A crítica a seguir contém informações sobre acontecimentos de “Lupin – Parte 1“
Sempre hábil em manter tudo sob seu controle, Assane Diop (Omar Sy) se vê em um raro momento de vulnerabilidade: seu filho Raoul (Etan Simon) foi sequestrado. Além disso, agora identificado pelo policial Youssef Guedira (Soufiane Guerrab), ele pode acabar preso. Enquanto isso, o magnata Hubert Pellegrini (Hervé Pierre) acredita ter a situação sob suas rédeas, mas o homem inspirado em Arsène Lupin não pretende deixá-lo impune por muito tempo.
Cinco meses após o lançamento da série, a Netflix lançou a continuação de “Lupin”. Durante esse período, os espectadores alimentaram a expectativa criada pelo final da primeira parte. Uma vez que o Assane sempre agiu pensando muito à frente dos demais, como ele se sairia ao ser encurralado? De que modo explicaria a motivação de suas ações? Seria possível ele se aliar a polícia contra o Pellegrini?
Só que diferente do que ficou subentendido, a trama não se reinventa. Possuir o controle talvez seja a maior especialidade do protagonista, mesmo quando ele se vê algemado. Tudo parece muito fácil para o Assane, mas isso não nos tira o prazer de ver suas façanhas. Pelo contrário. Sua astúcia diverte o público que assiste a quem o persegue ficar inerte e surpreso.
A narrativa continua entrelaçando os fatos do presente com as vivências da adolescência dele, no intuito de mostrar como as memórias inspiram seus planos na atualidade. Em alguns trechos, esses flashbacks acabam quebrando o ritmo da trama principal, pois demoram para apresentar a relação entre circunstâncias das duas épocas. Já próximo ao final da série, há uma sequência onde a edição utiliza bem um momento do passado, pois fortalece uma aventura que o protagonista torna a vivenciar.
Enquanto “Lupin” faz questão de exibir em detalhes as fontes de inspiração do seu protagonista, a série segue sem mostrar como ele adquiriu a habilidade de usar recursos tecnológicos a seu favor. Além disso, não vemos a origem de seu ótimo desempenho em lutas corporais, tão cruciais contra os capangas do Pellegrini.
Omar Sy continua perfeito ao dar vida ao personagem. Além de emprestar seu carisma ao Assane, ele transmite autenticidade em cenas onde o roteiro abusa de nossa vontade de crer na história. No começo do segundo episódio, instante onde o protagonista está assustado com algo presenciado pouco antes, o ator demonstra bem o raro momento de desespero daquele homem.
Ao interpretar o filho Raoul, o jovem Etan Simon tem sua atuação em maior destaque, uma vez que o personagem é sequestrado. Suas reações de medo, incredulidade e revolta são condizentes com aquilo que o rapaz é forçado a viver e ouvir. Quem também aparece bastante é Antoine Gouy, por dar vida ao amigo Benjamin Ferel. Ao lado do protagonista tanto em momentos de calmaria, como em cenas de correria, o personagem diverte por não ser tão sagaz quanto o Assane.
Um dos pontos fortes de “Lupin” está no bom uso das locações em Paris. Se na primeira parte o Louvre foi importante na história, o retorno utiliza bem outros lugares como o Museu de Orsay, os arredores do Arco do Triunfo, o Teatro Châtelet e até mesmo as catacumbas da Cidade Luz.
Na crítica da primeira parte, escrevi que o retorno de “Lupin” precisaria “entregar um roteiro capaz de nos convencer tanto quanto o protagonista envolve outros personagens”. Isso ocorre em alguns momentos, como numa situação muito bem planejada pelo Assane e que deixa o público boquiaberto, pois o fato ocorria diante dos olhos dos espectadores sem que percebêssemos.
Só que também há momentos de incoerência, como em uma decisão tomada pela Clarie (Ludivine Sagnier), ex-esposa do protagonista. Em outro trecho, no último episódio, o roteiro pede que o público acredite que uma situação passe sem ser vista, quando algo do tipo certamente seria notado por terceiros. Por momentos assim, a série perde um pouco de seu brilho, ainda que o Assane Diop siga surpreendendo o espectador.