A trágica perda do filho ainda não foi superada por Mare Sheehan (Kate Winslet). Ela raramente fala sobre o assunto e esconde essa dor de si mesma, principalmente ao voltar suas atenções para o trabalho como detetive. Entretanto, nem todos enxergam o empenho dela, já que há um desaparecimento sem solução há um ano. Quando surge a notícia do assassinato de uma adolescente, ela precisa provar sua capacidade de descobrir quem cometeu o crime.
Sob a tutela dela, uma vez que a nora ainda tenta se livrar do vício em drogas, o neto Drew (Izzy King) também é foco de sua atenção. Vivendo com sua mãe e a filha adolescente em uma casa próxima a residência do ex-marido, Mare ainda se vê diante da possibilidade de encontrar um novo amor. Deste modo, a trama não se restringe a investigação, pois aborda a vida pessoal da protagonista e daqueles mais próximos, cujas ações e decisões podem afetá-la de alguma forma.
Unindo uma boa história de detetive com o drama familiar, a trama de “Mare of Easttown” foi idealizada e escrita por Brad Ingelsby, em seu primeiro trabalho para TV. A obra é apresentada em sete capítulos de uma hora cada. Diretor de todos os episódios, Craig Zobel nos ambienta bem na cidade no interior da Pensilvânia (EUA), daquelas onde quase todos se conhecem.
Já que a narrativa foca na conduta da protagonista perante as situações, a série não poderia deixar de contar com uma grande atriz. Kate Winslet dá a sua personagem uma postura durona, mas não por ela ser severa e sim porque foi calejada pelas pancadas da vida. Ao mesmo tempo, ainda que as vezes lhe falte paciência, a detetive é uma boa amiga para aqueles que precisam de sua ajuda.
Há momentos onde a intempestividade fala mais alto, enquanto em outros instantes a Mare apanha em silêncio, por saber respeitar a dor do outro. Em todas essas ocasiões, as reações da atriz se adequam ao que se espera da personagem, uma mulher que nem sempre lida com as coisas da maneira correta, mas mantém a cabeça erguida e não se permite abater.
No ótimo elenco, alguns se destacam: intérprete do jovem detetive Colin Zabel, o ator Evan Peters ajuda seu personagem a ser um bom contraponto da Mare. Enquanto ela parece ressentida até mesmo com a presença de outro investigador, o rapaz está sempre em busca de manter uma relação agradável.
As ações da filha Siobhan Sheehan também servem como parâmetro comparativo para a protagonista, pois a moça busca pensar no irmão e lhe prepara uma homenagem. Ela é vivida por Angourie Rice, uma jovem atriz que alterna bem entre cenas românticas e de momentos difíceis na família. Também gosto bastante das participações de Enid Graham, no papel da mãe da desaparecida Katie Bailey.
Mesmo antes do assassinato da adolescente, a trama já começa a apresentar informações que posteriormente serão relevantes. Já no final, nenhuma ponta fica solta, pois até mesmo situações aparentemente pouco relevantes — daquelas que ficam esquecidas pelo espectador — podem retornar como uma peça importante no quebra-cabeça da investigação.
Simultaneamente, a série também aborda o consumo de drogas e suas consequências, não apenas para os usuários, como também através de seu impacto na vida de terceiros. Ao tratar do luto da protagonista, a trama tira a personagem de seus conflitos externos e volta-se para sua mente, de modo que extrai revelações sobre o passado e incentiva a busca por apoio psicológico.
Trazendo uma investigação envolvente e uma ótima personagem principal, “Mare of Easttown” termina lhe deixando com a vontade de ver uma segunda temporada, ainda que a história tenha apresentado excelentes desfechos. Sem qualquer medo de apresentar seus personagens com o máximo de humanidade, a narrativa lhe prende a atenção e te faz querer ver logo o próximo episódio.