O cotidiano do baterista Ruben (Riz Ahmed) e da vocalista Lou (Olivia Cooke) é simples. Morando em um trailer, eles vivem viajando para fazer apresentações de heavy metal. Repentinamente, o músico sofre uma significativa perda de sua audição, mas insiste em continuar tocando. Pouco tempo depois, ele fica sem ouvir nada no meio de um show, abandona o palco e precisa começar uma nova vida.

Quem nunca se viu diante de uma situação absolutamente inesperada, dessas que chegam e mudam nosso futuro? Por isso, não é difícil se identificar com o protagonista de “O Som do Silêncio”. Sua primeira reação diante da nova realidade é a mais humana possível: a negação. Pode parecer estúpido ele contrariar a recomendação médica, ao continuar exposto ao barulho, mas do ponto de vista de quem vê a música como uma parte fundamental de sua existência, a decisão fazia sentido.

Assim, desde o início, o diretor Darius Marder nos ambienta em um contexto onde há muita autenticidade nas ações. Ainda sonhando em realizar um procedimento médico que lhe devolva a audição, Ruben vai para um abrigo que acolhe pessoas surdas. Por lá, o rapaz encontra outra mentalidade, na qual a surdez não é vista como uma deficiência que necessite de cura. Deste modo, ele fica diante de duas possibilidades: lutar para recuperar a antiga vida ou recomeçar do zero construindo novas relações.

Interpretando o personagem que se vê nessa situação, Riz Ahmed transmite bem o impacto que aquele homem tem ao ter sua vida transformada do dia para noite. Ele acresce ao Ruben um olhar determinado e muitas vezes também carregado de raiva, incredulidade e medo. Para o início do filme, o ator aprendeu a tocar bateria como um profissional, apresentando a agilidade e o nível de entrega de um músico dedicado. Além disso, também decorou diálogos na língua de sinais americana, utilizada em momentos importantes para o protagonista.

Presença frequente ao longo da trama, Paul Raci interpreta o Joe, um veterano de guerra que perdeu a audição no Vietnã e agora lidera o abrigo. O ator imprime a postura séria requerida por seu personagem, alguém que busca pensar no coletivo e que possui convicções firmes a respeito de como a surdez deve ser encarada. Olivia Cooke, por sua vez, nos apresenta uma moça que se desespera ao ver o namorado negando a realidade. Ainda que aparecendo pouco, ela vai bem ao fazer uma Lou que age com firmeza, mas sem deixar de demonstrar afeto.

A concepção sonora foi fundamental para o sucesso do longa-metragem. Visando nos inserir na vivência do protagonista, em muitos momentos escutamos o mundo da mesma forma que o Ruben. Quando isso ocorre, imediatamente sentimos um pouco da angústia e da impotência de alguém que perde a audição repentinamente. De forma acertada, o filme alterna entre o som ambiente e a percepção do personagem, o que nos permite saber aquilo que ele deveria estar escutando e ter uma dimensão de sua perda auditiva.

No desenvolvimento da narrativa de “O Som do Silêncio”, um risco real era a obra acabar caindo em uma monotonia, pois era necessário mostrar a nova rotina seguida pelo protagonista. Felizmente isso não ocorre, pois é interessante observar as reações que o Ruben passa a ter diante de novas vivências, como a distância da namorada e o aprendizado da língua de sinais.

Ao apresentar alguém que perde algo considerado essencial em sua vida, nos questionar e até apontar qual caminho seguir diante desse tipo de vivência, o filme é bem sucedido ao nos gerar uma identificação com o protagonista. Ademais, a obra consegue alcançar em um nível pessoal quem estiver vivenciando dias difíceis, além de poder ajudar em processos de autoaceitação.