ATENÇÃO: Este texto contém revelações do enredo de “Rua do Medo: 1994 – Parte 1” e “Rua do Medo: 1978 – Parte 2”.
No pequeno povoado de Union, repentinamente tudo começou a dar errado. Querido por todos, o pastor da região parece perturbado, os animais apresentam um comportamento estranho e os alimentos ficaram estragados. Procurando uma causa para a maldição que tomou conta do lugar, a população acaba rotulando duas jovens como bruxas, em virtude de seu relacionamento.
A trilogia “Rua do Medo” chega ao fim nos levando até o século XVII, no mesmo terreno onde ficava o acampamento da segunda parte. Muito daquilo que é mostrado já havia sido contado nos filmes anteriores, pois era parte da lenda sobre a bruxa enforcada e que supostamente ainda amaldiçoaria Shadyside. Entretanto, também é revelado um lado até então oculto dessa história.
Se a ida até 1978 foi através do relato de uma sobrevivente, a apresentação dos fatos de 1666 ocorre de um jeito mais sinistro. No momento em que a Deena (Kiana Madeira) une os ossos da mão com os outros restos mortais de Sarah Fier, ela passa a ter uma visão na qual se enxerga como a jovem que foi enforcada.
Além disso, muitos dos rostos que ela vê na antiga Union são os mesmos com os quais convive em Shadyside. Um exemplo é a moça por quem Sarah era apaixonada: Hannah Miller (Olivia Scott Welch) é igual a Samantha Fraser, namorada de Deena. Esse conceito transmite a ideia de que, ao longo dos anos, os fatos do passado vêm se repetindo por gerações.
Depois do segundo filme focar-se em fatos da década de 70, a atriz Kiana Madeira volta a função de protagonista. Ao dar vida a Sarah Fier, inicialmente sua atuação mostra uma personagem ainda insegura, em virtude das consequências de seus sentimentos por Hannah naquela sociedade. Posteriormente, ela expõe uma jovem convicta de que não há pecado em seu amor. Já ao fazer a Deena, sua interpretação mantém a postura de quem está decidida a não desistir de salvar a Sam.
Quando a Samantha era perseguida por assassinos sobrenaturais, ainda no primeiro filme, a Olivia Scott Welch transmitia fragilidade e resignação, pois sua personagem entendia que não teria como escapar. Agora, ao dar vida a Hannah Miller, a postura dela acertadamente é a mesma, pois na prática é como se as duas fossem a mesma personagem, em épocas e com nomes diferentes, mas com vulnerabilidades iguais.
A mais evidente é justamente a percepção delas de que a morte precoce é inevitável. Porém, a Hannah de 1666 e a Samantha de 1994 também possuem em comum a não aceitação de sua homoafetividade, inclusive por suas mães. Ao inserir esse fator comum de personagens separadas por três séculos, a trilogia explicita o quão arcaica é essa reação contra o amor entre pessoas do mesmo sexo.
Ao nos levar até Union, esse terceiro filme conta com uma bela ambientação. Se percebe como o povoado que deu origem a Shadyside e Sunnyvale era pequeno, o que implica no fato de que todo mundo se conhecia e segredos não duravam muito. Também é interessante a origem do ambiente subterrâneo já exibido na parte anterior. Por sua vez, os figurinos ajudam a nos situar na época e mostram como a vida ali não possuía luxos.
Apresentando a verdadeira história da mulher considerada uma bruxa, a ida até 1666 também é o auge da trilogia por outro motivo: a revelação do porquê Sunnyvale só prospera, enquanto Shadyside não progride. E quando o já previsto enforcamento acontece, a narrativa retorna a 1994 para que a trama seja concluída.
Nesse instante, um defeito visto na primeira parte volta aparecer: planos mirabolantes envolvendo os vilões. Nessa altura dos acontecimentos, já está claro ao espectador que o maior perigo não está no sobrenatural, mas no humano. O retorno desses personagens quase quebra o bom rumo que a narrativa tomou, mas felizmente a trilogia termina com um desfecho bem feito.