Munique: No Limite da Guerra (2021)

Os dias felizes de estudantes festeiros da Universidade de Oxford ficaram para trás. A Europa está prestes a viver uma nova guerra, na qual os antigos amigos estão em lados rivais. Entretanto, desiludido com aquele que um dia apoiou, Paul von Hartman (Jannis Niewöhner) quer tentar entregar a Hugh Legat (George MacKay) um documento secreto com os planos de Hitler (Ulrich Matthes), no intuito de expor suas reais intenções aos britânicos, evitar um acordo que o fortaleceria e criar as condições para a destituição do líder nazista.

Quando tomamos conhecimento sobre essa premissa, nós podemos pensar: por que alguém faria um filme sobre uma tentativa de evitar uma guerra que acabou ocorrendo? Baseado no livro “Munique”, lançado em 2018 pelo escritor inglês Robert Harris, o diretor alemão Christian Schwochow tenta responder essa pergunta, pois busca mostrar o quão arriscada e significativa era para os personagens a possibilidade de impedir o conflito.

A trama relacionada a guerra se inicia a partir da Crise dos Sudetos em 1938. Na época, Hitler já havia invadido a Áustria e agora alegava que parte do território da Checoslováquia pertencia a Alemanha. Deste modo, crescia a percepção de que um conflito na Europa era iminente. Ao mostrar pessoas deixando seus lares e até a distribuição de máscaras de gás, o filme vai bem ao nos ambientar nesse clima de medo da população.

Nesse contexto, Hugh Legat é apresentado como um dos membros da equipe de Neville Chamberlain (Jeremy Irons), primeiro-ministro que buscava desesperadamente garantias de que os alemães não pretendiam entrar em guerra com os britânicos. Apesar de fictício, o jovem secretário do premiê foi parcialmente baseado em Alfred Leslie Rowse, um historiador que teve uma breve carreira política e que foi amigo de Adam von Trott zu Solz, o diplomata alemão que inspirou a criação do Paul von Hartman.

No elenco, George MacKay (1917) entrega uma atuação séria, mas se sai bem principalmente quando o Hugh se vê na necessidade de atuar quase como um espião, algo que não estava acostumado. Jannis Niewöhner (Mudo) vai muito bem quando seu personagem se exalta e resolve dizer o que pensa, em especial numa cena da época em que o Paul ainda via no Hitler uma figura admirável. Intérprete do líder nazista, Ulrich Matthes (Uma Vida Oculta) até atua bem, mas não é suficientemente parecido com o maldito. Por sua vez, Jeremy Irons (Liga da Justiça) é totalmente convincente ao viver o Chamberlain.

Me agrada o conceito de eventos históricos serem apresentados do ponto de vista de pessoas comuns e não dos chefes de Estado. Todavia, esse é um momento onde o Neville Chamberlain é um personagem que merecia ser o foco da trama. Isso porque sua postura nesse pré-guerra é bastante controversa. Existem aqueles que defendem que ele jamais deveria ter acreditado em qualquer garantia dada por Hitler. Entretanto, também há quem diga que ele buscava ganhar tempo para os britânicos se prepararem para o conflito. Apresentar aqueles dias sob a perspectiva dele teria sido mais interessante.

Ao escolher contar a história de Paul e Hugh, o filme consegue gerar tensão sobre qual será o destino deles e expor o quão repulsivo era o nazismo. Contudo, ao mesmo tempo que mostra um encontro histórico pouco lembrado, o longa-metragem peca ao não ter uma grande cena pelo qual será lembrado. E ainda que trate de uma guerra que estava só começando, o arco dos personagens não precisava terminar como um episódio de uma série que está longe de acabar.