Enquanto grande parte da equipe segue hibernando, Buzz Lightyear, a Comandante Hawthorne e um novato fazem o reconhecimento de um planeta até então desconhecido. Rapidamente, eles se veem em risco diante de plantas e insetos enormes que os atacam. Durante a tentativa de fuga, a nave se choca com uma montanha, o que gera a quebra do cristal de hipervelocidade. Agora, todos estarão presos naquele mundo até que o Buzz consiga dar um jeito de tirá-los de lá.

Co-diretor de “Procurando Dory” (2016), Angus MacLane faz em “Lightyear” seu primeiro trabalho como único diretor. Também é dele a história desenvolvida junto com Matthew Aldrich e Jason Headley. Juntos, eles assumiram uma tarefa que não chega a ser nova, uma vez que o personagem já havia sido apresentado como um astronauta na série animada “Buzz Lightyear do Comando Estelar: A Aventura Começa”.

Porém, dessa vez, a proposta foi desvinculá-lo do boneco do Andy ao apresentar uma aparência um pouco diferente, além da inserção de novos dubladores para suas diferentes vozes ao redor do mundo. Só que essa desassociação acaba sendo pela metade quando, ainda no começo, nos é dito que esse filme foi assistido pelo Andy em 1995. Dizer isso é um erro, porque torna estranho que personagens como a Hawthorne não tenham aparecido como brinquedos nas obras anteriores. Além disso, “Toy Story 2” e “Lightyear” acabam ficando com diferentes versões sobre a origem do Zurg.

Infelizmente, isso são apenas detalhes em meio a um roteiro muito frágil. Ainda no começo, não faz nenhum sentido que o Buzz fosse encarregado de inspecionar o planeta e de pilotar a nave, enquanto os demais hibernavam. Também não é convincente que eles tivessem material suficiente para desenvolver toda uma base, mas não possuíssem a redundância de um item essencial para a missão, no caso de algo ocorrer com o primeiro cristal de hipervelocidade.

Ao longo dos anos, justamente por não subestimar a inteligência do público infantojuvenil, a Pixar sempre teve roteiros onde havia coerência no enredo, o que ajudou o estúdio a também conquistar uma legião de fãs adultos. “Lightyear” quebra essa tradição ao trazer incongruências narrativas, apresentar-se como uma aventura desinteressante para os mais velhos, além de inserir um conceito da física um pouco difícil de ser compreendido por crianças menores.

A personalidade desse novo Buzz também se distingue bastante do original. Enquanto o boneco do Andy sempre valorizou o trabalho em equipe, dessa vez o personagem é introduzido como alguém centralizador, sem paciência e nem confiança nos demais. Ao longo do enredo, o roteiro sabe explorar essa nova característica. Nesse sentido, a aparição do Zurg e sua origem contribuem para o desenvolvimento do protagonista.

Como você já deve ter notado, esse é um filme passível de várias críticas. Porém, é importante enfatizar que o breve momento em que duas personagens se beijam não é um dos problemas dessa obra. É lamentável que esse longa-metragem esteja sendo perseguido e recebendo avaliações negativas por conta dessa cena. Mulheres lésbicas fazem parte da sociedade. Elas merecem ser representadas nas mais diversas manifestações artísticas. Alienar crianças da existência do amor entre pessoas do mesmo gênero não é algo aceitável no mundo de hoje.

Ainda que possua alguns instantes interessantes no começo ao brincar de “Interestelar” (2015), a obra se encerra de um modo facilmente esquecível, inclusive porque há uma cena pós-créditos que de certa forma anula parte do final. “Lightyear” até consegue entreter, divertir e passar uma mensagem inspiradora, mas de uma forma que lhe faz pensar se esse realmente é um filme da Pixar.