A morte do Superman (Henry Cavill) deixou um planeta em luto, mas não paralisou os problemas da vida. Bruce Wayne (Ben Affleck) ainda carrega a culpa de um conflito desnecessário. Diana Prince (Gal Gadot) segue distante de Themyscira. Arthur Curry (Jason Momoa) tem toda uma comunidade para ajudar. Barry Allen (Ezra Miller) quer tirar o pai da prisão e Victor Stone (Ray Fisher) tenta adaptar-se a sua nova realidade. Mas tudo isso torna-se pequeno quando Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman, Flash e Cyborg passam a ter uma grande ameaça para enfrentar.

Apresentando essa mesma premissa de 2017, mas com a promessa de entregar algo bem melhor, Zack Snyder agora possui uma versão de “Liga da Justiça” para chamar de sua. O lançamento ocorre após um movimento na internet – do qual o próprio diretor fez parte – pedir por uma edição do filme aprovada por ele, o que não aconteceu anteriormente devido ao seu afastamento causado por uma tragédia familiar.

Tendo em vista que esse é um conteúdo em grande parte já conhecido – reeditado a partir da suposição de que a visão do diretor o melhoraria – torna-se inevitável não o analisar sob uma perspectiva comparativa, na qual avaliamos se uma nova versão do filme foi ou não uma boa ideia. Assim, é preciso focar em três aspectos que foram os principais alvos de alterações.

O primeiro diz respeito aos próprios personagens, tanto no que ficou inalterado, como em cenas onde houveram trocas, acréscimos ou retiradas relevantes. O Superman tem um pouco mais de tempo para assimilar seu retorno, cuja causa ainda é uma ação dos demais heróis. Assim, apesar da última cena de “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016) ter dado um indicio de que ele poderia ressuscitar sozinho, sua volta segue sendo bem menos heroica do que poderia ser.

A trajetória do Batman não é alvo de grandes alterações. Acertadamente é cortada uma ideia besta que ele havia tido na versão original, na qual o Bruce Wayne põe um rastreador no casaco do Aquaman. Porém, continua sem fazer sentido o fato dele não colocar o Batmóvel no automático em um momento da batalha final.

Na jornada da Mulher-Maravilha, a principal mudança é na opinião sobre a ressurreição do Superman, agora quase consensual. Incomoda o fato dela não se colocar contra essa ideia, pois ainda era válido seu argumento sobre os heróis não saberem qual seria o comportamento do Clark Kent revivido. Além disso, não faz sentido ela não conseguir lutar de igual para igual contra o Lobo da Estepe (Ciarán Hinds), sendo uma personagem conhecida pela força equivalente à do Superman.

Cyborg e Aquaman possuem grandes alterações em sua apresentação ao público. O primeiro ganha mais tempo e conhecemos bem quem o rapaz era antes do acidente. Entretanto, o filme perde foco quando ele começa a ouvir uma gravação. Também é melhor explicada a origem do comportamento pouco amistoso do Aquaman, mas há instantes onde, sem que nada esteja acontecendo, se gasta um tempo com o personagem só para nos lembrar que ele está no filme.

A maioria das alterações que dizem respeito ao Flash são acertadas. Em sua primeira cena, o personagem é apresentado de uma maneira incrível. Além disso, no filme original, o Flash sempre ficava em câmera lenta, desperdiçando a rapidez que ele traz como sua principal característica. Agora, há momentos onde o vemos naquela que é a velocidade normal do ponto de vista dele, na qual os demais é que estão lentos.

Enquanto grupo, a Liga da Justiça reduz sua dependência do Superman, o que valoriza os demais. Agora, cada um deles possui um papel importante no desfecho da batalha final. Quem também tem mais tempo para apresentar-se é o Lobo da Estepe. Deste modo, conhecemos mais suas motivações e a origem da devoção dele pelo poderoso DarkSeid.

Depois dos personagens, o segundo aspecto que merece ser analisado em detalhes é a edição do filme, pois ela culminou em exageradas quatro horas de duração. Antes do lançamento, se especulou que essa versão na verdade seria uma espécie de minissérie, devido ao fato do longa-metragem ser dividido em capítulos. Mas não se trata disso, pois se fossem como episódios, os trechos teriam outro ritmo e entregariam pequenas tramas dentro de uma grande narrativa, o que não ocorre.

Várias partes dispensáveis e que anteriormente haviam sido cortadas agora surgem. Precisamos mesmo ver a presumível reação das crianças ao serem salvas pela Mulher-Maravilha? Ou vê-la em um papo aleatório com o Alfred (Jeremy Irons) sobre como fazer um chá? Todavia, também assistimos a partes previamente retiradas e que mereciam ficar, como a sequência da entrada dos heróis em um centro de pesquisas comandando pelo pai do Cyborg.

O fato é que tudo é bem mais lento do que deveria. E assim, somente depois de uma hora e meia, o Batman encontra-se com o Flash e a Mulher-Maravilha vê o Cyborg. Gasta-se um tempo enorme, por exemplo, com um flashback da antiga batalha que uniu humanos, amazonas e atlantes. Já a cena onde o Coringa (Jared Leto) aparece é muito avulsa na narrativa. Por mais que sempre seja sempre legal vê-lo discutir com o Batman, claramente o vilão foi inserido para criar um assunto a mais na divulgação do filme.

Em alguns momentos, talvez para não haver muita repetição com a versão original, simplesmente trocam alguma gravação boa por outra com um diálogo mais fraco. Algumas dessas mudanças chegam a afetar o desenvolvimento de personagens. O Flash, por exemplo, anteriormente estava mais inseguro por estar começando sua vida como super-herói. Agora ele simplesmente parece que já nasceu pronto, o que lhe desumaniza um pouco.

O terceiro e último ponto a ser levantado diz respeito ao visual do filme. O tom mais sombrio que retira as cores vivas da versão original é acertado, pois é bastante condizente com um tema bastante abordado no filme: o luto. O preto na roupa do Superman foi muito debatido quando trailers eram lançados, mas a obra consegue mostrar que a cor era sim adequada para o retorno do herói.

O que não faz sentido é o aspecto do filme em 4:3. É verdade que há o intuito de preservar o que é mostrado nas partes de cima e de baixo da tela, trechos captados graças a filmagem em IMAX e que seriam cortados em uma dimensão convencional. Entretanto, barras laterais em um material repleto de efeitos visuais trazem a constante sensação de que algo foi cortado. Lançada para TVs, notebooks e smartphones, a obra deveria ter sido adequada à essas mídias.

É prazeroso ver uma narrativa ser contada com um olhar diferente, mas se apresentada de forma exageradamente longa, ela logo te cansa. O novo visual e a grande melhora na batalha final até deixam uma boa impressão, mas o Zack Snyder gasta muito tempo com pouca história.