Sem motorista e seguranças, Diana (Kristen Stewart) dirige sozinha em direção a Sandringham, a casa de campo da realeza britânica. Casada com Charles (Jack Farthing) há dez anos, a princesa lida simultaneamente com as traições do marido e um transtorno alimentar. Para piorar, a chegada do Natal fará com que ela precise conviver com toda a família real e suas tradições.
Dirigido pelo chileno Pablo Larraín (Jackie) e escrito pelo britânico Steven Knight (Millennium: A Garota na Teia de Aranha), o filme apresenta um recorte bastante específico da vida de Lady Di, entre a véspera e o dia seguinte ao Natal de 1991. Ainda que pareça pouco, isso é o suficiente para apresentar todo desgaste dela com o marido, a realeza e seu staff.
Ao acompanhar a princesa nesses três dias, o foco do filme é absoluto nela. Suas memórias, sentimentos, aflições, amores, ódios e sonhos possuem maior relevância que a relação com figuras como Charles e a Rainha Elizabeth II (Stella Gonet). Isso faz com que a trama também destaque alguns funcionários com quem ela interage, como o severo Major Alistar Gregor (Timothy Spall) e a amiga Maggie (Sally Hawkins).
Uma vez que a Família Real jamais cederia sua propriedade para a gravação de um longa-metragem que lhe desagrada, grande parte da obra foi filmada na Alemanha. Localizado a 27 quilômetros de Dortmund, o Castelo Nordkirchen serviu como a Sandringham House. Próximo de Frankfurt, o luxuoso Schlosshotel Kronberg foi utilizado para as cenas internas.
Essas escolhas transmitem bem o isolamento, o silêncio e o glamour no qual vive aquela família que só se vê com hora marcada. Por meio de uma fotografia que sempre utiliza uma câmera em movimento, especialmente para acompanhar a Diana, o luxo do lugar contrasta com corredores mais simples onde circulam os funcionários. Além dos cenários requintados e dos figurinos elegantes, a atmosfera do local também é expressa na trilha sonora. O filme utiliza bem o fato de instrumentistas tocarem violinos e violoncelos dentro da residência para, por meio da música, nos apresentar o peso do momento vivido pela princesa.
Ao interpretá-la, Kristen Stewart é convincente desde o começo, pois sua atuação não se restringe a reproduzir um sotaque, olhares e movimentos com a cabeça. Em um filme que busca compreender a personagem naqueles dias sombrios, a atriz transmite principalmente a solidão de alguém que estava cercada de luxos, mas não tinha com quem compartilhar suas angústias.
Vivendo o fictício Major Alistar Gregor, o ator Timothy Spall faz seu personagem duro, observador e metódico parecer totalmente plausível naquele contexto, no qual a realeza terceiriza a missão de colocar Diana nos trilhos desejados. Por sua vez, a escolha de Jack Farthing para viver o Príncipe Charles foi bastante equivocada, pois ele não se assemelha nem um pouco ao futuro rei. Selecionados para viverem William e Harry, respectivamente, os garotos Jack Nielen e Freddie Spry demonstram bem a agradável convivência dos meninos com a mãe, além da preocupação com seu bem-estar.
Por falar no Harry, recentemente foi noticiado que o príncipe ficou “incomodado com a história”. Se isso for verdade, então o diretor deve se sentir elogiado, afinal incômodo é exatamente o que o filme procura transmitir. Ao buscar entrar naquilo que um ser humano possui de mais íntimo, a sua mente, a obra pretende passar aquilo que Diana desejava e sentia naquela época.
Um exemplo disso é a cena de um jantar, no qual a princesa se vê obrigada a usar um colar de pérolas dado por seu marido, idêntico a um outro com o qual a amante dele havia sido presenteada. Ali, nos é mostrado precisamente como ela se sentia ao precisar utilizar aquilo. Ainda que não fique tão claro quanto nesse instante, em outros momentos do filme nos quais a princesa toma atitudes bruscas, a intenção é muito mais expressar aquelas que devem ter sido as intenções de Diana — no contexto em que estava inserida — do que necessariamente dizer que ela de fato tomou aquelas atitudes.
A montagem contribui muito na busca do filme em expressar aqueles dias sob a perspectiva da Lady Di. Em uma cena na qual a personagem está à beira de uma escada, a edição capricha ao mostrar — por meio de memórias — o turbilhão de emoções que a princesa vivia. Ao apresentar essa trama, o longa-metragem lida com uma história cujo final todos nós conhecemos. Porém, ao fazer esse recorte de um período bem especifico, a obra honra Diana Frances Spencer.