Após liderar a operação que culminou em uma grande descoberta relacionada a um cartel de drogas mexicano, a agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt) foi convidada para fazer parte de uma força-tarefa do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, por conta de sua experiência em ações táticas. Ao ingressar em sua nova função, ela se vê diante de ações ilegais, sem saber os reais objetivos da missão e nem qual sua verdadeira função no grupo.
Conhecido até então especialmente pelos filmes “Incêndios” (2010) e “Os Suspeitos” (2013), Denis Villeneuve dirige uma história onde toda desinformação vivida pela protagonista é sentida também pelo público, que segue com ela no intuito de entender melhor a operação. Em seu primeiro trabalho como roteirista, Taylor Sheridan criou uma trama na qual existem várias nuances dividindo o certo e o errado.
Nada nesse longa-metragem é melhor que a atuação de Emily Blunt, pois vemos muita autenticidade em sua personagem. Diante de ilegalidades e ao ser deixada sem informações pelos superiores, Kate Macer demonstra irritação, mas segue firme no caso para entender o que ocorria ali. Quando dificuldades colocam a agente em risco, a atriz expressa bem o sofrimento causado pelas situações.
Infelizmente, o roteiro subestima a própria protagonista, lhe levando a tomar decisões equivocadas que não são condizentes com a experiência previamente apresentada. Outro personagem subestimado é o agente Reggie Wayne, interpretado por Daniel Kaluuya. As ações dele não possuem grande influência na história, restringindo-o muito mais ao papel de pessoa de confiança da Kate.
Os chefes da operação guardam para si todo o suspense da trama. O mais misterioso é Alejandro, vivido por Benicio Del Toro, um ator sempre muito hábil em interpretar personagens com passado e motivações pouco claras. O outro é Matt Graver, vivido por Josh Brolin, que é mais moderado, mas aceita quaisquer atitudes Alejandro por conhecer suas causas.
Uma virtude do filme é a capacidade de segurar sua atenção, não só por lhe fazer querer saber o desfecho da trama, como também por ter cenas de prender a respiração. O roteiro é hábil estabelecer ainda no inicio que tudo pode ir pelos ares muito rapidamente, ainda que pareça estar sobre controle. Assim, não lhe faz duvidar de qualquer possibilidade. Inclusive algumas cenas podem ser bastante desconfortáveis para espectadores que não gostam de ver corpos.
Sob o comando do experiente Roger Deakins, a fotografia contribui para imersão, especialmente no final quando há uma operação em um ambiente escuro. Nesse instante, assistimos aos fatos através da perspectiva de agentes que enxergam através de câmeras de visão noturna. Acertadamente e ao contrário de outras obras, o filme foge de exagerados filtros amarelos para realçar o calor da região da fronteira dos Estados Unidos com o México.
Há ainda um bom uso de imagens áreas para nos ambientar nas operações, especialmente em uma sequência onde um comboio é seguido. A trilha sonora também é adequada ao não buscar chamar a atenção do espectador para si, sendo sentida ao contribuir com o clima de suspense. Por sua vez, a edição de som sabe valorizar os momentos de silêncio.
Visando nos surpreender, ao invés de conseguir um ‘uau’, o filme lhe tira um ‘então era isso? Tá bom então’. Ainda assim, é interessante assistir a uma personagem de quem sabemos o que esperar numa realidade tão imprevisível, pois a Kate Macer representa todo aquele que acredita na importância do cumprimento das leis e de valores éticos fundamentais, independentemente das circunstâncias.