Em 1995, o adolescente Assane Diop recebeu uma notícia que transformaria para sempre sua vida: seu pai havia sido encontrado enforcado num aparente suicídio, em uma prisão de Paris, após ser acusado de roubar um colar que pertenceu a Rainha Maria Antonieta. Após 25 anos, a dúvida sobre o que realmente aconteceu ainda intriga o homem. Inspirado por Arsène Lupin, personagem dos livros de Maurice Leblanc, ele decide investigar a verdade e roubar o famoso colar.

Ainda que as atitudes do protagonista sejam baseadas em páginas do final do século retrasado, este não poderia ser um personagem mais atual, pois Assane Diop é extremamente hábil em usar a tecnologia em suas ações. Todavia, aquilo que mais lhe marca é a capacidade de fazer o que quiser e escapar com tranquilidade. Para isso, o homem de origem senegalesa se caracteriza e age conforme as situações pedem, sempre com uma agilidade quase mágica para conseguir o que precisa.

A história de Assane Diop é contada numa permanente alternância entre passado e presente. Os fatos da adolescência, quando ele é interpretado por Mamadou Haidara, são mostrados em flashbacks que nos ajudam a compreender melhor a origem e as motivações do protagonista. Entretanto, depois de alguns episódios essas idas ao passado cansam, pois já conhecemos bem o personagem e apenas desejamos ver um bom desfecho para sua jornada.

Na maior parte do tempo, Omar Sy interpreta o homem que se inspira em Lupin. Conhecido pelo público brasileiro especialmente pelo filme “Intocáveis” (2011), o ator entrega novamente um personagem muito carismático, algo fundamental para Assane buscar obter sucesso em suas aventuras. Somente um grande ator poderia fazer alguém que é tão astuto em criar várias identidades e construir relações com tamanha facilidade.

Mas nem tudo que diz respeito ao protagonista é acertado. Mesmo nos levando tanto ao passado, a série ainda não mostrou como ele adquiriu tamanha habilidade com a tecnologia, algo importante para deixar suas ações mais críveis. Em outros momentos, o roteiro subestima seu personagem principal ao lhe fazer cometer erros juvenis que ele não cometeria, de acordo com a alta sagacidade apresentada anteriormente.

A escolha do elenco para os demais personagens provou-se bastante acertada, especialmente dentre os atores veteranos. Intérprete de Gabriel Dumont, tenente da Polícia Regional de Paris, Vincent Garanger entrega uma atuação excelente ao ser confrontado pelo protagonista sobre seu papel na condenação do pai dele. Ao interpretar a jornalista Fabienne Beriot, Anne Benoît é ótima ao dar vida para uma senhora desacreditada com vida e que encontra uma oportunidade de exercer a atividade para qual é vocacionada.

A série sabe dividir-se bem em vários núcleos. Um deles é o da família Pellegrini, de onde partiu a acusação sobre o pai do personagem principal. Há também o grupo dos investigadores da polícia que buscam descobrir quem é Assane Diop e qual seu paradeiro. Por fim, o núcleo formado pela ex-esposa Claire (Ludivine Sagnier) e o filho Raoul (Etan Simon), com quem o protagonista busca estabelecer uma boa relação, apesar de recorrentes momentos de ausência.

Passando levemente por temas difíceis como racismo, colonização europeia na África e até mesmo a influência do dinheiro sob a atividade jornalística, a primeira parte de série alcança seu desfecho apelando pra uma simultaneidade de acontecimentos muito artificial, mesmo porque um dos personagens envolvidos estava ocupado com outra situação.

Ainda assim, “Lupin” entrega um início bom o suficiente para conquistar um grande público e gerar expectativa pelo que há por vir. Mas se quiser continuar agradando essa audiência, a série precisará se reinventar. Para isso precisará evitar um grande número de novos flashbacks e entregar um roteiro capaz de nos convencer tanto quanto o protagonista envolve outros personagens. Potencial para isso não falta.