Ainda em chamas, o passado de Stanton Carlisle (Bradley Cooper) fica para trás. Praticamente mudo, ele chega a um parque de diversões no qual rapidamente se torna um empregado. Aos poucos, estreita relações com quem trabalha lá, se apaixona e aprende as técnicas para enganar pessoas durante apresentações. Mas sua ambição logo lhe levará a querer sair dali para enganar gente mais poderosa.

Quatro anos após lançar “A Forma da Água”, longa-metragem com o qual venceu nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor no Oscar em 2018, Guillermo del Toro está de volta aos cinemas com “O Beco do Pesadelo”. Escrito por ele em parceria com Kim Morgan, o roteiro é baseado no livro “O Beco das Ilusões Perdidas” (1946), obra literária que também inspirou o filme “O Beco das Almas Perdidas” (1947).

Ambientada entre o final da década de 30 e o começo dos anos 40, a trama está sempre acompanhando seu protagonista. Ao observar características físicas, postura, tom de voz, dentre outras particularidades, ele é um homem extremamente habilidoso em descobrir aspectos da história de alguém, como desavenças familiares e perdas recentes. Tudo isso, é claro, contando com a ajuda de informações externas transmitidas de forma cifrada.

Antes de tornar-se esse hábil manipulador, Stanton teve com quem aprender. Em sua primeira hora, o filme apresenta personagens que se dedicam a entregar o que a plateia deseja: mentiras convenientes. Dentre eles, se destaca o casal formado pela vidente Zeena (Toni Collette) e o mentalista aposentado Pete (David Strathairn). Por meio deles, o roteiro mostra que até para ser um enganador existem limites éticos que o protagonista não está disposto a seguir.

Nesse momento ainda inicial, o longa-metragem começa a apresentar sua excelente direção de arte. Ao expor como era a vida daqueles trabalhadores e suas excentricidades, além de nos inserir na época dos fatos, a obra vai além de meramente nos situar no parque de diversões. Quando o protagonista alcança ambientes mais abastados, os cenários e os figurinos rapidamente nos mostram o quanto sua vida melhora, além de reforçarem a posição de poder de alguns personagens.

Graças ao bom roteiro e a ótima atuação de Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela), a transformação do Stanton entre esses dois momentos não é brusca. Pouco a pouco, o protagonista que começa comedido, mas sempre teve uma postura ambiciosa, vai se tornando cada vez mais ganancioso. A relação dele com a Molly ajuda a transmitir essa mudança gradativa, uma vez que a personagem da Rooney Mara (Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres) sempre mantém uma postura humilde, na qual o único desejo é que eles sejam felizes juntos.

Nesse elenco com nomes consagrados, Willem Dafoe (O Farol) interpreta o Clem Hoatley, um homem que ao mesmo tempo é gentil, exótico e inescrupuloso. Toni Collette (O Sexto Sentido) expõe o quanto sua personagem se dedica, mas também já parece cansada da vida itinerante. Quando o protagonista ascende socialmente, conhecemos a psiquiatra Lilith Ritter. Vivida por Cate Blanchett (Blue Jasmine), a mulher expressa uma postura misteriosa, na qual entender o trabalho do Stanton não parece ser sua única intenção.

Ainda que boa parte do desfecho do protagonista seja um tanto previsível, ao apresentar uma história que sabe conquistar sua atenção, por ter uma fotografia que utiliza bem as cores, além de uma cenografia caprichada e ótimas atuações, “O Beco do Pesadelo” será lembrado como mais um dos grandes filmes de Guillermo del Toro.