ATENÇÃO: Este texto contém revelações do enredo de “Rua do Medo: 1994 – Parte 1”.
Depois de escaparem da noite de massacre em Shadyside, Deena (Kiana Madeira) e Josh (Benjamin Flores) ainda precisam lidar com a possessão que atinge Sam (Olivia Scott Welch). Visando livrá-la dessa maldição, eles vão até a casa de C. Berman (Gillian Jacobs), a mulher que no passado sobreviveu ao morticínio ocorrido em um acampamento. Lá, ela lhes conta do horror que testemunhou.
Após a primeira parte da trilogia “Rua do Medo” apresentar várias fragilidades narrativas, a continuação toma um caminho promissor ao ir até 1978. Novamente na direção, Leigh Janiak dessa vez soube estabelecer, manter e desenvolver o tom da história. Sem querer reinventar o gênero, ela apresenta um contexto já visto em obras como “Sexta-Feira 13” (1980), onde acompanhamos jovens monitores sem nenhum juízo ou noção de perigo.
A exceção é a Cindy, personagem principal dessa segunda parte. Interpretada por Emily Rudd, a moça é focada em seu trabalho, pois possui o sonho de conseguir juntar dinheiro e ir para faculdade. Inicialmente, sua postura é tão contrastante com os demais que ela chega parecer chata, por exemplo, quando flagra um casal transando e pergunta o que eles estão fazendo.
À medida que a trama avança, se torna mais fácil afeiçoar-se a protagonista, uma vez que ela se vê em perigo. Além disso, a história soube guardar bem questões relativas a seu passado e apresentá-las no momento certo. A atriz consegue te fazer sentir cada emoção que o roteiro quer que você sinta pela personagem, seja impaciência, compaixão ou medo pelo que possa lhe acontecer.
Uma das preocupações da protagonista é sua irmã Ziggy, vivida por Sadie Sink. Conhecida por interpretar a Max em “Stranger Things”, aqui ela praticamente reprisa seu papel na série, ao fazer uma adolescente impaciente, indomável, malquista pelas colegas por ser diferente, mas carismática aos olhos do público. Uma vez que fatos ocorrem simultaneamente na noite de terror, a personagem é crucial para mostrar a reação dos monitores e das crianças.
Dentre os coadjuvantes, Ryan Simpkins se destaca ao interpretar a Alice, jovem que é o completo oposto da Cindy. Através de um olhar penetrante, tom de voz irônico e postura irresponsável, a atriz transmite a autenticidade que sua personagem requeria para mover a trama até o local onde o caos se inicia.
Já o antagonista é vivido por McCabe Slye. O ator transmite feições completamente diferentes de acordo com cada momento. Inicialmente, o Tommy é um rapaz tão certinho ao ponto de a Cindy namorar com ele. Depois, parece um tanto perturbado com algo que lhe é dito. Até que em certo instante, se torna um dos vilões apresentados na primeira parte.
Se no primeiro filme sobraram incoerências, desta vez elas se reduzem, mas ainda existem. É estranho a protagonista convenientemente seguir a Alice, contradizendo sua conduta responsável e afastando-se da garotada. Além disso, ao relatar os fatos em 1994, a sobrevivente não teria como saber certos acontecimentos que não foram presenciados por ela.
Contando com uma iluminação que ajuda a dar o clima de tensão, a história é bem ambientada no acampamento. Na área principal — onde estão as crianças — são aproveitados não apenas os locais mais importantes, como o refeitório, mas também um banheiro onde vários fatos ocorrem. Já na região mais afastada, um recinto relacionado a antiga bruxa e uma espécie de labirinto subterrâneo são intimidadores.