Duas cidades próximas vivem realidades completamente diferentes. De um lado, Sunnyvale segue prosperando e sendo reconhecida como um ótimo lugar para se morar. Do outro, Shadyside vive uma rotina de crimes terríveis, sempre cometidos por pessoas anteriormente percebidas como normais, mas que repentinamente passam a apresentar um comportamento violento.
A série de livros “Rua do Medo” já contabiliza 52 publicações, escritas pelo autor R. L. Stine, considerado o “Stephen King da literatura infantojuvenil”. Ele já teve adaptações audiovisuais de suas obras anteriormente, como na série de TV “Goosebumps: Histórias de Arrepiar”. Dessa vez, seus textos ganham vida na nova trilogia da diretora Leigh Janiak.
Nesse primeiro filme, no qual a história se passa em 1994, quatro jovens e um adolescente se veem perseguidos por ameaças sobrenaturais, relacionadas a crimes ocorridos há muito tempo. Após esse lançamento, a Netflix estreará as continuações nas duas semanas seguintes. A Parte 2 vai abordar eventos de 1978, enquanto a Parte 3 voltará ainda mais no tempo, indo até 1666.
O ponto forte do longa-metragem está no jovem elenco. Intérprete de Samantha Fraser, a Olivia Scott Welch faz sua personagem apresentar uma postura vulnerável. Um tanto confusa em seus dilemas pessoais, a moça se vê como o principal alvo daqueles que perseguem o grupo.
Além disso, a atriz se saí bem tanto em cenas onde ocorrem discussões, como em momentos de romance com a Deena, uma estudante bem representada por Kiana Madeira. Enquanto a Samantha demonstra fragilidade, sua ex-namorada age quase como uma líder do grupo, sendo capaz de se impor até mesmo quando está diante de policiais.
Ao lado dela em muitos momentos está o irmão Josh. Bem interpretado por Benjamin Flores Jr., o garoto serve como uma espécie de oráculo do grupo, graças ao seu vasto conhecimento em crimes históricos da cidade. Justamente por “conhecer o inimigo”, ele teme o que possa ocorrer. Em alguns instantes, esse receio serve como um alivio cômico na narrativa.
Sempre buscando apresentar características da época onde a trama se passa, reunindo um grupo de jovens destemidos e colocando camadas de romance no suspense, existe uma aparente inspiração na série “Stranger Things”. Entretanto, há uma certa hora onde o filme abandona o tom de aventura infantojuvenil para, repentinamente, adotar cenas com uma sanguinolência desnecessária.
A trama até se inicia de forma interessante, primeiro em uma cena no shopping com a participação especial de Maya Hawke, depois com conflitos entre estudantes das duas cidades. Só que ao avançarem na narrativa, preenchendo uma única noite com várias situações, os roteiristas sequer se deram conta que quando os personagens chegam num supermercado já deveria ter amanhecido.
Outras incoerências também são visíveis. Após perder alguém que era importante para ela, uma personagem aparece em um romance pouco depois, sem demonstrar qualquer trauma. Aqui, evidentemente, não há culpa da atriz, mas do roteiro que apresenta essa situação, além da diretora que não busca apresentar qualquer continuidade emocional. Isso sem contar a coragem sem sentido, de quem acabou de viver algo sinistro e decide continuar enfrentando o inimigo de peito aberto.
Ao terem em mãos a responsabilidade de adaptar para o cinema uma série literária bem sucedida, os roteiristas e a diretora parecem ter trabalhado sem saber exatamente que tipo de história queriam contar. As questões que ficam abertas para serem respondidas nos próximos dois filmes até despertam curiosidades, mas as fragilidades da narrativa na primeira parte são desanimadoras.