Quando os barcos passam e objetos estranhos caem lá de cima, a vida na superfície desperta a curiosidade do Luca. Certo dia, levado por Alberto e escondido dos pais, ele nada até lá. Ao sair da água, descobre que pode adquirir a forma de um menino humano. Só que a amizade entre os dois está ameaçada, pois a espécie deles é caçada como monstros marinhos. Além disso, os pais de Luca querem mandá-lo às profundezas do oceano para protegê-lo.
Mesmo antes do lançamento, essa história já era comparada com outras duas animações: “Ponyo: Uma Amizade que Veio do Mar” (2008), pela transformação da peixinha em uma humana, e o “Procurando Nemo” (2003), por conta do temor do Marlin de que o filho se arriscasse.
Ainda que existam essas semelhanças iniciais, o novo lançamento da Pixar se desenvolve de um modo diferente. Estreando na direção de um longa-metragem, o italiano Enrico Casarosa nos transporta para um simpático vilarejo em sua terra natal, no intuito de apresentar uma trama onde um tema importante é o medo e suas consequências.
Apesar de estar deslumbrado pela ideia de conhecer o mundo fora d’água, o Luca inicialmente teme ir até lá, pois os pais sempre apontaram isso como algo arriscado. Por essa mesma razão, o menino tem o receio da realizar qualquer coisa que pareça muito arrojada. Já o garoto Alberto possui um outro temor: a solidão. Em virtude disso, quando menina Giulia aparece na história, ele teme ser esquecido pelo amigo, o que motiva seus ciúmes.
Mas o que realmente apavora os dois é a possibilidade de serem descobertos, já que há até recompensas para os pescadores que capturarem os “monstros do mar”. Durante todo tempo, eles evitam qualquer contato com a água, uma vez que isso iria expor suas versões marinhas. Deste modo, o filme também evidencia como uma das bases do preconceito é o puro desconhecimento, pois os monstros na verdade eram duas crianças.
Visto que o verdadeiro antagonista da trama é o medo, a presença de Ercole Visconti torna-se muito caricata. Criado para representar uma ameaça numa competição importante para as crianças, o personagem arrogante é daqueles cuja derrota já é previsível desde a primeira cena. De todo modo, uma vez que o roteiro acerta ao não ter medo de apresentar dificuldades aos garotos, o vilão metido acaba sendo mais uma das provações enfrentadas por Luca, Alberto e Giulia.
O processo de transformação pelo qual os personagens passam, ao saírem da água, facilmente poderia parecer algo esquisito e pouco crível, mas os animadores souberam fazer isso de um modo convincente e belo. Seja na terra ou no mar, o filme é um espetáculo visual ao criar lindas paisagens, nos ambientar bem pelos cenários da história, além de exaltar a imaginação infantil quando o Luca tem alguns devaneios.
Na hora de apresentar um desfecho, a obra possui dois momentos. No primeiro, acerta em cheio e entrega uma bela mensagem. Só que depois, no intuito de gerar um instante emocionante, os roteiristas tomaram uma decisão equivocada. Em se tratando da infância, só há um único destino para o qual todos devem embarcar.