte. Em 1967, Martin Luther King Jr. disse a respeito de Sidney Poitier: “ele é um homem de grande profundidade, um homem de grande preocupação social, um homem que se dedica aos direitos humanos e à liberdade”. Casado por 45 anos com Joanna Shimkus, Sydney Poitier teve seis filhas.
A repercussão da morte
Uma das primeiras manifestações sobre a morte de Sydney Poitier veio da atriz e apresentadora Whoopi Goldberg. Ela declarou: “Se você quisesse o céu, eu escreveria no céu em letras que chegariam a trezentos metros de altura. Ao mestre, com carinho. Sir Sidney Poitier, descanse em paz. Ele nos mostrou como alcançar as estrelas. Minhas condolências à família dele e a todos nós também”.
Em um comunicado, Oprah Winfrey disse: “para mim, a maior das ‘Grandes Árvores’ caiu: Sidney Poitier. Foi uma honra tê-lo amado como mentor. Amigo. Irmão. Confidente. Professor de sabedoria. A maior consideração e louvor por sua vida magnífica, graciosa e eloquente. Eu o estimava. Eu o adorei. Ele tinha uma alma enorme que sempre guardarei com carinho. Bênçãos para Joanna e seu mundo de lindas filhas”.
O ator Billy Dee Williams afirmou: “você era uma alma incrivelmente bela e gentil que mudou a vida de tantos, e um herói para todos. O mundo era um lugar muito melhor porque você estava nele, sentiremos sua falta”. A atriz Octavia Spencer falou sobre o dia em que eles se conheceram: “ele me disse que esperava grandes coisas para mim. É relevante ouvir essas palavras de um pioneiro transformador como você! Obrigada, senhor Poitier!!”. Lenda do basquete, Magic Johnson postou: “um grande amigo, aprendi muito observando Sidney e como ele se portava com tanta graça e classe. Que ele descanse em paz. Cookie e eu enviamos nossas orações a toda a família Poitier!”.
Em um comunicado a imprensa, Denzel Washington declarou: “Foi um privilégio chamar Sidney Poitier de meu amigo. Ele foi um homem gentil e abriu para todos nós portas que estavam fechadas há anos. Que Deus abençoe ele e sua família”. Ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama publicou: “por meio de seus papéis inovadores e talento singular, Sidney Poitier sintetizou dignidade e graça, revelando o poder dos filmes para nos aproximar. Ele também abriu portas para uma geração de atores. Michelle e eu mandamos lembranças à sua família e legião de fãs”.
Primeira atriz negra a ganhar um Oscar de Melhor Atriz, Halle Berry publicou: “meu caro Sidney, uma grande parte da minha alma chora com a sua morte. Em seus noventa e quatro anos neste planeta, você deixou uma marca indelével com seu talento extraordinário, abrindo caminho para que os negros fossem vistos e ouvidos na plenitude de quem somos. Você foi um pioneiro icônico; a sua foi uma vida bem vivida. Cresci idolatrando você e sempre me lembrarei do dia em que te conheci. É a única vez na minha vida em que fico sem palavras!”.
Morgan Freeman disse: “Sidney foi minha inspiração, minha luz guia, meu amigo. Envio amor para Joanna e sua família”. Instituição responsável pelo Oscar, a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas Hollywood publicou: “Sidney Poitier, o primeiro ator negro a ganhar o Oscar de Melhor Ator, morreu aos 94 anos. Poitier quebrou barreiras e foi uma inspiração duradoura que promoveu o diálogo racial nos Estados Unidos por meio de sua arte. Poucas estrelas de cinema tiveram ou terão a influência que Poitier teve dentro e fora das telas”.