Quando os confrontos ocorridos em um único protesto levam oito homens para o banco dos réus, nós poderíamos erroneamente crer que eles possuem a mesma ideologia política, faixa-etária, origem socioeconômica e modo de manifestação. Entretanto, basta conhecer um pouco de cada um deles para notar que há somente uma razão que os une: a busca pelo fim da Guerra do Vietnã.
“Os 7 de Chicago” (2020) é um filme escrito e dirigido por Aaron Sorkin, que anteriormente já havia roteirizado “Questão de Honra” (1992) e “A Rede Social” (2010), obras onde também ocorrem julgamentos. Reunindo um ótimo elenco e baseada em fatos reais, a história tem como matéria-prima um julgamento que ocorreu em 30 audiências, ao longo de seis meses, em um tribunal de Chicago.
Dada duração do caso, não seria improvável que ele fosse apresentado de maneira tediosa. Porém, assistimos a uma narrativa dinâmica, claramente escrita de uma maneira que favoreceu a montagem, o que trouxe para história um ritmo muito bom. Desde os primeiros minutos, quando os personagens estão sendo apresentados, o texto de Aaron Sorkin e a edição de Alan Baumgarten caminham juntos, inicialmente visando apresentar as diferenças entre os réus.
A apresentação das cenas de conflito nas manifestações ocorre de forma inteligente, quando o julgamento já está ocorrendo, nos fazendo primeiro simpatizarmos com os protagonistas, entender seus motivos e ideias, para só então sabermos o que realmente ocorreu. Deste modo, nós espectadores não sentamos no júri para decidir se eles são culpados ou inocentes. Nossa cadeira é ao lado dos réus, pois compramos a briga deles, por mais que internamente eles sejam tão diferentes.
Nos bastidores, assistimos ao esforço do advogado William Kunstler (Mark Rylance) em manter seus clientes sob uma mesma conduta. Uma difícil missão, afinal eles sequer tinham um consenso sobre aquilo ser ou não um julgamento político. No tribunal, onde precisa provar que os réus não iniciaram qualquer conflito contra a polícia, seu adversário é o jovem promotor federal Richard Schultz (Joseph Gordon-Levitt).
O caos na defesa é evidente. Durante as audiências, os líderes do Partido Internacional da Juventude Jerry Rubin (Jeremy Strong) e Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen) caçoavam do juiz. Ao mesmo tempo, o líder do Panteras Negras Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II) reclamava recorrentemente sobre o fato de seu advogado não estar presente. Diante de tudo isso, aos poucos a intransigência do juiz Julius Hoffman (Frank Langella) explicita a sua posição tendenciosa.
Eddie Redmayne dá vida ao líder estudantil Tom Hayden, que busca demonstrar seriedade para com as causas que defende. Junto com Sacha Baron Cohen, ele protagoniza uma ótima cena em que seus personagens discutem sobre como a postura do outro prejudicaria o avanço de ideais progressistas. Por sua vez, John Carroll Lynch interpreta David Dellinger, um homem experiente cujo julgamento é assistido pelo filho pequeno. O filme é muito hábil em estabelecer as características de seus personagens, justamente para mostrar como aqueles dias afetaram esses homens.
Dita tantas vezes por manifestantes contrários a guerra, a frase “o mundo inteiro está vendo” também serve para o filme, pois o interesse pela obra hoje é mundial. A razão para isso é simples: o direito a um julgamento justo e as liberdades de expressão e manifestação ainda são cerceados, mesmo que de maneira não-oficial, em muitas partes do planeta.
E se o sentimento de injustiças ocorrendo é global, ao contar a história de pessoas tão diferentes unidas por uma causa, o longa-metragem destaca-se por despertar no público o desejo por justiça verdadeira. Exceto pela montagem excepcional, o filme é simples e não parece ter a pretensão de destacar-se nas premiações, mas por ser uma obra tão relevante e com atuações cativantes, algumas indicações ao Oscar não seriam uma surpresa.